Gramatura Alta 04/11/2018
http://gettub.com.br/2018/11/04/mas-tem-que-ser-mesmo-para-sempre/
Uma das grandes tristezas que marcam a “jornada do leitor”, é começar um livro com grandes expectativas, acreditando no potencial da narrativa pelo que já lhe foi apresentado do(a) escritor(a), e se descobrir no meio de uma história que poderia, sim, ser incrível, mas se perdeu em meio a personagens chatos, pouco carismáticos.
Sophie Kinsella é uma escritora britânica referência na nova hype de Chick-lit. Com sua escrita leve, junto a uma narrativa bem construída, a autora de DELÍRIOS DE CONSUMO DE BECKY BLOOM se tornou referência em qualidade para os leitores do gênero. Em MAS TEM QUE SER MESMO PARA SEMPRE?, novamente, esse talento é evidenciado, deixando claro que toda a fama daquela tem um motivo.
Contudo, ao mesmo tempo em que o domínio da escrita e das ferramentas da narrativa são um dos pontos fontes da obra (construção de personagens, desenvolvimento das cenas e da história), o enredo deixa a desejar.
Sylvie e Dan recebem a notícia que, com a saúde que tem, os dez anos de um bom casamento, repleto de confiança e sintonia que construíram juntos, duraria, provavelmente, mais 68 anos. E aí que o pânico surge, o “felizes para sempre” tem mesmo que ser para sempre? 68 anos são anos demais, como conseguir ficar feliz e continuar apaixonado pela mesma pessoa por tanto tempo?
Dispostos a fazer com que o casamento dê certo, os dois elaboram um plano de se surpreenderem constantemente com programas, presentes e momentos. Porém, o que parecia uma ideia maravilhosa de início, aos poucos, começa a se mostrar um pesadelo, ainda mais quando, além dos esquemas estarem dando errado, segredos do passado começam a reaparecer e questionar tudo aquilo que eles construíram juntos. Será que o mesmo casal que alguns dias atrás completava as falas um do outro com naturalidade se conhece mesmo de verdade?!
A premissa da obra é interessante, a autodescoberta e a descoberta do outro são sempre momentos marcantes, com muitas surpresas, tensões e boas risadas. De início, a ideia vende maravilhosamente bem, afinal todos queremos fazer com que um relacionamento, aparentemente perfeito, dure para sempre. Até mesmo mudar quem somos e no que acreditamos (embora haja contradições nessas ideias).
Todavia, ao longo das páginas, todo o potencial para reviravoltas e mudanças fica estagnado. A personagem principal, Sylvie, fica tão presa em paranoias, ciúmes – justificado pelo contexto da trama -, egoísmo e confusões, que a história não se desenvolve mais, tudo gira em torno desses sentimentos que começam a consumi-la. Como resultado, o ritmo da narrativa parece andar para trás de tão lento, fazendo com que a leitura se torne difícil.
Não que isso seja de todo ruim, posto que é fantástico perceber as várias camadas da protagonista e como todas elas se ajustam em quem ela é – novamente, o talento de Kinsella em construir seus personagens é nítido. Contudo, em alguns momentos, as várias camadas, antes positivas, começam a se sobrepor, beirando o exagero. A mocinha se torna cansativa, fica difícil criar empatia pelo seu sofrimento.
Paralelamente, o personagem do Dan é outro que passa pelo mesmo problema. Misterioso? Sem sombra de dúvidas! Mas apenas isso. Ao decorrer da história, suas atitudes e posturas fazem com que o leitor crie raiva dele e até mesmo deseje que protagonista o abandone, já que o mesmo parece não a merecer. Ele não tem carisma, não conquista.
MAS TEM QUE SER MESMO PARA SEMPRE? é um bom livro. Tem potencial, a premissa é curiosa, a forma com que Sophie escreve é estimulante. O final também é legal, foge de vários clichês e é realmente surpreende. Todavia, os personagens me cansaram, fazendo com que a obra perdesse muitos pontos comigo.
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