A Faca Entrou

A Faca Entrou Theodore Dalrymple




Resenhas - A Faca Entrou


8 encontrados | exibindo 1 a 8


Ilsa Cunha 19/04/2018

"A culpa é minha e eu ponho em quem eu quiser".
Para quem já conhece o escritor, o que chama mais a atenção é o quão maturo ele parece neste livro – embora, isto não sugira imprudência nos anteriores -, ele permite que conheçamos mais sua biografia em vez de apenas relatar casos de criminosos.
Para a “direita” que encontrava nele uma desculpa para defender “oito ou oitenta”, ele se apresenta como alguém que ainda é capaz de sentir misericórdia. Sendo seus testemunho médico-psiquiátrico, em alguns casos, fator primordial para reduzir penas.
A informação que mais me chamou a atenção foi a de que uma pessoa demora muito mais tempo para tornar-se dependente químico do que os progressistas gostam de sustentar e que os efeitos colaterais de uma abstinência destes são ínfimos comparados com a pausa de um alcoólatra.
Como o título do livro sugere, Dalrymple aponta diversas desculpas esfarrapadas dadas por seus pacientes para justificar seus crimes cada vez mais banais. Eles usam a técnica da voz passiva, assim como nossos jornais o fazem, como se uma linguagem manipulada pudesse transformar o significado prático do fato.
Exemplificando, Dalrymple diz que muitos presos afirmam ter “caído na galera errada”, mas nenhum assume que eles são a própria “galera errada”, ou que se aproximaram dela porque guardam afinidades.
Como já fora apresentado como muita clareza em “A Vida na Sarjeta”, os homens se julgam anjos imaculados cujos crimes cometidos foram motivados por um “desarranjo” ou doença mental, embora possuíssem grande habilidade lógica no momento de suas defesas. E cita, inclusive, um outro psiquiatra que derrubaria várias dessas defesas com o argumento de que as premissas para concluir que alguém tem uma desordem mental pode ser, perfeitamente, aplicado para defender a felicidade como uma patologia.
Por fim, a lição que tiramos é de que mesmo uma infância difícil de abusos e privações não são fatores imprescindíveis para fazer alguém tornar-se um criminoso; eles o fazem porque desejam coisas que não estão dispostos a trabalhar para possuir, ou no caso dos homicídios, porque possuem o direito de cometê-lo. Nas palavras do próprio Dalrymple: “Pobreza não é o mesmo que degradação”. Portanto, mesmo que os esquerdopatas defendam que o “coitadinho” mudou e não vai mais cometer certo crime, eventualmente porque não pode reincidir no crime por algum fator que o impossibilita, ele deve ser punido, visto que ninguém pode acreditar que cada cidadão possue um vale-crime, simplesmente porque ainda não viu “o sol nascer quadrado”. Como Jesus fez diversas vezes, em casos de genuíno arrependimento, o perdão deve ser concedido, mas a pena não pode deixar de ser aplicada.
Vagner 19/04/2018minha estante
Concordo plenamente com a sua resenha. Estou na metade do livro, e adorando. Mas acho que é uma obra inferior se comparada com A vida na sarjeta, e Nossa Cultura... Ou o que restou dela. Mas sem dúvida é um livro ótimo, onde ele desmistifica várias coisas que somos ensinados a acreditar como verdades absoluta e incontestáveis.

Sem contar que ele é um simpatia. Tive a oportunidade de pegar um autografo na palestra que ele deu no Mackenzie, e ele foi muito gentil e atencioso com todos.


Ilsa Cunha 19/04/2018minha estante
Verdade! Estou pensando em presentear alguns amigos com obras dele. E o que dá um panaroma melhor e surtiria mais efeito, realmente, são os que você citou.
Sobre a palestra, eu cheguei junto com ele, mas fiquei com vergonha de ir falar com ele, mas depois vi que ele é um fofinho. Se não fosse inglês, eu ia dar um abraço nele.


Evandrojr. 18/12/2018minha estante
No que difere este novo livro do Dalrymple em relação ao "A Vida na Sarjeta"?




Marcella.Pimenta 16/12/2022

O crime sem culpa e o que nos leva a minimizá-lo
O início e o final do livro são compostos, majoritariamente, de casos de criminosos, em que o autor foca no crime o no contexto em que ele se deu.

No meio, Dalrymple explora os sistemas penitenciário e judiciário, por meio do contato com guardas e como testemunha em audiências. Além disso, discute a benevolência com aqueles que "não têm consciência do que fazem".

