Carolina

Carolina Tom Farias




Resenhas - Carolina


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Pandora 29/05/2021

Após fazer a dobradinha Quarto de Despejo e Cartas a uma negra, resolvi ler esta biografia de Carolina Maria de Jesus, do Tom Farias, para conhecer mais a fundo a vida da autora de quem sempre ouvi falar, mas da qual sabia tão pouco.

Saber como a vida pré-lançamento do livro foi sofrida, o quando Carolina batalhou pela sua arte e por reconhecimento, o imenso cuidado com os filhos, o tanto que ela se questionou sobre o rumo que tomou sua vida. O quanto Carolina foi só, mesmo nos momentos de glória e fortuna. Fortuna esta que não era o que alardeavam, mas que lhe deu conforto e que, por diversos motivos, perdeu.

Sobre o período midiático da vida de Carolina, Tom deixa bem claro o quanto a indústria do espetáculo usou sua imagem e lucrou com ela, mas que no fim, a abandonou. E ela, como era seu sonho, aproveitou aqueles momentos de fama e atenção excessiva, mas mesmo no seu deslumbramento, ela via o que ocorria. E brigava, reivindicava, lutava, esbravejava se achava que lhe passavam a perna, mas ao mesmo tempo, ingenuamente, caía em diversos golpes.

Em relação à escrita, a sensação que eu tive foi que estava lendo um trabalho escolar; de um aluno dedicado, que fez direitinho sua pesquisa, mas que ainda não encontrou sua linguagem. Ora uma escrita antiga, de enciclopédia, ora um texto de simplicidade incipiente. A mesma coisa dita várias vezes, nem sempre de forma diferente. Além disso esta edição está repleta de erros... erros crassos de todos os tipos, que me fariam ter vergonha de assinar uma revisão.

Mas no geral, pela sua importância em nos aproximar de Carolina, fico feliz por ter lido este livro.
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Roseane 05/07/2018

Carolina Carolina !
Maria Carolina de Jesus viveu o pós “abolição”.

Mulher negra retinta com traços negróides inegáveis viveu o peso do seu fenótipo.

Nascida na cidade de Sacramento - MG local que tratava os negros em regime análogo à escravidão.

Filha de mãe sofrida, vítima de violência doméstica, abandonada pelo primeiro marido, homem negro, que a preteriu por uma mulher branca.

Após a leitura dessa biografia eu penso que Carolina foi um grande gênio da humanidade que foi engolida pelo racismo, machismo misoginia, abandono, negligência, preterimento e SOLIDÃO.

O que mais me cortou o coração foi a trajetória de solidão dessa mulher magnífica. Eu enquanto negra retinta que estou inclusa no grupo das que estão fadadas ao celibato definitivo não voluntário ou das que se entregam a relações nas circunstâncias de varias tipos de violência (financeira, psicológica, física) vi na Carolina abandonada, preterida, enganada, a dor marcante das minhas iguais. Teve seus filhos sozinha sem nem um tipo de ajuda, a família, meu Deus que família, senhor tenha misericórdia... mas nós negros se não cuidarmos de nosso psicológico ficamos realmente em relações familiares atípicas, é tanto sofrimento aos quais somos submetidos que acabamos atacando aos nossos próximos.

Carolina desde criança já dava indícios de sua genialidade e era incompreendida, sua curiosidade irritava. Teve a oportunidade de ensino formal apenas por dois anos na sua vida e dai descobriu na leitura e escrita o seu fascínio que a levaria ao estrelato. Uma vida marcada por fome, espancamento e mudanças constantes para buscar tratamento de saúde e por não ser aceita em lugar algum.

Estou extremamente admirada da certeza que ela tinha que seria escritora e não precisaria mais ser doméstica, assim ela persistiu arduamente até a oportunidade aparecer.

É muito óbvio que tudo que ela passou seria diferente se tivesse tom de pele mais clara e traços “finos”, mas a pouco tempo descobri que é possível “dormir negra e acordar branca”...o colorismo é mais uma forma de opressão que não quer ser discutida pelos opressores.
Eu fico imaginado quantas Carolinas retintas perdemos diariamente para a depressão, suicídio, violência...

