Pandora 07/08/2023Senhor! Que livro infinito! rsrs…
É um contar e recontar de memórias fragmentadas e, embora muito bem escrito, lá pela metade eu já estava satisfeita e queria partir para outra. Por isso achei um tanto cansativo.
Quando comecei, não sei se é porque fazia um tempo que não lia narrativas em português de Portugal, não me lembrava de, num livro contemporâneo, topar com algumas palavras e expressões que a Isabela usa aqui; termos que têm sentido diverso no nosso idioma ou que não usamos, apesar de existirem na nossa língua. Isso, por si só, já me animou nesta leitura.
Também o fato de que o livro tem lá sua base na vida da própria Isabela, moçambicana filha de pais que retornaram a Portugal no meio da guerra civil pós independência. A autora escreve bem e tem agilidade de pensamento e escrita.
Porém, teve uma questão que me incomodou: o fato como ela escreveu sobre pessoas pretas aqui. Frases como: “Rosnou contra os portugueses, o governo, os pretos…” - pág. 53; “Deixo-me estar olhando para o pátio e lanchando, comendo à mão como os pretos.” - pág. 129. “Se dependesse dele ainda lá andava metido em escaramuças com os pretos, que já nem nos viam bem…” - pág. 137. Um livro lançado em 2016!
Talvez, se o título fosse outro, a gente não procuraria aqui por coisas que não são narradas. A protagonista é gorda. Ponto. Ela ouve uns gracejos, a mãe fala sem rodeios que ela está gorda demais, os amigos do namorado lhe arranjam apelidos. Mas este não é o mote do livro, a gordofobia, embora ela apareça aqui e ali. Ser gorda é só uma característica que num certo ponto passa a incomodá-la a ponto de fazê-la tomar uma atitude drástica.
E por fim, a narradora passa a história inteira obcecada pelo namorado da adolescência… afe! O livro deveria chamar-se David e não seríamos enganados.