@blogleiturasdiarias 20/10/2018Resenha | A Boa FilhaComo minha primeira leitura de Karin Slaughter — e uma das primeiras dos gêneros suspense e mistério — saio feliz com o conteúdo encontrado, até arriscando a dizer que leria mais obras da autora. Pelo enredo de A Boa Filha, sua fama faz jus.
Charlotte e Samantha eram apenas adolescentes quando invadiram sua casa em Pikeville à procura de seu pai Rusty, um advogado de defesa odiado por algumas pessoas da cidade que o viam como “a mão direita do Satanás” por defender todo tipo de criminosos.Ele estava no fórum quando dois homens descontaram seu ódio na família — matando sua esposa, atirando na cabeça de Samantha, deixando-a à beira da morte, e aterrorizando Charlotte.
Afastadas pelo trauma, as irmãs precisam se reencontrar após um crime hediondo em uma escola. Charlotte é a primeira a chegar ao local do crime e revive a violência de seu próprio passado. Após tantos anos de segredos e silêncio, a família é obrigada a lidar com o caso em uma história de intrigas e reviravoltas que mostra que nem tudo é o que parece.
Confesso que livros assim não são opções que escolheria inicialmente, por isso me surpreendi quando percebi que estava conectada com a história, apesar de ser um tema pesado. A autora possui uma escrita que te instiga a querer saber mais, a descobrir toda a verdade e acompanhar o desmanche do que é falso ou verdadeiro. Saio chocada com todas as reviravoltas, plots twists e informações encontradas, no bom sentido. Em nenhum momento consegui imaginar quais caminhos seriam optados, e acredito que essa tenha sido a intenção da autora. Temos duas vertentes para acompanhar simultaneamente em volta de um suspense eletrizante — o drama de um assassinato e conflitos internos familiares.
"As pessoas ficavam ultrajadas. Ficavam grudadas as televisões, nos sites, nas redes sociais. Verbalizavam sua tristeza, horror, fúria e dor. Choravam um pouco. Arrecadavam dinheiro. Demandavam ação. E, então, voltavam para suas vidas até que a próxima tragédia acontecesse." pág. 209
Ao mesmo tempo que acompanhava os elementos sendo inseridos e as peças sendo encaixadas, como falei, nem nas minhas remotas ideias pensava na construção e o desfecho que nos é apresentado, sendo com certeza o maior ponto alto da narrativa. Pega de surpresa com a enxurrada de situações que a fecha, Karin Slaughter soube construir algo fora do comum, algo que até uma "leiga" deste tipo de leitura se encantaria. Sua escolha de escrita mais descritiva e dinâmica funciona. Pensei que em algumas cenas o andamento da leitura tornaria-se chato, porém me vi ansiando em entender todas as opções de escolhas que nos eram ofertadas.
Sobre os personagens, Rusty, Charlie e Sam foi um trio que merece o destaque de protagonistas. Que família, quantas mentiras, verdades e/ou acontecimentos tiveram! Me senti conectada com seus traumas, dramas, pesadelos e receios de uma tal forma, que você é tocada pelas suas dores e pesares. Como falei anteriormente, acho-o meio pesado no sentido do conteúdo abordado ser relativamente forte, no entanto a empatia gerada ao longo das páginas nos faz entrar na pele de cada um. Tiveram finais dignos — apesar de um especificamente um ser triste — mas compatível com a realidade da vida. Aliás algo recorrente é falar sobre assuntos atuais.
Os temas abordados além de serem importantes para debater — estupro, morte, tiroteio em escola, bullying, traição matrimonial — são elaborados primorosamente em torno da trama. Inicialmente não sabia o leque de conteúdo que acharia, e no final saio contente com o que encontrei. Tenha estômago forte porque diversas tragédias serão descritas minuciosamente — e acredite, não são poucas!
O final para aqueles que gostam de tudo sendo explicado será dado como excelente. Se apresentou muitas dúvidas e perguntas ao longo do volume, para que nos capítulos finais todos os pontos nos "is" fossem colocados. Pensei que ficaria alguma ponta solta — até pela quantidade de questionamentos gerados — todavia fui impactada com um final completo.
"Sam virou a página. Depois a próxima. Os olhos delas repassaram o que Kelly Wilson lhe disse." pág. 292
De uma forma geral, recomendo a leitura! Tanto para aqueles que amam o gênero quanto para aqueles que querer se arriscar no novo. Eu mesma que não tenho tanta experiência em enredos do tipo gostei, e me senti tentada a conhecer outras obras dela. É uma mistura de thriller psicológico, drama familiar, suspense e investigação policial muito bem dosados. Acredito ser algo único e diferenciado que chama atenção de todos os leitores, além de fazer refletir. Recomendadíssimo!
Sobre a parte física, achei a capa representativa do conteúdo assim como seu título. No início não entenderemos, entretanto a medida que a leitura avança, as pistas aparecem. A diagramação é padrão da editora, confortável, espaçada, com alguns erros ortográficos que não atrapalham a leitura. A narrativa é feita em terceira pessoa pelo ponto de vista da Sam e da Charlie. Outro destaque que posso fazer é a linguagem de fácil compreensão.
Saio feliz com o encontrado, rasgando elogios para A Boa Filha e com a sensação que lerei mais exemplares assim pela frente. Espero que tenham gostado!
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