Traduzida para varias países. Uma verdadeira influencer bem requisitada pelos políticos da época.

Apresentada pelos brancos como “escritora favelada” e apresentada pelos negros como Mãe negra. Leitura forte, impactante e necessária. Já era fã, sou mais fã agora.

Que as Carolinas espalhadas pelo Brasil não tenham que passar pelo que ela passou pq não é meritocracia, é crueldade. Que nossas novas Carolinas conte com o apoio das mulheres negras e desenvolvam seus talentos.


Roseane Correa
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Nilton 27/11/2021

CAROLINA: UMA BIOGRAFIA (2017)
Autor: Tom Farias

Carolina Maria de Jesus esfrega na nossa cara o quanto de vida há na miséria e quanta miséria há nas nossas vidas burguesas. Esfrega também o quanto de vida há no fundo do poço, no quarto de despejo da cidade. Carolina não se encontrava entre os seus na favela, tampouco se encontrou quando se projetou mundialmente. Significativo acabar seus dias na roça. Por não se encontrar, seu sucesso desmoronou na mesma velocidade que se ergueu. Mas não só por não se encontrar. Não a deixavam ocupar os espaços que tinha potencial.

Carolina foi redescoberta neste século XXI e tem ganhando a dimensão que almejou em vida.

Escritora favelada foi o expressão que a acompanhou por toda o seu caminho, mesmo quando se tornou a recordista de vendas de livros, desbancando Jorge Amado e Clarisse Lispector. Carolina deu cor à fome, pois sabia o que ela era. Denunciar a desigualdade foi um grito. Mas o racismo estrutural e nossa elite tratou de abafá-la. Consumiram-na como exótico e devolveram exaurida para a miséria.

Ao ler o livro aqui indicado, é inevitável perceber o quão dolorida foi a vida de Carolina. Tom Farias faz uma pesquisa profunda e nos entrega um material primoroso. A biografia de Carolina Maria de Jesus é fundamental para a compreensão das entrelinhas de sua obra. Tom Farias reconstrói toda sua infância em Sacramento (MG), nos mostra como surgiu a escritora, a chegada em São Paulo, a desilusão, a vida na favela do Canindé, a descoberta pelo jornalista Audálio Dantas e por onde andou neste mundo. Livro excelente e indicadissimo.

#CarolinaUmaBiografoa #TomFarias #CarolinaMariaDeJesus #Literatura #Literaturabrasileira #DicaLiterária

35º livro lido
27/11/2021

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Tinho Silva (@cafecomlivrossp) 08/04/2020

Carolina: Uma biografia - Tom Farias
Como o próprio título já nos diz, trata-se da biografia da escritora Carolina Maria de Jesus. Carolina foi uma escritora negra que fez muito sucesso nos anos de 1960 e 1961 quando lançou ao mundo o seu livro de maior sucesso “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Porém, o que pouco sabemos ou conhecemos, é o caminho que ela trilhou até conseguir lançar o seu primeiro livro e quais consequências o sucesso avassalador trouxe para a sua vida. Então, vamos aos fatos. O livro é dividido em três partes, cada uma delas retratando fases diferentes da vida da escritora.

Na primeira parte Tom Farias nos apresenta Bitita, apelido como era chamada quando pequena pelos seus. Utilizando como base para tal, principalmente a obra “Diário de Bitita”, publicação póstuma da escritora. Esse excerto, nos mostra o início da vida da autora na cidade de Sacramento, interior de Minas Gerais. Ela nasce em 14 de março de 1914, período pós escravocrata, fato que deixou marcas muito negativas, particularmente para a população negra, obrigando-os a viver em condições precárias e de subsistência, nesse contexto histórico conturbado nasce Carolina.

Retrata também a fundação histórica da cidade de Sacramento, apontando os possíveis motivos que fizeram a família da escritora se instalar ali. Seguindo, ele vai nos apresentando o meio social da cidade, a família de Carolina e a sua convivência, pautado nos escritos deixados pela mesma.

