Mariana 02/03/2021Desenvolvimento ruim num universo sensacionalA primeira impressão sobre esse livro é que ele é um típico episódio de Black Mirror, inclusive a sinopse lembra bastante o episódio Hang The DJ, da quarta temporada. Porém, é um livro que vai além disso porque ele é diferente. Certo, podemos dizer que ele é um livro estranho, talvez por ser escrito por um islandês, uma cultura que está muito longe da nossa e longe da cultura americana ou europeia que a gente está mais acostumado a consumir.
LoveStar falar sobre amor, falar sobre marketing, fala sobre tecnologia, fala sobre deus e fala sobre ciência. A história se passa em um mundo altamente tecnológico onde a empresa fundada por um homem visionário e megalomaníaco, a LoveStar, é um conglomerado líder em dois grandes pilares da vida humana: a morte e o amor.
Nesse mundo, essa empresa lida com a morte, revolucionando a maneira como os seres humanos enterram seus mortos. Por exemplo, ninguém mais é enterrado ou cremado. Os corpos são colocados em um foguete e lançados para o espaço, queimando como fogos de artifício no caminho. A LoveStar também tem uma divisão para o amor, onde eles estudam todas as pessoas que nascem e a partir de todas essas informações genéticas, e de pré-disposição de personalidade, unem parceiros perfeitos.
Além disso, nesse universo, a LoveStar também controla os nascimentos porque as pessoas tem algumas chances na vida. Por exemplo, um dos nossos protagonistas, o Indridi, nasceu duas vezes. No primeiro nascimento dele, ele era uma criança problemática e rebelde. Por isso, seus pais decidiram acabar com aquele comportamento fazendo com que Indridi nascesse de novo. De uma maneira bem clara: mataram o primeiro e fizeram um clone dele.
Nesse universo também existe algo chamado de REGRET, que é um programa que todos os seres humanos podem acessar para descobrirem se uma decisão que tomaram era certa ou não. Funciona mais ou menos assim: uma pessoa não sabe se devia pegar esse ônibus ou o próximo. Então, ela deixa esse passar para pegar o próximo e acessa o REGRET para descobrir se fez certo. O REGRET, então, calcula as consequências e diz para ela que estava certo, que ela morreria num acidente se pegasse aquele ônibus.
Enfim, eu trouxe aqui para vocês várias das tecnologias sociais que existem no mundo de LoveStar para dizer que em meio a tudo isso, a essa sociedade complicada e altamente influenciada pela tecnologia, vai acontecer uma história de amor. Nós temos o Indridi e a Sigrid, dois jovens que vivem juntos e que não foram testados ainda.
Ou seja, eles não sabem se eles são almas gêmeas porque nenhum deles pediu para a LoveStar avaliar sua compatibilidade ainda. Isso porque eles têm certeza de que são almas gêmeas. Porém, um dia, Sigrid pede a compatibilidade e eles descobrem que não são almas gêmeas. Essa descoberta faz toda a história andar para os dois e a gente começa a perambular por esse mundo e ir conhecendo essas tecnologias que eu descrevi.
A história da Sigrid e do Indridi é que nos leva ao mundo comum que o autor criou, o dia a dia de pessoas que vivem com essas tecnologias. Porém, a gente vê o outro lado também, o lado do LoveStar, o empresário que criou essas tecnologias todas e é o fundador do conglomerado. E a gente conhece o LoveStar num momento em que ele está buscando por sua nova empreitada, o LoveGod.
Sim, o LoveStar imaginou que toda a vez que uma pessoa faz uma oração, ela libera um tipo de energia, ela manda energia para algum lugar. E o objetivo dele agora é descobrir para onde vai essa energia, qual é a fonte de Deus. E descobrindo isso, ele quer transformar deus em um serviço, as orações em mensagens e os anjos em agentes. Por exemplo, uma pessoa está sofrendo um assalto e faz uma oração. Nisso, aparecem os anjos para salvá-la. É bem interessante, na verdade, quase diabólico, mas genial.
Como deu para perceber até aqui, esse livro tem duas grandes tramas acontecendo ao mesmo tempo e tudo isso acontece em 336 páginas. Ou seja, o livro não é muito bem desenvolvido e a trama é muito atropelada. Até 25% do livro, por exemplo, a história não avançou em nada, a gente só recebeu informações de como as coisas nesse mundo funcionam. E o final também é bastante anticlimático. A conexão das histórias do LoveStar com o Indridi e a Sigrid é falha também. Além de o casal principal ser bem nojento e estranho.
Porém, o trunfo do livro está para além dessas coisas porque me parece que a intenção do autor não era só contar uma história, era fazer a gente pensar sobre como a sociedade lida com a morte, com o amor, com o nascimento, com deus e com a tecnologia. No final, a gente fica com essa sensação de ter lido uma história muito audaciosa, rica e intrigante. Que poderia ter sido melhor desenvolvida? Com certeza. Mas que é muito boa.
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