Salões de Paris

Salões de Paris Marcel Proust




Resenhas - Salões de Paris


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Luiz Pereira Júnior 27/02/2024

Do menor para o maior
Mesmo o mais grandioso dos autores, escreveu (ou escreverá) invariavelmente algo que de tão inferior dará a impressão de ser de outra pessoa (e, mesmo assim, conseguiremos perceber que outra pessoa não poderia ter sido o autor da tal coisa ruim).

Explicando melhor: Marcel Proust é o autor da monumental obra-prima (termo gasto, é verdade, mas nem por isso menos verdadeiro) chamada “Em Busca do Tempo Perdido”, em que retrata, por meio de parágrafos longuíssimos, a experiência da passagem do tempo concomitante à reflexão sobre o sentimento amoroso em suas mais variadas formas e o retrato da alta (mas decadente) sociedade de sua época.

Em “Salões de Paris”, podemos ler textos menores de Proust publicados em jornais. Em alguns deles, já se encontram os rasgões de genialidade que marcaram o autor, como sua imensa capacidade de captar impressões do mundo que o cerca e de transmiti-las ao leitor. Podemos dizer, então, que esses são textos menores, sim, mas apenas no seu tamanho de crônicas.

No entanto, em outras crônicas, percebe-se o esnobismo do autor; a sua admiração pelas classes aristocráticas e pela nobreza (mesmo que decadente, como já afirmei); a bajulação a essas mesmas classes, chegando ao francamente constrangedor (talvez não para a época); o exagero ao retratar essas pessoas privilegiadas (um jardinzinho de uma nobre vira um Monte Parnaso; os escritos de um hoje esquecido escritor se tornam maiores que as produções de Shakespeare ou algo do gênero); a futilidade que se mescla ao retrato da época (por exemplo, duas das crônicas não passam de descrições do vestuário usado pelos burgueses endinheirados ou pelos nobres nem tão endinheirados assim).

E talvez o pior exemplo seja a crônica “Festa Literária em Versalhes”, em que Proust descreve um evento montado no Teatro de Versalhes em que algumas senhoras ricas declamam poesias ou leem trechos de romances famosos à época, fazendo chorar todos os presentes, e artistas tocam peças clássicas, fazendo chorar todos os presentes. Mas isso é o pior da crônica? Não, o pior é que a crônica não passa de uma enorme listagem dos presentes à festa e, no caso de algumas senhoras mais importantes, com a citação do que vestiam (lembrei-me de um certo baile de gala anual, que parece se destacar mais pelo que os convidados vestem do que pela relevância do que eles fizeram em suas áreas de atuação).

Vale a pena? Como introdução a “Em Busca do Tempo Perdido”, vale, sim, mas pode ter justamente o efeito contrário: fazer com que o leitor desista de conhecer um dos mais importantes livros de todos os tempos...
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Luiz Lélis 26/01/2024

Um pouquinho de Proust jornalista
Um compilado bem interessante de crônicas de um Proust, quase completamente, anterior a Em Busca do Tempo Perdido. Apesar disso, as melhores histórias, pra mim, são as mais tardias (entre 1912 e 1913), em que o autor já estava atravessado pela certeza de que tudo o que escreveria na sua vida seria, de fato, Em Busca do Tempo Perdido. Livro curto, leitura agradável, vale a pena pra quem quer conhecer um Proust mais jornalista.
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Bia* 18/01/2023

Tinha outra expectativa quando comprei, achei as crônicas bem arrastada e na maioria sobre assuntos que não são tão interessantes?
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jota 25/06/2021

BOM: mas talvez seja mais bem apreciado por especialistas em literatura e fãs incondicionais de Proust
Lido entre 17 e 24/06/2021. Avaliação da leitura: 2,7/5,0

