Os Índios e a Civilização

Os Índios e a Civilização Darcy Ribeiro




Resenhas - Os Índios e a Civilização


4 encontrados | exibindo 1 a 4


ANDER CELES 03/07/2022

Conteúdo: bom. Linguagem: "intelectualoide"...
Claro, é um livro datado,. obviamente. Fala de acontecimentos até meados de 1960. Percebe-se que o autor fez uma série de livros, cada um abordando um aspecto da questão indígena. Dentro disso, podemos dizer que ele explicou muito bem a questão do índio e da "civilização".

Mas a linguagem usada...pelo amor de Deus. Tudo bem que foi até dito, no prefácio, que essa linguagem foi usada para que o autor pudesse ser levado a sério pelos intelectuais da época. Mas taí uma coisa: aproxima-se dos "intelectuais" e afasta-se das massas, para onde o livro de fato deveria se tornar acessível. Tem palavras que surgiram que não faço ideia do que significam, nem pelo contexto. E olha que sou leitor, imagina uma pessoa que não é? Não deve nem chegar perto desse livro.

O conteúdo é bom, mas podia ter uma linguagem mais acessível.
comentários(0)comente



><'',º> 21/02/2020

No texto de apresentação feito especialmente para a presente edição de Os índios e a civilização, o antropólogo Mércio Pereira Gomes, professor da UFRJ e ex-presidente (2003-2007) da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), avalia que Darcy Ribeiro tenciona neste livro demonstrar 'como é que os povos indígenas enfrentaram as agruras da expansão ocidental, em sua modalidade portuguesa, como sucumbiram tantos e como tantos outros conseguiram se evadir e ainda permanecerem fiéis às suas formas culturais.'

