Fernando Lafaiete 30/11/2018Os Portais da Casa dos Mortos: Fantasia de alto nível que deve ser encarada como leitura obrigatória!******************************NÃO contém spoiler da série******************************
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Um mundo governado por uma poderosa mulher. Uma imperatriz que outrora fora uma guerreira corajosa o suficiente para matar o imperador e tomar seu lugar. Um mundo povoado por seres míticos, por deuses, por assassinos e que espera o renascimento de uma poderosa e vingativa vidente. Um mundo complexo, com guerras, reviravoltas, intrigas e um sistema de magia muito bem arquitetado. Estes são apenas alguns dos aspectos que você irá encontrar nesta magnífica série intitulada O Livro Malazano dos Caídos. Aspectos estes que não passam apenas da mísera ponta do iceberg criado por Steven Erikson.
Ler uma fantasia como essa sempre me deixa embasbacado com a imensa capacidade criativa que alguns autores possuem. Jardins da Lua, o primeiro volume desta extensa série composta por 10 livros, se destaca no meio das demais fantasias adultas disponíveis no mercado. É um livro complexo, com uma narrativa corajosa e audaciosa. Ao abrir o livro e iniciar a leitura, nos vemos no meio de campos de batalhas, com mortes ocorrendo, com aparições infinitas de personagens, com intrigas e com a interação de poderosos deuses. Tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo e sem o autor demonstrar a menor preocupação em te ambientar. Como ele mesmo faz questão de reforçar na nota do autor no começo do livro, esta série não foi feita para leitores preguiçosos. Já Os Portais da Casa dos Mortos traz uma estrutura e um desenvolvimento mais tradicional. Não me senti em nenhum momento perdido como se estivesse no meio de um deserto sem saber para onde ir.
Esta continuação apresenta uma nova gama de personagens interagindo com alguns poucos conhecidos dos leitores da série. Cada grupo de personagens ou cada personagem específico, possui um objetivo. Alguns querem derrubar o império, outros querem protegê-lo, outros buscam por vingança e alguns querem apenas salvar a própria pele. A escrita de Erikson é fabulosa e combina perfeitamente com o clima épico da narrativa.
Confesso que achei parcialmente assertiva a escolha do autor em focar em novos personagens. Isto só demonstra o quão imenso este universo é, e o quão gigantesco é o portfólio de personagens do autor. Mas ainda assim, não posso deixar de citar que senti muita falta dos personagens antigos os quais criei muito mais empatia e que me fascinaram em uma escala muito maior. Queria muito ter tido mais de Anomander Rake; espero que esta minha necessidade seja suprida no próximo volume.
Levando em consideração o que citei no parágrafo anterior, acabei não me importando muito com as mortes e demais tragédias de Os Portais da Casa dos Mortos. Diferente do que li e assisti em algumas resenhas, não achei nada tão brutal e nem nada no nível ou superior ao que George R. R. Martin faz em As Crônicas de Gelo e Fogo. Achei tudo bem ok e nada me surpreendeu ou me fez perder o fôlego; apesar de eu considerar este livro espetacular e uma fantasia de alto nível.
Devo ressaltar que muitas coisas não são respondidas e nem serão respondidas, mesmo que você termine de ler os 10 enormes volumes desta série. Isto se dá porque este enigmático mundo foi criado por 4 mãos. Steven Erikson e Cameron Esslemont, autores estes que dividem a construção deste mundo em algumas séries. A trilogia prequel Karkhanas, escrita por Steven Erikson; a série O Livro Caído dos Malazanos, escrita por Steve Erikson e composta por 10 livros; novelas do Império Malazano, escritas por Cameron Esslemont; e trilogia Caminho para a Ascendência, escrita por Cameron Esslemont e que conta a história de Kellanved, o imperador traído por Laseen que se torna a impetuosa imperatriz da série aqui resenhada. Sem contar os diversos contos existentes.
Os Portais das Casa dos Mortos foi uma leitura incrível, mas me diferencio dos leitores que afirmam que este livro é superior ao primeiro. Gostei bastante, mas ainda prefiro o livro anterior. Ainda não me deparei com nada que me faça surtar e me revoltar como o casamento vermelho de Tormenta de Espadas, terceiro volume de As Crônicas de Gelo e Fogo, nada revoltante como alguns ocorridos de Ciclo das Trevas de Peter V. Brett ou nada tão surpreendente e desesperador como o final de Filho Dourado de Pierce Brown.
Indico de olhos fechados, mas lembre-se... não seja um leitor preguiçoso! Seja persistente e não abandone ou desista da série após ler ou antes mesmo de terminar Jardins da Lua. São livros/séries como esse/essas que aumentam nosso senso crítico e que enriquecem nossa bagagem literária. O mundo Malazano é incrível em sua construção, concepção e execução. Se é fã de fantasia, esta é mais uma série que você deve encarar como leitura obrigatória.