Que me lembre li pouco Marcel Proust (1871-1922), acho que apenas No Caminho de Swann (1913), volume I de Em Busca do Tempo Perdido, e Os Prazeres e os Dias (1896), primeiro livro publicado pelo autor francês, ambos há mais de uma década. No início deste ano, com a continuação da pandemia, tinha pensado em ler os sete volumes de Tempo Perdido mas desisti logo nas primeiras páginas da releitura do volume I. Dizem que quem passa da página 80 (li isso em algum lugar na ocasião) então não pensará mais em desistir e ficará deleitado com a leitura do restante de toda sua obra. Não aconteceu comigo, infelizmente. Mas pela importância de Proust na literatura mundial e para compensar minhas deficiências de leitor, adquiri esse Salões de Paris, reunião de 22 crônicas publicadas em revistas e jornais franceses no tempo em que MP era jornalista, melhor dizendo fazia um tipo de colunismo social.

Algumas delas foram publicadas com seu nome real, outras com pseudônimos curiosos como “Étoile Filante” (Estrela Cadente), Dominique, Horatio, Pierre de Touche etc. Aqui também é preciso certa dose de paciência para levar a leitura até o final de cada texto, mas como eles são curtos – e alguns, bem poucos na verdade, são interessantes –, então não demorei tanto assim para finalizar o volume. Antes, é necessário ler a Nota do Editor, Proust Jornalista, mas especialmente a Apresentação com esboço de cronologia proustiana, de Guilherme Ignácio da Silva, professor de literatura francesa e especialista em Proust. Os dois textos são úteis, ajudam a situar as coisas e clarear fatos sobre a escrita proustiana.

Eles situam as crônicas no tempo e no espaço, quer dizer, nos salões de Paris, então frequentados por princesas, condes, condessas, membros da antiga e nova nobreza, alta burguesia ligada às artes etc. no tempo da chamada “belle epóque”. Período de cultura cosmopolita européia, sobretudo francesa, que se iniciou nos anos finais do século XIX e foi até a Primeira Guerra Mundial mais ou menos. A apresentação do professor Silva vai mais longe, identifica em algumas crônicas personagens, lugares e situações que irão depois reaparecer nas páginas de Em Busca do Tempo Perdido e isso seguramente é muito interessante para os fãs incondicionais de Proust. Mas como eu, eles terão de passar também por uma crônica altamente bajuladora (como várias das que escreveu) que Proust publicou em 1894, Festa Literária em Versalhes.

Nela ele, que então assina Toda Paris, não apenas descreve o local onde a aristocracia parisiense está reunida, o teatro de Versalhes, mas as modas, os trajes das mulheres em detalhes, os nomes daquelas pessoas todas, uma imensa lista que toma quase duas páginas da crônica! Uma atriz bastante famosa estava presente a “(...) sra. Sarah Bernhardt, usando um longo vestido de seda prateada, enfeitada com uma magnífica renda guipura de Veneza”, que depois iria declamar alguns versos de uma certa Mademoiselle Bartet. Pesquisando, descobri ser ela outra famosa atriz do final do século XIX e início do século XX. Na sequência, mais duas crônicas, ambas com o mesmo título, A Moda, porém uma de 1890 e outra de 1891, dois textos bem femininos, melhor, sobre o mundo feminino, sobre modas, vestidos de baile, um assunto que para Proust era “infinito!”. Felizmente nessa altura faltavam poucas páginas para o final do volume.

Ao mundanismo, aos ricos salões descritos nas crônicas de Proust se opõe a narrativa de outro autor francês (ou franco-argelino), de outra época, Albert Camus (1913-1960), de quem já li algumas obras e que escreveu em sua ficção autobiográfica, O Primeiro Homem, livro inacabado: “A memória dos pobres já é por natureza menos alimentada que a dos ricos, tem menos pontos de referência no espaço, considerando que eles raramente saem do lugar onde vivem, e tem também menos pontos de referência no tempo de uma vida uniforme e sem cor. [...] Só os ricos podem reencontrar o tempo perdido. Para os pobres, o tempo marca apenas os vagos vestígios do caminho da morte.” E ficamos por aqui...
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