Carla.Parreira 21/01/2024
A faca entrou (Theodore Dalrymple). O autor se trata de um médico e escritor britânico que trabalhou em uma prisão francesa durante a década de 1980. O livro é uma coletânea de ensaios que abordam questões sociais, políticas e culturais relacionadas à violência e crime. Ao selecionar os melhores trechos, fiquei particularmente interessada em passagens que oferecem insights sobre a natureza do crime, a violência e a sociedade moderna. Aqui estão três trechos destacados:
1. No trecho inicial do capítulo intitulado "O Enigma do Crime", Dalrymple escreve: "O crime é o único assunto em que não há nenhuma controvérsia; todos concordam em considerá-lo mau, e todo mundo gostaria de ver menos dele. Mas, por que ocorre? Por que as pessoas se tornam criminosas? E por que a sociedade permite que isso aconteça?" - Este trecho ilustra como o autor aborda o assunto do crime de forma direta e desafiadora, buscando compreensão e explicações para um fenômeno complexo.
2. Em "A Filosofia do Crime", Dalrymple escreve sobre a relação entre o criminoso e a sociedade: "O criminoso, ao cometer um ato antissocial, não é só um indivíduo isolado, mas sim uma resposta às estruturas sociais e culturais em que vive. A sociedade é parte da causa do crime, não apenas sua vitima." - Aqui, o autor destaca a importância de analisar a relação entre a sociedade e o criminoso, enfatizando que o crime não é apenas uma questão individual, mas também uma questão de contexto social.
3. No capítulo "O Consolo do Crime", Dalrymple escreve sobre a atribuição de motivações complexas para o crime: "O crime é frequentemente visto como um ato de falta de educação, de moral ou de inteligência. Mas, é possível que o criminoso seja uma pessoa comum, com habilidades e talentos, que acabou se envolvendo em uma vida criminosa por falta de alternativas e oportunidades." - Neste trecho, o autor desafia a ideia de que os criminosos são simplesmente indivíduos sem educação, moral ou inteligência. Ele sugere que as pessoas podem ser empurradas para a vida criminosa por circunstâncias além de suas habilidades pessoais.
Estes trechos destacados de A Faca Entrou oferecem uma visão profunda e única do crime e da sociedade, proporcionando insights valiosos para quem busca compreender esses temas complexos. Ao contrário do que alguns possam pensar, Dalrymple mostra ser capaz de sentir misericórdia, o que é evidenciado em seus testemunhos médico-psiquiátricos que, em certos casos, contribuem para a redução de penas. Uma informação interessante destacada no livro é que uma pessoa leva muito mais tempo para se tornar dependente químico do que alguns progressistas afirmam, e que os efeitos colaterais da abstinência dessas substâncias são mínimos em comparação com os de um alcoólatra. Como sugere o título do livro, Dalrymple expõe diversas desculpas esfarrapadas usadas por seus pacientes para justificar seus crimes cada vez mais banais. Eles utilizam a voz passiva para tentar manipular a linguagem e mudar o significado prático dos fatos. Por exemplo, muitos presos afirmam ter "caído na galera errada", mas nenhum assume que eles próprios são a "galera errada", ou que se aproximaram dela por afinidades. Assim como o autor apresentou com clareza em seu livro anterior, "A Vida na Sarjeta", os criminosos se veem como anjos imaculados, cujos crimes foram motivados por um "desarranjo" ou doença mental, mesmo que sejam habilidosos em suas defesas. Dalrymple cita outro psiquiatra que refuta várias dessas alegações, argumentando que os critérios para se concluir que alguém tem uma desordem mental poderiam ser igualmente aplicados para considerar a felicidade como uma patologia. Em suma, o livro nos ensina que até mesmo uma infância difícil, com abusos e privações, não são fatores determinantes para que alguém se torne um criminoso. Eles cometem crimes porque desejam coisas que não estão dispostos a conquistar por meio do trabalho, ou, no caso de homicídios, porque acreditam ter o direito de cometê-los. Como Dalrymple ressalta: "Pobreza não é o mesmo que degradação". Portanto, mesmo que algumas pessoas argumentem que um criminoso mudou e não cometerá mais um determinado crime, na visão de Dalrymple, criminosos devem ser punidos, pois não se pode acreditar que cada cidadão tenha um "vale-crime" e, como Jesus fez várias vezes, em casos de verdadeiro arrependimento, o perdão pode ser concedido, mas a pena não deve deixar de ser aplicada.