Gramatura Alta 08/08/2018
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Judas Cipriano é um padre exorcista que responde a uma sociedade secreta da Igreja, chamada de São Tomé. Sua habilidade é posta em prova, quando ele precisa encontrar um assassino, que se denomina o novo messias e executa suas vítimas de forma extremamente cruel, sempre com transmissão ao vivo pelo Youtube, onde ele expõe os pecados da pessoa que será morta e os espectadores decidem o destino dela através de likes e deslikes. Para isso, Cipriano conta com a ajuda de Júlia, uma investigadora que consegue se comunicar com a Internet através de sua mente.
Quem ler DEUSES CAÍDOS, irá encontrar muitas similaridades com outras obras, dos mais diversos gêneros, mas em especial com três: o terror sádico e gore parece extraído dos livros de Clive Barker; e Cipriano é uma versão nacional de Constantine, o personagem criado por Alan Moore para os quadrinhos e que tinha a mesma função de investigador do sobrenatural; o filme SEVEN, com Brad Pitt e Morgan Freeman, onde dois detetives perseguiam um assassino em série sádico. Além disso, a mistura de criaturas com tecnologia, e a necessidade de uma enorme suspensão de descrença, também remete bastante às obras de André Vianco.
Neste ponto, você pensa: nossa, parece tudo copiado, uma droga! Aí que reside a surpresa: é tudo muito bom! O autor conseguiu fazer essa sopa de referências e dar seu próprio tempero, utilizando uma metáfora gastronômica rssss
DEUSES CAÍDOS é um dos melhores e mais divertidos livros de terror que li nos últimos anos. Tudo na história é exagerado, os diálogos lembram atores canastrões, as situações de perigo são as mais variadas, as mortes são absurdas, as motivações do vilão são megalomaníacas, e no fim você descobre que leu tudo de uma só vez, porque é tudo escrito de uma forma que envolve e faz o leitor aproveitar cada palavra, como aqueles filmes pipoca, cheios de efeitos, que você vibra pelas situações cada vez mais incríveis.
Cipriano sempre tem algo pronto para salvá-lo do perigo, mas que ele deixa escondido e só usa no último instante. Ele sempre está um passo à frente de quem vai enfrentar, sempre tem um plano de reserva e utiliza de qualquer artifício para atingir seu objetivo, mesmo que seja de forma desonesta. Ele não se preocupa com a moral ou em ser julgado. Seus diálogos são provocativos, petulantes, convencidos, o que intimida, de forma convincente, seus adversários. Ele é o tipo de pessoa com quem você não gostaria de discutir, porque, certamente, perderia. Apesar disso, Cipriano não se encaixa no anti-herói, uma vez que, apesar de seu comportamento, sua essência é completamente boa, ele se preocupa com o seus e tem uma distinção clara do que é certo e do que é errado.
Júlia é uma coadjuvante de peso. Embora ela aparece bem menos que Cipriano, as partes em que aparece, são importantes e decisivas. Inclusive, no final, ela enfrenta uma das piores criaturas do livro. Seu poder lembra muito Doug Ramsey, o Cifra, personagem dos X-Men que se comunicava com os computadores e compreendia qualquer linguagem, e é explicado no decorrer da história, mas ele contém surpresas, uma vez que, quando o leitor acha que já compreendeu tudo o que ela pode fazer, é feita uma revelação que a coloca em outro patamar. É uma surpresa interessante e bem-vinda, ainda mais por usar da cultura brasileira, ou melhor, de uma das religiões brasileiras.
E essa é a qualidade que mais gostei em DEUSES CAÍDOS: o autor utiliza lendas nacionais para compor suas criaturas. Temos várias conhecidas, como o Saci, por exemplo. Mas em uma caracterização assustadora, mortífera, que deixa o leitor surpreso. Mas também vemos Cipriano enfrentar outras mais internacionais, como vampiros, gárgulas, feéricos, magos, feiticeiros, demônios e até mesmo fadas. Todas essas criaturas são caracterizadas de forma única, respeitando o que já conhecemos delas através de outras obras, mas elevando o morbidez de seus poderes.
Eu confesso que fiquei surpreso por a editora publicar uma obra de um autor pouco conhecido e em um selo voltado para um público mais restrito, que está acostumado a obras mais conhecidas, como as de Stephen King. Após a leitura, comprovada a qualidade de DEUSES CAÍDOS, eu compreendi o motivo da publicação. Se você não gosta de terror, se tem medo, não precisa. O livro não tem qualquer trecho que cause medo. Ele é mais um estilo de fantasia, como um X-Men para adultos, com mortes sangrentas e lutas violentas.
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