Como já citado, essa parte está pautada no livro “Diário de Bitita”, assim, o biógrafo vai fazendo uma reconstituição dos fatos narrados do texto já mencionado, organizando algumas informações dadas por Carolina, como por exemplo, a data da morte do seu avô que aparece equivocada na obra. Aqui conhecemos um pouco mais sobre Cota, a mãe de Carolina que por diversas vezes se sacrificou para evitar o sofrimento maior da sua filha. Ademais, ele fala sobre a vida dura levada pela escritora, fatos esses que irão refletir na sua poesia mais adiante, narrando as desilusões, as injustiças, as incertezas e todo o sofrimento vivido antes de ir parar na grande cidade de São Paulo.

“Esses altos e baixos, todos esses percalços vividos, dentro estrita verdade, foram ruins do ponto de vista de penúria vivida por Carolina e sua mãe, mas também deu-lhe boa consciência da questões sociais envolvendo as leis e o mundo do trabalho, a exploração do homem pelo homem, questões políticas e ideológicas, e o valor do relacionamento humano”. (p. 104).

Já na segunda parte, ele a inicia fechando o ciclo da vida de Carolina em Sacramento, sendo obrigada a abandonar o seio da sua família, vítima do preconceito e da ignorância da sociedade, e ir para o mundo. Assim ela ganha a estrada, passando por várias cidades interioranas até desembarcar na capital paulista. Decidida a se tornar uma escritora famosa e consciente da força da sua poesia, ela começa a sua peregrinação pelos vários jornais da época em busca de apoio para a publicação de seus escritos. Com isso ela conhece muita gente envolvida no meio jornalístico e editorial, mas não obtém sucesso na sua busca. A sua situação financeira também não melhora, fadada a viver na pobreza, resolve que é hora de alçar outros voos e vai morar no Rio de Janeiro, fato esse desconhecido inclusive da família pelos poucos relatos da passagem dela pela cidade carioca (Tom Farias descobre uma entrevista dela em um dos jornais da época do Rio de Janeiro o que embasa a sua afirmação). Chegando lá, ela continua visitando jornais e consegue dar algumas entrevistas e publicar alguns poemas. Na entrevista concedida ao jornal “A noite”, exposta por Tom Farias, temos uma Carolina muito descontraída, falando principalmente da sua relação com a poesia e sobre como é trabalhar como empregada doméstica, tendo em vista que ela não era boa em tal função, ela diz:

... Arranjei outro emprego, mas eu esquecia tudo para fazer um verso que me vinha à cabeça e acaba outra vez sendo demitida! Por isso eu disse ao senhor que a poesia é a minha desgraça. Por causa dela eu ando ao léu, pensando e rimando versos. (p.116 e 117).

Não conseguindo grande êxitos no rio de Janeiro, retorna à São Paulo, onde a sua condição social começa a apertar novamente. Sem emprego fixo para se manter é despejada, já com o seu primeiro filho, acaba sendo obrigada a residir na favela do Canindé. É de lá que vem a inspiração para “Quarto de despejo”. Já no Canindé, Carolina tem mais dois filhos e se torna catadora de papel. Amante dos livros como sempre foi, encontra no lixo os cadernos para escrever o diário que lhe tornaria famosa. Ainda na favela e por acaso, conhece o repórter Audálio Dantas, esse responsável por editar e publicar a principal obra da escritora. Audálio que vai ao Canindé com intuito de averiguar uma denúncia, conhece uma mulher preta, que ameaça colocar o nome dos seus vizinhos em seu diário, curioso e intrigado com aquela figura, resolve saber um pouco mais sobre ela e desse contato nasce a primeira publicação em livro de Carolina.

Sempre com seus largos voos em perspectiva, trilhando o árduo caminho da sua trajetória pessoal, em meio a incompreensão e ao desafeto geral, a falta de recursos e estruturas, até se transformar na “estonteante revelação literária”, segundos fontes jornalísticas, Carolina Maria irá do céu ao inferno, beijará a cara pálida da morte e a mão sagrada de Deus. (p. 138).

Por fim chegamos a terceira parte, aqui o autor apresenta as glórias por ela ter conseguido se tornar escritora, sonho que buscou durante toda a vida, e o circo midiático que a sua vida se tornou em decorrência da realização do seu sonho. Finalizando com a sua morte no ano de 1977.