Dalrymple possui um tom sarcástico e elegante que nos traz cultura (ele cita personalidades históricas, escritores, teorias, e, principalmente, Shakespeare) e uma reflexão profunda sobre as nossas mazelas.

Não importa se a história é sobre crime e você nunca cometeu um ou nunca foi vítima de um, o autor possui uma rara habilidade de universalizá-la.

A expressão "a faca entrou" remete à ausência de autorresponsabilidade que muitos criminosos alegam ao se distanciarem do crime, como se não tivessem tido participação alguma e o crime fora cometido como que por mágica.

Já li alguns livros do autor e esta é outra marca de seus textos: chamar o homem à responsabilidade por seus atos. Todo aquele que entra em contato com a sua obra sai refletindo um pouco mais sobre suas atitudes.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Vanderley Batista 11/08/2020

Interessante
Primeiro livro do autor que leio, e minha vontade é de ler os demais. Pra quem gosta da temática recomendo com certeza.
comentários(0)comente



JPHoppe 20/07/2018

Ainda bem que Anthony Daniels escreveu este livro sob um pseudônimo, do contrário iria achar que se trata do ator por trás do lendário C3PO, de Star Wars. Aposto que seria uma leitura muito boa, mas que diabos estaria fazendo na seção de sociologia?

Daniels não está tão envolvido com guerras estelares, mas certamente conhece um outro tipo de confronto, mais terreno, frequentemente contido na mente de cada indivíduo. Com um background em consultas psiquiátricas e tratamento de prisioneiros, o autor certamente viu muito do quão fundo pode o comportamento humano ir. De fato, a descrição do comportamento dos criminosos de se distanciarem dos crimes, descrevendo-os em uma voz passiva que os remove do protagonismo dos horrores: "o álcool tomou conta". "A faca entrou".

Ainda não li outras de suas várias obras, mas o autor descreve que muito dos problemas da sociedade estão longe de ser as respostas simplificadas que frequentemente nos são dadas pelos especialistas e políticos. Ou, pelo menos, aqueles que a mídia dá destaque. Por exemplo, Daniels demonstra que o consumo de drogas não é um gatilho para a criminalidade, questionando assim o mito do dependente que rouba para sustentar o vício. Pelo contrário, quase sempre uma vida criminal antecede a entrada no mundo das drogas. Da mesma forma, o "cold turkey" associado com a abstinência, demonstrada de forma terrível (especialmente na ficção), dificilmente é mais daninha que uma gripe mediana. As drogas liberadas, no entanto, são muito mais cruéis nesse aspecto. Esta última é algo que um dos grandes médicos brasileiros, Drauzio Varela, já disse em várias ocasiões. Curiosamente, Varela e Daniels fizeram muito de seus trabalhos em presídios.

Uma leitura muito instigante, em vários pontos com casos tenebrosos, mas que discute muito bem as causas - ao menos na visão de Daniels - das mazelas da sociedade. Não vejo a hora de ler seus outros livros.
comentários(0)comente



Carla.Parreira 21/01/2024

A faca entrou (Theodore Dalrymple). O autor se trata de um médico e escritor britânico que trabalhou em uma prisão francesa durante a década de 1980. O livro é uma coletânea de ensaios que abordam questões sociais, políticas e culturais relacionadas à violência e crime. Ao selecionar os melhores trechos, fiquei particularmente interessada em passagens que oferecem insights sobre a natureza do crime, a violência e a sociedade moderna. Aqui estão três trechos destacados:

1. No trecho inicial do capítulo intitulado "O Enigma do Crime", Dalrymple escreve: "O crime é o único assunto em que não há nenhuma controvérsia; todos concordam em considerá-lo mau, e todo mundo gostaria de ver menos dele. Mas, por que ocorre? Por que as pessoas se tornam criminosas? E por que a sociedade permite que isso aconteça?" - Este trecho ilustra como o autor aborda o assunto do crime de forma direta e desafiadora, buscando compreensão e explicações para um fenômeno complexo.

2. Em "A Filosofia do Crime", Dalrymple escreve sobre a relação entre o criminoso e a sociedade: "O criminoso, ao cometer um ato antissocial, não é só um indivíduo isolado, mas sim uma resposta às estruturas sociais e culturais em que vive. A sociedade é parte da causa do crime, não apenas sua vitima." - Aqui, o autor destaca a importância de analisar a relação entre a sociedade e o criminoso, enfatizando que o crime não é apenas uma questão individual, mas também uma questão de contexto social.

