Bianca232 10/04/2019O pânico do "para sempre"Esta resenha pode conter SPOILERS!
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SPOILERS!!!
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SPOILERS!!!
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OK.
Esta resenha é menos uma resenha e mais uma opinião. Há livros que ao serem lidos me sinto pessoalmente ofendida (ok, meio exagero) mas ao menos, sinto que algo se perdeu.
Logo no início, o o enredo me lembrou o livro de Marian Keyes ("dando um tempo") que li há pouco tempo. O enredo desta era sobre o "pânico" que o casal sofre ao se descobrir casado para sempre. Para sempre mesmo, literalmente até que a morte os separe. E ao sofrer esta constatação, uma série de estripulias emocionais acontecem. Eu não sou casada, mas mesmo assim vou dar a minha opinião: será que isso realmente acontece na vida real? O fato de um dos dois se sentir tão preso e encurralado a ponto de sair desesperado cometendo uma série de erros? Bom, não sei. No início deste livro, o casal acha que tem o casamento perfeito, tudo numa boa, até um médico lhes dizer que pelas expectativas de vida dos dois, com saúde perfeita etc etc eles terão no mínimo mais 68 anos juntos. Nisso, o pânico acontece. O casal se sente imediatamente entediado e logo pensam em um plano para o tédio diminuir ao longo dos dias. Criam então um projeto surpresa: os dois tentam surpreender o outro infinitamente provando que conhecem pouquíssimo sobre os gostos um do outro. Até aí tudo bem, achei que seria um livro leve e bobo e até com aquela comédia no ponto certo que a autora sempre propõe. As surpresas variam e todas elas dão errado. Mas até que ponto um marido acha que dar uma cobra de presente de estimação para a esposa daria certo? Foi aí que comecei a ler com a pulga já atrás da orelha. As surpresas definitivamente desandaram quando ao tentar inovar, a esposa propõe um ensaio fotográfico - que também deu errado - os levando a uma escapada para um jardim secreto no meio da noite. Nesta noite, o marido Dan apresenta um jardim desconhecido, e passa a ser outra pessoa. Com olhares distantes, Dan lembra que construiu este mesmo jardim que leva a esposa com uma ex-namorada que jamais esqueceu. Após passar a noite no jardim, Dan - muito introvertido, com olhares enevoados e pensativos, acaba confessando à mulher que pensava em sua ex, e não fez nenhum esforço ao esconder as buscas pelo nome dela no Google. Foi aí que já comecei a ficar com raiva até. E vou explicar o porque. Dan começa a tratar Sylvie com frieza, marca um jantar em sua casa em uma noite que a esposa não estaria com alguns amigos antigos - e sua ex. Dan se afasta emocionalmente de Sylvie, a trata mal a levando a um desespero. Acho que a autora se perdeu. Acho que ela quis escrever um livro com uma intenção de enredo e depois talvez tenha tido que terminar logo ou algo aconteceu que fez a história mudar radicalmente. Dessa metade para o final, a história muda. Sylvie procurando traços da traição de Dan encontra um telefone celular escondido e rastreia as mensagens levando a uma advogada (com o mesmo nome que a ex, não entendi o porquê disso), Sylvie a encontra para confrontá-la e acaba descobrindo que o tão adorado pai falecido estava escondendo um caso extraconjugal com uma menina de 16 anos e que a tal menina estava para lançar um livro expondo-o. Nisso, Sylvie que idolatrava o pai, descobre a verdade sobre os esqueletos familiares, sofre uma desilusão paterna, com direito a corte dramático de cabelo, mudança no visual e até pedido de demissão. Ela descobre que o marido estava trabalhando a favor dela para esconder tudo e que ela não sofresse, o que já sabemos que nunca dá certo. O desfecho ocorre quando agora ela remove a idolatria do pai para o marido, esquece totalmente de como o marido a tratou com frieza e como ele parecia perdido pensando em sua ex, e tudo fica bem, o livro terminando com uma renovação de votos do casal que parece totalmente ter esquecido do pânico dos 68 anos e enredo inicial. Para coroar o tema bagunçado, o tal médico é convidado para a renovação e os confessa que errou a média, provavelmente terão "apenas" 64 anos juntos. Ao ouvir isso por um instante a história do pânico recomeça mas logo termina com uma fala da esposa de ir apenas seguindo a vida. Que romântico, SÓ QUE NÃO!
Agora sim a minha opinião:
- A autora claramente se perdeu na proposta. Parece que li dois livros inacabados. A história da ex ficou inacabada, das surpresas também, etc. Parece muito imaturo para mim que alguém se case e após alguns bons anos juntos, se sinta desesperado sem saber como viver a vida a dois. Será que se esquecem que infinitas coisas podem acontecer e certamente irão acontecer? Como se casar com alguém e um dia achar que já viveu tudo que há? Ao mesmo tempo concordo que aqui temos um livro e não a vida real, e que de fato é um bom enredo, se souber como encaminhar a história de forma madura.
- Quando os vizinhos de Sylvie apareceram na história, quis que a história fosse sobre eles. Um esperou o outro por 57 anos. E em todas as frases, dava-se para sentir a sabedoria, ao contrário dos personagens principais.
- Há pontos positivos no livro que são citados aqui e ali como o empoderamento feminino e o feminismo, o que mostra que é um livro atual, mas o contraste com o machismo da história do pai e até do marido é tão gritante que seria melhor que a autora nem tentasse mencionar nada.
- Por último, total incongruência do título, poderia ser outro.
Enfim, não achei uma leitura boa particularmente para mim. Mas é um chick-lit, leve e por isso dou 3 estrelas.