Barbara.Tomaz 23/11/2022
Controverso
Achei o livro razoável, não é algo tipo "Uau", mas também não é algo tão ruim que não dê para se aproveitar nada.
Me pareceu que os autores corrigiram ou se esforçaram para redimir sua escrita, evitando um pouco do excesso de brincadeira, ironias e preconceitos do livro anterior, tentaram escrever com mais seriedade. Claro, entre uma frase e outra, às vezes, aparecia alguma ironia e brincadeira fora de tempo e algumas frases que deixaram muito a desejar.
É nítido perceber as entoações de antipatia a figura de reformadores, o exagero para se supervalorizar alguma atitude da igreja católica em geral e a minimização de alguns sofrimentos oriundos das perseguições e torturas. Tentaram mostrar imparcialidade ao comentar sobre as influências da reforma protestante na igreja e na inquisição, mas não funcionou pois sempre se é valorizado as atitudes e reações da igreja católica--mesmo com alguns pontos controversos.
O papado parece que é sempre visto como inocente ou então coagido e oprimido por figuras externas (governo, reis, aldeões, reformadores, etc). Neste período histórico ocorreram muitos conflitos, pois não apenas estruturas religiosas precisavam de uma correção, mas também, toda a esfera social e econômica. Não se pode minimizar os efeitos e as consequências das omissões, do silêncio e da atuação do clero e dos líderes reformados e papistas diante dos conflitos armados e rebeliões. Obviamente, existiam revoltas populares, interesses políticos e governantes civis maus, todavia não se pode ignorar esses fatores e tentar se esquivar da responsabilidade que os líderes da igreja tiveram para influênciar o andamento das coisas. Ex: Quando um papa errou e fez o mal, o erro é considerado numa esfera pessoal dele, mas quando ele acerta, toda a igreja abraça para si os efeitos positivos das ações dele. Em geral é assim que acontece até hoje em praticamente todos os setores da sociedade.
Contudo, isso acaba retirando da instituição sua responsabilidade e autoridade de verificar, avaliar e corrigir os erros. Em outras palavras: " Se tá ganhando é um dos nossos, se perdeu (ou fez algo de errado) nem o conheço".
O livro praticamente se divide em Inquisição e Cruzadas, voltando também em temas como Joana D'Arc e de Galileu Galilei (assuntos que foram comentados brevemente no primeiro livro). Parece que é um grande resumo, sendo que os motivos dos "anticlero" ou dos "hereges" não foi muito explorado ou desenvolvido, por exemplo, não se expõe os fatores sociais e teológicos que levou a condenação ou a censura deles, pelo menos, não como poderiam ter escrito. Quando citam alguma posição dessas pessoas, é feito muito rápido e sem pensar duas vezes.
Quase não houve fontes bibliográficas de outros segmentos cristãos, por exemplo, o parecer de autores reformados ou de católicos ordotoxos não apareceu. Isso fez com que algumas informações das fontes de pesquisa seja controversas quando comparada com outros títulos e autores. Podem ter citado até bons livros e estudiosos , mas devido a argumentações apelativas e forçadas, alguns parágrafos e informações ficam superficiais e tendenciosas.
Há também muita treta desnecessária, sempre querendo mostrar a imagem da superioridade da igreja católica romana:
"(...) E aí o pastor vem e diz que isso não importa? O que está por trás de uma declaração dessa? Parece que alguém tinha uma poderosa ?arma? para rebaixar os católicos e não quer abrir mão dela de jeito nenhum... A técnica é simples e funciona muito bem: associe seus adversários a algo repugnante, e a partir de então eles se sentirão acuados e humilhados. Sufocados por um forte complexo de inferioridade, eles serão incapazes de levantar a voz para se defender, e, se o fizerem, será de forma tímida e despida de vigor. É o que fazem com os cristãos, e mais particularmente com os católicos, jogando continuamente em suas faces os alegados abusos praticados pelas inquisições e esperando que eles se calem e voltem para a sacristia. Só que não estamos mais no tempo das catacumbas romanas, e os cristãos não são obrigados a se esconder nas sombras... Ao menos não ainda! Devemos ser humildes e reconhecer por nossos erros e oferecer a penitência por eles, mas não somos cidadãos de segunda classe e não temos motivo para sentir vergonha do que somos. O conhecimento sobre a realidade histórica das inquisições, livre de distorções ideológicas, católicas ou anticatólicas, é uma das chaves para a libertação dos católicos da jaula de ?genocidas históricos? em que foram injustamente enfiados."
Tipo...Oi?
Enfim, o livro pode ampliar os horizontes da história, mostrar uma ou outra curiosidade, mas aquilo que denunciam (como o trecho acima) acaba sendo justamente aquilo que os autores praticaram ao longo do livro com outros tipos de leitores.