Carolina, como mulher negra e favelada e agora escritora, se tornou, ao mesmo tempo, um produto “vendável” do jornalismo noticioso e sensacionalista, que tinha nela a garantia de audiência certa, como objeto de consumo e curiosidade, mas também como uma peça publicitária da própria Livraria Francisco Alves, que nesse particular, percebeu mais a fundo (mais do que Audálio Dantas) que ela poderia proporcionar, como elemento estranho, provocando a curiosidade pública e também a comiseração por sua história de vida. (p. 217).

O que mais me encantou nesse livro foi o trabalho de pesquisa realizado pelo autor, ele buscou minunciosamente detalhes sobre a vida da Carolina Maria de Jesus, perpassando por toda a trajetória da escritora, apresentando ao leitor um livro incrível e muito fácil de ler. As referências utilizadas por ele são sensacionais, entrevistas em jornais da época, levantamento sobre as várias moradias, os amores que ocasionaram os seus três filhos e fotos em um trabalho muito cuidadoso, dividida em capítulos curtos e muito bem escritos. Falando sobre a linguagem utilizada no livro, essa é feita de forma simples, porém muito precisa, dando ao livro uma fluidez e tranquilidade na leitura de suas 352 páginas.

Outra coisa que serve como ponto positivo é a utilização das obras da autora para recriar a sua vida, os livros publicados por Carolina ainda são desconhecidos do grande público, restringindo-a ao seu best Seller “Quarto de despejo”. Utilizando os vários textos da homenageada, inclusive alguns inéditos, ajuda na divulgação das suas publicações, instigando à curiosidade dos interessados em conhecer um pouco mais sobre essa mulher incrível e escritora improvável que venceu várias barreiras em busca do seu sonho.

Finalizando, é um livro maravilhoso e que vale muito a pena a leitura, muito indicado principalmente por aqueles que querem conhecer um pouco mais a respeito da Carolina Maria de Jesus, suas mazelas e os estreitos que precisou percorrer para se tornar a grande escritora aclamada hoje. Carolina deu voz à população pobre e preta sendo bem aceita e celebrada pelos movimentos negros da época. Dito isso, conhecer autores que sempre foram colocados a margem se faz de extrema importância, principalmente na nossa busca incessante pelo reconhecimento e valorização dos nossos escritores negros e da nossa Literatura Negra, sendo ela Carolina, um dos grandes expoentes desse movimento.

Nota do autor:
Muito me surpreendeu conhecer o universo de Carolina Maria de Jesus, não apenas como a celebrada... mas por desvendar-lhe a força criadora e criativa de uma mulher determinada a viver pelo seu ideal de vida, mas que o mundo da indústria da escrita consumiu como “fruto estranho” que ela se tornou, como chegou a dizer o repórter Audálio Dantas, que a conheceu na favela do Canindé. (Tom Farias).

site: https://www.instagram.com/cafecomlivrossp/
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Honey K. 26/07/2022

Essencial e esquecida
"não há nada pior na vida do que a própria vida"

Acho estranho avaliar biografias, mas a nota aqui dada vai pensando mais sobre a organização do Tom Farias e para a edição (que possui alguns erros).
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Delano Delfino 03/02/2024

A biografia de Carolina, desnuda a nossa sociedade e os preconceitos estruturais de uma sociedade. Negra, favelada ela conseguiu vencer, leia-se como vencer ser reconhecida pelo que mais amava que era escrever. Porém, o pobre não pode ascender socialmente impunemente. A elite e os pobres a cobravam por essa ascensão, a falta de preparo pra lhe dar com dinheiro e a inocência perante o outro, a fizeram cair no ostracismo e voltar a catar ferro velho para sobreviver onde era hostilizada por outros catadores. Essa biografia, conta uma história de uma mulher forte, sonhadora e comer antas outras vítima de preconceito e racismo estrutural.
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Biblioteca Álvaro Guerra 18/02/2020

Ao penetrar os salões das casas-grandes com seu talento extraordinário e grande força de viver, Carolina Maria de Jesus, escritora de literatura brasileira, nos monstrou com seu olhar aguçado as desigualdades, os abismos da nossa sociedade.

Empreste esse livro na biblioteca pública.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788592736248
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