Laura.Oliveira 31/08/2023
Certas coisas poderiam ter sido melhor trabalhadas
Amor sem fronteiras é o oitavo livro da série Paixões Gregas, que acompanha a multimilionária família Stefanos. Desta vez, o livro aborda duas histórias diferentes e foi dividida em dois tomos. No primeiro, a gente segue o Ryan, um dos filhos do Nick, o qual acabou de se tornar médico e decide que fará parte do programa Médicos Sem Fronteiras. Do mesmo modo, no outro lado da história, a gente tem a Aysha, uma jovem médica que também resolve fazer parte da mesma organização após sofrer uma desilusão amorosa.
Nesse contexto, as vidas dos dois acabam se cruzando depois que a Aysha desaparece por um tempo em meio à guerra no Sudão do Sul, país para o qual ambos foram designados, e se encanta por um bebê órfão que ela ajudou a vir ao mundo. Ao ser encontrada por Ryan à beira da morte, Aysha quer ajuda para adotar o bebê Daren e sair do Sudão, mas se depara com uma série de obstáculos e isso só se torna possível quando Ryan a propõe um casamento falso para que a adoção seja efetivada. É quando ela descobre que ele é um Stefanos e, a partir daí, só lendo pra saber.
De um modo geral, eu estava muito ansiosa para este livro. Sempre gostei muito do Ryan e achava que o livro dele seria o mais interessante pelo pouco que sabia a respeito, mas adiei a leitura por um ano por ter achado o livro anterior muito cansativo. Desta vez, felizmente, eu não achei o livro tão cansativo, mas não gostei tanto quanto achei que fosse gostar, infelizmente.
Apesar de ter sido o oitavo livro da família Stefanos, esta foi a minha vigésima primeira leitura da Mônica Cristina e, pela primeira vez, ela trouxe uma protagonista negra. Era algo que eu sentia falta nas histórias dela, inclusive, mas, honestamente, a representação não foi das melhores. Se por um lado, o livro é de 2017 e até casa com o discurso superficial de um período em que assuntos assim ainda estavam ganhando destaque, por outro seria muito bom que a história fosse revisitada com as dicas de leitores sensíveis não só sobre a pauta racial, mas também sobre a pauta LGBTQIA+.
Logo quando a Aysha é apresentada e faz questão de chamar a atenção para o fato de ser uma mulher negra que se tornou médica muito jovem, eu esperava que ela fosse mostrar essa consciência e força durante todo o livro. Porém, de repente, ela passou a agir passivamente e o Ryan se tornou porta-voz da causa racial e o branco salvador. Sério, o que foi a cena do jantar? Ou a cena da boate?
Fora isso, também não curti sobre como foi abordado o personagem LGBTIQIA+. Até achei fofa a conversa com o tio para contar o que estava escondendo, mas sério que o tio heterossexual saberia mais sobre a homossexualidade do que o próprio personagem homossexual? Não faz sentido quando o personagem faz parte de uma família que tem acesso a tudo no mundo e ainda é descrito como inteligente. Em que mundo um personagem se vê gostado de alguém do mesmo gênero e não procura saber mais sobre, mesmo tendo receio? Entendo que, talvez, a autora tenha querido mostrar um lado em que o preconceito é tão enraizado que a própria pessoa tem preconceito consigo mesma, mas não ficou muito legal justamente por ser a única personagem LGBT entre uns vinte Stefanos.
Mesma coisa sobre a pauta racial. Por que só falar dela pra mostrar que o Ryan faz o mínimo e não é racista? Uma vez até seria aceitável, mas isso acontece muitas vezes e em momentos que pouco fazem sentido. A maioria deles é quando o personagem está com ciúmes, que é outra coisa que está começando a me incomodar. O ciúme era engraçado no livro do Heitor, mas se tornou apelativo no livro do Luka e inconveniente neste volume, por só surgia como uma forma de dizer que o Ryan não é racista, pois sente ciúmes da esposa negra.
Por fim, penso que o início do livro poderia ter sido melhor trabalhado. Sempre tenho a impressão de que a Mônica corre na história do casal para contar ela na primeira metade e a segunda metade acaba sendo sobre vários outros personagens da família e os principais são deixados de lado. Não dizendo que não gosto de saber do que se passa com os outros Stefanos, pois adorei os capítulos da July, do Daniel, do Harry e da Dulce. PORÉM, continuo achando que dava pra aproveitar melhor o plot da Aysha e do Ryan até para dar mais veracidade ao relacionamento dos dois, que é quase instantâneo.
No geral, acho que uma revisão do livro para rever essas coisas melhoraria muito a história. Amor sem Fronteiras é um livro com falhas, mas que, pelo apelo emocional à família, acabou me ganhando e se tornando mais bom do que ruim.