3. No capítulo "O Consolo do Crime", Dalrymple escreve sobre a atribuição de motivações complexas para o crime: "O crime é frequentemente visto como um ato de falta de educação, de moral ou de inteligência. Mas, é possível que o criminoso seja uma pessoa comum, com habilidades e talentos, que acabou se envolvendo em uma vida criminosa por falta de alternativas e oportunidades." - Neste trecho, o autor desafia a ideia de que os criminosos são simplesmente indivíduos sem educação, moral ou inteligência. Ele sugere que as pessoas podem ser empurradas para a vida criminosa por circunstâncias além de suas habilidades pessoais.

Estes trechos destacados de A Faca Entrou oferecem uma visão profunda e única do crime e da sociedade, proporcionando insights valiosos para quem busca compreender esses temas complexos. Ao contrário do que alguns possam pensar, Dalrymple mostra ser capaz de sentir misericórdia, o que é evidenciado em seus testemunhos médico-psiquiátricos que, em certos casos, contribuem para a redução de penas. Uma informação interessante destacada no livro é que uma pessoa leva muito mais tempo para se tornar dependente químico do que alguns progressistas afirmam, e que os efeitos colaterais da abstinência dessas substâncias são mínimos em comparação com os de um alcoólatra. Como sugere o título do livro, Dalrymple expõe diversas desculpas esfarrapadas usadas por seus pacientes para justificar seus crimes cada vez mais banais. Eles utilizam a voz passiva para tentar manipular a linguagem e mudar o significado prático dos fatos. Por exemplo, muitos presos afirmam ter "caído na galera errada", mas nenhum assume que eles próprios são a "galera errada", ou que se aproximaram dela por afinidades. Assim como o autor apresentou com clareza em seu livro anterior, "A Vida na Sarjeta", os criminosos se veem como anjos imaculados, cujos crimes foram motivados por um "desarranjo" ou doença mental, mesmo que sejam habilidosos em suas defesas. Dalrymple cita outro psiquiatra que refuta várias dessas alegações, argumentando que os critérios para se concluir que alguém tem uma desordem mental poderiam ser igualmente aplicados para considerar a felicidade como uma patologia. Em suma, o livro nos ensina que até mesmo uma infância difícil, com abusos e privações, não são fatores determinantes para que alguém se torne um criminoso. Eles cometem crimes porque desejam coisas que não estão dispostos a conquistar por meio do trabalho, ou, no caso de homicídios, porque acreditam ter o direito de cometê-los. Como Dalrymple ressalta: "Pobreza não é o mesmo que degradação". Portanto, mesmo que algumas pessoas argumentem que um criminoso mudou e não cometerá mais um determinado crime, na visão de Dalrymple, criminosos devem ser punidos, pois não se pode acreditar que cada cidadão tenha um "vale-crime" e, como Jesus fez várias vezes, em casos de verdadeiro arrependimento, o perdão pode ser concedido, mas a pena não deve deixar de ser aplicada.
comentários(0)comente



Marco459 26/03/2024

Vale a pena
Theodore Dalrymple conta sua experiência como psiquiatra ao atuar no cárcere abordando tanto sua relação com a instituição, com os presos e profissionais dos presídios como em julgamentos em que sua opinião é requisitada . Achei bacana , porém não excepcional .
comentários(0)comente



Claudio 06/12/2020

Mentes Psicopatas
Confesso que quando vi o título do livro "A Faca Entrou" achei estranho. Depois, durante a leitura ele fez sentido. Dalrymple nesta obra nos apresenta casos reais de sua experiência com crimes cometidos por pessoas que alegavam de tudo para se eximir de suas responsabilidade ao cometer tal delito.

O termo "a faca entrou" era comum ser usado como desculpa, fazendo parecer que a arma branca tivesse vontade própria. Além desse tipo de crime o livro traz várias histórias de assassinatos por envenenamento, sufocamentos e outros métodos.

A leitura pode ser pesada para quem não está habituado a este tipo de narração mas é interessante do ponto de vista psicológico para ver a que ponto o ser humano chega em seu nível de maldade e o contexto do sistema penal inglês no tratamento destes crimes.
comentários(0)comente



8 encontrados | exibindo 1 a 8


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR