Kenia 19/02/2021"Lia um pouco sempre que conseguia tempo. Me fez perceber umas coisas, sabe? Somos criadas pra facilitar a vida de vocês. Em troca, nossa vida vira uma merda."
Metrópole é uma sociedade muito machista. Lá, as mulheres foram transformadas em produto. Desde cedo, elas são educadas em casa de forma a atender às vontades dos homens, fazem cursos preparatórios para aprender a se comportar, se vestir e quando estiverem prontas, serem vendidas para uma loja onde vão ficar em uma vitrine esperando um comprador. Você é um bom produto caso siga os padrões exigidos pela sociedade como ter uma excelente forma física, ter habilidades domésticas e muitas vezes a cor da pele também entra nesse critério.
E Marina, nossa protagonista, falha em muito nesse quesito: não possui um corpo escultural e nem tão pouco possui habilidades domésticas. Mas ela é uma jovem determinada a mudar seu destino nessa sociedade. Quando seu pai a vende para uma loja por um preço bem a baixo do mercado, ela vê ali sua chance de fugir. Ela tenta conversar com as meninas que estão na mesma situação que ela na loja, porém, o que predomina ali é somente competição, ninguém é amiga de ninguém. Não há nenhum tipo de cumplicidade entre elas.
"Você acha mesmo que vai ter uma boa vida? — Disse Marina. Helen deitou-se outra vez. — É nossa melhor chance, não? Seguir as regras, mostrarmos bons sorrisos. Você odiaria ir pra algum puteiro. Ouvi dizer que nas indústrias é até pior."
As mulheres que ficam na loja têm até os 25 anos para serem vendidas, caso isso não aconteça, elas são mandadas para as Indústrias, considerado como o fim da vida para elas. Se não se comportarem na loja, ou não fizerem o que os clientes em potencial querem, elas são punidas e entram em promoção, o que acaba atraindo a compra dos cafetões da região.
Os homens de Metrópole compram as mulheres de acordo com suas necessidades: para ser sua esposa, sua cozinheira, amante, governanta, mas nunca para cargos mais altos. E Marina foi comprada por um homem muito poderoso e vai conviver com mais quatro mulheres que ele já possui.
Acompanhamos a partir daí se nossa protagonista vai seguir com seu plano de fuga e vai talvez até convencer as outras mulheres a se juntarem a ela.
Gostei da leitura, a escrita de Lucas é bem fluida, porém, por vezes rápida demais. Confesso que senti que algumas situações poderiam ter sido bem mais desenvolvidas e explicadas, mas entendo que o autor tomou uma decisão na trama que acabou funcionando na história como um todo. O final é bem corrido, mas bem surpreendente. Ainda não consigo decidir se gostei ou não.
Recomendo a leitura, pois vale muito conhecer a escrita do Lucas. Além disso, a forma como ele retrata essa sociedade machsita, não é somente ficcional, temos muito dos comportamentos descritos na trama em nossa sociedade atual.