Nu e As 1001 Nuccias 27/11/2018Resenha Blog As 1001 NucciasNa grande São Paulo, a recessão esta forte. É difícil conseguir um emprego fixo, especialmente para Carlos e Gustavo, dois estudantes de jornalismo. Com a ajuda das amigas Camille e Rafaela, conseguem vender seus textos jornalísticos para a Revista Mensagem.
Júlia é uma moça que decide se mudar de Santa Catarina para SP a fim de conseguir encontrar seus pais biológicos. Ela se muda para um apartamento vago no primeiro andar do prédio onde Gustavo mora, para deleite do rapaz e desconfiança de Rafaela, a amiga que tem uma queda descarada pelo jovem.
"Mas existe uma qualidade inerente ao ser humano: a vontade de descobrir. Ela move pessoas por todos os cantos numa procura incessante por explicações, conclusões,"
Todos eles vivem em uma época estranha no país. Os estados do eixo sudeste-sul querem a separação do restante do Brasil. Querem dividir o país em dois, literalmente. Um plebiscito é convocado. Há fanáticos e extremistas de ambos os lados. Há o governo federal. Há a intervenção militar. E todos os amigos caem bem no meio dessa zona de guerra política.
Nós vamos ver o jovem Gustavo perder o trabalho de free-lancer para ser soldado na disputa Norte/Sul no Brasil. Veremos Júlia, a moça simpática do sul, participar da guerrilha como aliada dos rebeldes. Vamos ver intolerância, preconceito, guerra, amor e mortes.
Eu resumi pra caramba! Agora vamos ao que interessa: o que eu gostei na história? Primeiramente, a narrativa. Ela me fez imergir, afundar nas ruas de São Paulo. Apesar de pouco conhecidas minhas, o mínimo que eu já pude visitar, visualizei perfeitamente, a tal ponto que consegui andar ao lado do personagem. E o que eu não conhecia, deu pra visualizar na mente também, de tão boas e fluidas que são as descrições.
"Amores platônicos são naturalmente hipócritas. Como pode alguém viver com um sentimento tão grande sem ser capaz de contar ao outro?"
Outro ponto: a pesquisa. Ele se aprofundou na política brasileira, nos trâmites. Meus deuses, o livro tinha tanta similaridade com o tempo real em que estávamos (estamos e estaremos) que eu me perguntei se o autor contratou uma vidente para ficar ao seu lado durante a escrita do projeto. Cheguei a me perguntar o que era ficção e o que era fato, de tão precisas que eram suas palavras sobre lugares, eventos e pessoas.
Sério, Dan, me diz: tem mesmo um poema lá no obelisco? E as tumbas memoriais no subsolo? Gente, preciso voltar pra SP e verificar isso com meus próprios olhos!
"(...) o rapaz apenas ponderava nas implicações, em como Gustavo reagiria ao saber que a mulher que amava podia ser o soldado que o mataria na guerra".
Os personagens são outro item da listinha de gostei pra caramba. São pessoas comuns, amigos cheios de zelo uns pelos outros. Eles têm dúvidas, medos, enfrentam barras pesadas, tomam decisões erradas e certas, lutam por seus amores e os perdem, ora para o sistema, ora para o destino.
E os poemas? Todo o livro possui poesias que combinam com a narrativa do capítulo onde se inseriram. São poesias dos mais variados tipos, apelos, estilos. São essenciais para o conjunto da obra.
"Quanto mais os seres humanos se multiplicam / mais perdem a capacidade de dividir. / Cada vez mais batalhas se intensificam / porque não sabemos parar para ouvir."
E o final, pelas vestes de Brigith, Dan do céu, como você faz isso comigo???!! Que final foi aquele! Tão, tão... digno! Tão condizente com o livro.
Li os contos do autor e já gostava da sua escrita, mas essa me encantou. Assim, não tenho como concluir de outra forma. Esse livro é um espetáculo. Uma mistura de romance histórico e distopia nacional tão bem feita que nos perguntamos o tempo todo quando aconteceu que não percebemos ou, ainda, quando irá acontecer. Um poema de guerra é lindo e triste. É ficção e fiel. É real e distópico.
Eis que finalizo dando meus sinceros parabéns ao autor. Soube (por fontes fidedignas) que esta era sua principal obra até então, portanto, aplausos merecidos.
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