Texto extraído do livro
comentários(0)comente



Alan igor 03/11/2019

Conhecido nacional e internacionalmente por seu engajamento e militância na causa indígena, Darcy Ribeiro é comissionado pela Unesco, como ele mesmo diz: “Ainda menina, cheia de esperança de salvar o gênero humano, olhou para o Brasil” (RIBEIRO,2017,p.15), no início da década de cinquenta para fazer um levantamento sobre a atual situação dos povos indígenas no Brasil. O relatório, por sua vez, causou ao órgão grande estupefação, pois Darcy e sua equipe escancaravam através do documento a situação deplorável pela qual os povos indígenas brasileiros estavam passando.
O relatório, que posteriormente findou tornando-se a presente obra, apresenta como se deu as interações dos povos indígenas com a civilização e o resultado medonho de tais interações aos índios, como a sociedade nacional tentou febrilmente, por vezes, integrar e por outras extinguir os índios com os quais suas frentes de expansão deparavam-se. Fica claro, tão logo começamos a folhear o livro, não ser propósito do autor mascarar a então situação dos índios do Brasil tanto para a Unesco, quanto para os posteriores leitores do livro ao deixar claro, logo nas primeiras páginas, nunca ter havido assimilação do índio a sociedade nacional:
Nenhum grupo indígena jamais foi assimilado. É uma ilusão dos historiadores, que trabalham com documentação escrita, a suposição de que onde havia uma aldeia de índios e onde floresceu, depois, uma vila brasileira, tenha ocorrido uma continuidade, uma se convertendo na outra. [...] Os índios foram morrendo, vítimas de toda sorte de violências e uma população neobrasileira foi crescendo no antigo território tribal, onde implantou uma forma totalmente nova de vida e criou sua própria identificação étnica. (RIBEIRO, 2017, p.15).
Seja nos seringais e cauchais do Norte, onde o índio era obrigado a colher gratuitamente o látex, pelo fato de sua família está refém de truculentos seringueiros e caucheiros frutos da frente extrativista, seja nos sertões do país, onde os índios eram esbulhados quando não, chacinados e aí vão aldeias inteiras, limpados de suas terras por vaqueiros prole da frente pastoril, para os quais uma rês valia mais que a vida de cem ou trezentas mulheres e crianças índias, seja nas lavouras no Sul e Sudeste, no local onde outrora erguiam-se frondosas árvores da hoje tímida floresta atlântica, índios foram chacinados por homens que, dada a grande demanda, se profissionalizaram como caçadores, exterminadores de bugre (índios), para dá espaço e segurança aos gringos nórdicos, castelhanos, lusos etc. que foram contratados pelo governo para dá sentido aquelas terras incultas. A razão de ser daquelas terras achou-se no café, essa pequena semente que tão grandes lucros trouxeram ao país, lucros regados pelo suor do gringo e sangue de índio que ia morrendo conquanto a frente agrícola se expandia, levados e esquecidos pela maré verde, como ficou conhecida a frente cafeeira.
Para pôr fim a essa barbárie, o Estado, pressionado pela população citadina que já distante do índio tinha-o em contato somente na literatura que os apresentava de uma forma romantizada e idealizada como o bom selvagem e, agora, nas notícias espalhadas pelos jornais da época que noticiavam as infindáveis calamidades a qual esses povos estavam sendo submetidos, cria um Órgão voltado a proteção e a atração do índio a comunhão nacional. O SPI (Serviço de Proteção ao Índio) nasce em 7 de setembro de 1910, com a incumbência de levar e impor a lei em lugares onde lei eram os desígnios de fazendeiros que configuravam pequenos chefados aos quais o governo local e, muitas vezes, o estadual submetiam-se para manter-se no poder. Sem o auxílio dos governos locais e estaduais e a mercê de tais chefados locais o SPI pouco pode fazer pelos índios, que não tentar a pacificação, única coisa na qual o Órgão logrou bons resultados, mas aqui cabe uma questão: a quem importava tal pacificação e a quem ela seria mais lucrativa? Obviamente, como deixa claro o autor, a civilização. Surge então o primeiro expoente do indigenismo brasileiro. Marechal Candido Mariano da Silva Rondon, foi o primeiro indianista brasileiro e viu o índio não como uma fera pronta para o abate, mas um semelhante carente de auxílio e tão capaz quanto ele caso lhe fosse dado acesso aos meios necessários para a evolução social, pensamento este contrário ao de muitos etnólogos e antropólogos da época que viam o índio como fósseis vivos, uma herança da evolução humana que deveria ser esquecida e até mesmo exterminada, como foi defendido por alguns, pois representavam verdadeiro empecilho para o avanço da civilização. Norteado pelo dogmatismo positivista, Rondon militou tanto no SPI, Órgão que ajudou a criar, quanto em suas jornadas sulcando densas matas, pisando solo sobre o qual civilizado algum palmilhara antes, ao estender as linhas telegráficas que integrariam o Brasil (ou que ao menos deveriam), entrando em contato com índios nunca antes contactados pela civilização e pelos quais hora afugentados e hora festejados, nunca revidara uma só seta lançada por seus perseguidores, mesmo quando ferido, antes defendia a todos os de sua expedição seu maior lema “morrer se preciso for, matar nunca”, como relata-nos Ribeiro (2017, p.110-111)
Rondon ao penetrar os sertões mais ermos, fora ao encontro das tribos mais aguerridas do país, levando-lhes uma mensagem de paz e abrindo novas perspectiva nas relações da sociedade brasileira com povos indígenas. Através de s sua ação indigenista, Rondon provara que possível chamar a tribo mais hostil ao convívio pacífico da sociedade brasileira, por métodos persuasórios. Sua equipe havia atravessado territórios das tribos mais temidas, nos quais ninguém antes ousara penetrar, sem jamais hostilizá-las e acabando por confiar a confiança dos índios.
Dificilmente se encontrará em toda a amarga história das relações entre povos tribais e nações civilizadas um empreendimento e uma atitude que se compare aos de Rondon. [...] Em marcha pelos territórios indígenas, abria mão da força para se tornar ternura e compreensão. Por isso sua legenda “Morrer se preciso for, matar nunca” é, também, o ponto mais alto do humanismo brasileiro.
Assim, imbuído por esse espírito positivista, o SPI dá seus primeiros passos rumo aos índios na tentativa de pacificá-los e dá-lhes o auxílio necessário para que paulatinamente viessem a ser integrados a comunhão nacional como autênticos brasileiros, malogra, porém, na maioria de seus objetivos dado todos os entraves a cima expostos e posteriormente sem o apoio da União acaba por desfigurar-se e da esperança que um dia representara a muitos povos indígenas, transforma-se na mão do carrasco que lhes dá a pena capital ao mancomunar-se com as chefaturas locais em detrimento dos povos que deveria salvar.

