Nu e As 1001 Nuccias 05/04/2018Resenha do blog As 1001 NucciasJulien Dikins é uma excelente repórter morando nos EUA, mas poucas pessoas sabem o que o seu passado esconde. A primeira vez que encontramos Julien, ela está no casamento de sua irmã Suz com o policial das forças especiais internacionais Joffrey, enquanto tenta, desesperadamente, fugir dos comentários cortantes de sua mãe que a culpa por ter deixado seu ex-noivo Matt escapar.
O que poucos sabem, e praticamente ninguém da sua família, é que ela fez muita questão de deixar Matt escapar. Meses antes, ela quem terminou o relacionamento às vésperas de seu próprio casamento. Por Matt esconder um segredo que deixou marcas em Julien. Marcas físicas, abusivas, estratégicas, ao longo dos 4 anos em que ficaram juntos.
"- Ingratidão não lhe cai bem - Ele aperta meu braço com força e traz à tona a dor recente da fratura a qual eu fora exposta em nossa última briga. Sua mão em meu pescoço já sufoca, como em todas as vezes anteriores. / - Covardia também não combina com você, mas isso nunca te parou."
No mesmo dia em que terminou o relacionamento com Matt durante um passeio pelas ruas de Paris, Julien se enfiou em uma Igreja para confessar seus pecados. O pecado de ter se envolvido com tal homem. De ter deixado ele fazer tudo o que fez. O pecado de ter aguentado quieta toda a tortura física e psicológica. Estranhamente, o padre com quem se confessava, além de insistir que ela devia denunciar o ex-noivo, tinha uma voz sexy e cadenciada e era gostoso como só Deus sabia.
Infelizmente para Julien, aquela não seria a última vez em que a tentação seria posta em sua frente, colorida e em 3D. Darlan O'Hurn também era o sacerdote que realizaria o casamento de sua irmã. E continuava gostoso e desejável como o Diabo bem gostava. Louca para fugir de Paris, da família e dos olhos e conselhos do padre Darlan, Julien mal vê a festa da irmã passar.
Para piorar, Darlan era o pároco da cidadezinha de Conques, uma comuna no sul da França, para a qual Julien foi designada como repórter pelos próximos 4 meses, se quisesse mesmo assumir sua nova posição como redatora-chefe do Neil Daily. Quatro longos meses em um paraíso turístico escondido do mundo, caminho da Peregrinação a Santiago de Compostella, que precisava ser salvo de se tornar vítima do capitalismo desenfrado: seria posta abaixo para dar lugar a um resort luxuoso. A reportagem de Julien seria essencial para evitar tamanho sacrilégio, pois seria o pivô da defesa do pároco no congresso turístico francês.
"Fico em silêncio, pesando cada uma das palavras dele e buscando entender como passando tão pouco tempo ao meu lado ele já conseguira encontrar meu grande calcanhar de Aquiles: eu não possuía fé alguma em mim mesma."
Ambos, Julien e Darlan, têm de enfrentar seus novos e antigos pecados. A história de cada um os persegue. No caso de Julien, persegue de modo literal, Matt é obsessivo. E o desejo que começa calmo e passa a ser avassalador, com o tempo se torna uma paixão proibida. Mas será mesmo que um amor desses é pecado?
Bem... apesar da imensa baixa autoestima de Julien, ela é uma personagem forte. Passar por todo aquele tempo em que sofreu abusos físicos e psicológicos do cara com quem iria se casar, conseguir forças para se separar, para ficar longe, e construir uma nova vida, não é pra qualquer um. Ok, a nova vida tinha lá seus problemas, como os fantasmas ainda presentes e a perseguição do ex obsessivo, contudo, ainda assim, era um senhor rumo, uma meta.
Darlan é padre, porém muito recente e também sem muita fé em si mesmo. O seu passado o persegue tanto quanto o de Julien persegue a ela. Promessas foram feitas e ele não pretende quebrá-las. Só que Julien... o que a moça tem que mexe tanto com os brios de Darlan, que o muda, modifica e o faz questionar suas escolhas, que o queima, que o leva a querer defendê-la e a proteger?
"Eu não sabia o que acontecia comigo na presença de Julien. Eu me transformava em alguém que desconhecia, irresponsável e tão ousado. Como se eu tivesse escolhas, como se minha vida me pertencesse."
Achei o texto muito bem construído! O enredo tem bons personagens, daqueles que mexem com a gente. Um ponto interessante, é que, apesar de a história começar a se desenvolver baseada no desejo de cada um, naquele feeling todo carnal, nas chamas que fervem o sangue só de trocarem olhares, na segunda metade do livro os protagonistas se conhecem o suficiente para começar a desenvolver uma paixão mais sólida, menos sexual.
Além do polêmico caso central, o livro também fala de abuso contra mulher sem se aprofundar demais no tema. Não temos cenas exageradamente violentas, é mais sobre o que restou do abuso do que o abuso em si. É também um livro sobre romance, sobre dramas pessoais, e especialmente sobre fé em si mesmo. Não tem cenas eróticas, nem mesmo um pega desavisado. É a primeira vez que leio algo com essa temática (relação proibida pela religião) e gostei bastante.
O que pegou pra mim no livro que me fez não dar as 5 bruxinhas? Apesar de ser focado nos sentimentos amorosos, a primeira parte do livro foi toda sexual (sem sexo, saca?), então eu fiquei esperando cenas hot que não aconteceram e meio sem saber se ia rolar paixão mesmo pois demorou a desenvolver, MAS... quando surgiu, vi que foi no momento exato.
"Não pode se dedicar às coisas de Deus por um motivo tão torto quanto perder a fé em si mesmo!"
Demorei para me apegar aos personagens e para tomar partido, no entanto consegui ter opiniões desde a primeira página. A família de Julien era estranha (confesso que pensei seriamente em matar os pais dela), o padre era bem sério e tinha um linguajar muito formal para sua idade (o que acho que condiz com a formação de seminaristas, não sei como funciona) e a própria protagonista me dava nos nervos por não conseguir nem falar com o padre direito só pensando em dar uns pegas.
Fiquei sentindo falta de uma maior descrição do cenário, da cidade de Conques. Outra coisa que me incomodou foi a revisão, e isso a autora já está sabendo. Ela realmente gosta de vírgulas! XD
No geral, o final, apesar de ser o esperado, foi bem organizado, crível e muito justo. Particularmente, gostei da forma como a família dela agiu e como eles se entenderam. É uma leitura muito gostosa, bem leve, com um cenário maravilhoso que deu vontade de conhecer pessoalmente. Mais do que recomendado!
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