Lina DC 06/06/2018"Tudo aquilo que eu não disse" é uma obra intensa, que fala sobre os arrependimentos, a segunda chance no amor e a força para seguir em frente em meio a obstáculos difíceis.
Tudo começa no prólogo, quando uma mulher está contando a sua netinha como conheceu o seu marido. A partir daí, o leitor é transportado para uma viagem extraordinária, relatada em dois tempos diferentes da história.
O ano é 1973. Tina Craig é uma mulher de 28 anos de idade que perdeu ambos os pais e não tem mais ninguém da sua família. Casou-se há quatro anos e desde então, sua vida transformou-se em um pesadelo. Rick, o marido amoroso, tornou-se um agressor a partir da lua de mel do casal. O excesso de bebidas, o ciúme excessivo, o desemprego e os rompantes de fúria tornaram-se rotina para Tina, que volta e meia aparece com um lábio rachado, um hematoma ou algo pior. Infelizmente, Tina fica dividida entre sair desse relacionamento abusivo ou acreditar em Rick, que sempre faz promessas de que nunca mais irá levantar a mão para ela.
"-Ele só me batia quando estava bêbado.
- Aí vai você de novo... Isso torna tudo aceitável, certo?" (p. 138)
Infelizmente, o abuso doméstico é uma situação que acontece desde o início da humanidade e ainda não vemos um final feliz. Sabemos que envolve vários aspectos psicológicos, emocionais, físicos e até mesmo financeiros.
Enquanto passa por essa turbulência emocional, Tina encontra em seu trabalho voluntário uma carta lacrada em um paletó recebido para doação. Ao abrir a carta, ela constata que a mesma é datada de 1939, escrita por um homem chamado Billy para Chrissie. Intrigada pelo fato de que a carta não foi nem mesmo aberta, Tina começa a investigar a história de Billy e Chrissie.
Chrissie é uma jovem de 19 anos, filha de um médico e uma parteira. Seu pai, o dr. Samuel Skinner, é uma pessoa que se preocupa com a aparência e o status social. Isso condiz no seu comportamento familiar e nos seus atendimentos diferenciados entre os pacientes mais pobres e os menos pobres. Billy é um jovem de 21 anos que foi adotado ainda bebê e que para o dr. Skinner, não é bom o suficiente para sua filha. O médico acredita que com a convocação dos jovens para a Segunda Guerra, esse "namorico" vai terminar. Isso não significa que enquanto os dois estão juntos, ele não vai deixar claro sua opinião sobre o jovem casal.
É difícil ter um livro onde todos os personagens acabam agradando durante a leitura, mas foi o que aconteceu nesse caso. Mesmo os "vilões" da história foram bem representados e de certa forma, sabendo que sua presença era necessária para o desenvolver da trama, não deixaram à desejar.
"Tudo aquilo que eu não disse" nos faz refletir sobre o que deixamos de falar, o que deixamos para depois. É emocionante observarmos o impacto dessas palavras não ditas na vida desses personagens, pois é impossível não pensarmos nas nossas palavras não ditas. Quem nunca se arrependeu ao não falar algo?
Didaticamente, o livro é dividido em Prólogo e mais três partes. A Astral Cultural realizou um excelente trabalho de revisão, diagramação e layout. A capa, apesar de parecer simples à primeira vista, combina com o conteúdo do livro.
"Ele se inclinou para beijá-la nos lábios, e Tina estava grata pelo fato de seu homem ter voltado. Se o hálito dele não estivesse fedendo a cerveja, tudo seria perfeito." (p. 143)