Por fim, o autor esmiúça como se dava o início da interação dos índios, até então isolados, com a sociedade nacional, suas causas e as consequências de tal interação. Para tanto, divide os índios em graus de interação com a sociedade, tal qual dividia-os o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), são eles: isolados, em contato intermitente, em contato permanente e integrados.
Os povos isolados, apesar de muitas vezes já haverem tido contato com os brancos, foram contatos rasos, sem tempo para muita interação e, sobretudo, mantinham-se longe da sociedade, com isso preservavam intactas sua cultura e seu modo de ser, diferente dos que estavam em contato intermitente e em contato permanente cuja interação já havia sido mais elaborada. Os primeiros, em contatos esporádicos, haviam desenvolvido grande fascínio pelos produtos metálicos da civilização, sobretudo os cortantes e apesar de serem fortuitos eram suficientes para fazer surgir pequenas alterações no modo de vida dos nativos. Os últimos, já haviam desenvolvido certa dependência pelos artigos oferecidos pela civilização, a cultura e o ethos tribal encontravam-se profundamente alterados, ainda que, com muito esforço, a população mantivesse certa autonomia cultural e social. Todas essas etapas desembocam nos povos ditos integrados. Esses povos, já distanciados de sua cultura à medida que apegaram-se a cultura alheia como sua, facilmente confundem-se com os matutos, sertanejos e caboclos da região onde habitam, pois têm em comum os mesmos traços físicos, o mesmo estilo de vida e a mesma língua, visto que a maioria esquecera da sua própria, se dentre esses não houvesse quem se identificasse como sendo índio e pelos demais assim fosse identificado, não perceber-se-ia dada todas essas similaridades.
O grande fascínio que os nativos nutriam pelos materiais metálicos cortantes tal qual machados, facas, facões etc. era capital para a evolução das interações entre índios e brancos, pois tais artigos eram capazes de reduzir muito o tempo despendido para certas atividades, como derrubar uma área de mata para o plantio de uma roça ou o fabrico de uma canoa que antes eram executadas com materiais produzidos de pedra e esse tempo restante poderia ser utilizado para a confecção de materiais para a caça e pesca, pintura corporal e mesmo o lazer. O problema encontra-se no fato de os nativos tornarem-se dependentes daquilo que não podem produzir, haja vista que nunca desenvolveram a metalurgia, e quem produz e oferta só o faz por meio de uma via, o comércio, coisa estranha a esses nativos. Tudo isso é assim apresentado e eu diria até mesmo imposto ao índio, de supetão. De uma hora para outra o índio se vê cercado por uma gama de novidades a qual é induzido a tomar parte e tudo isso sem um mínimo de tempo para digerir todos esses fatos, todos esses acontecimentos. O índio nesse processo de integração é forçado a se habituar com algo que a humanidade levou milênios, ou seja não há tempo para uma análise acurada sobre os elementos brutos de tais artigos, tempo para o descobrimento das fontes naturais desses elementos e posteriormente as formas de manuseio e moldagem para fins humanos o que levaria a autossuficiência desses povos com relação a tais artigos. Posto tudo na balança, um distúrbio interno na sociedade indígena é lógico e foi o que de fato ocorreu como vemos o autor relatar-nos que para suprir sua necessidade pelos artigos abundantes na civilização, os índios vendiam-se como empregados para os brancos em troca de machados, facas, facões, sal e gordura, as horas livres proporcionadas pela aquisição de tais materiais eram agora reutilizadas não para o lazer, mas a confecção de arcos, flechas, redes, adornos entre outros objetos indígenas destinados a venda para a posterior aquisição dos tão almejados artigos cortantes da civilização. Com isso se perde a delicadeza, a sofisticação e o perfeccionismo que permeiam a confecção indígena, pois para o índio tudo tem significado, cada trançado, cada cor, cada pintura, cada pluma, cada forma impressa em seus objetos é a assinatura de seu fabricante, tem uma razão para estar ali, tem um porque, uma vez que o índio não divide os mundos como nós o fazemos em mundo animal, mundo vegetal, mundo humano, mundo físico, mundo espiritual etc. o índio vê o mundo como um todo, como um só onde tudo se converge, onde há uma interação entre o todo, onde tudo se conecta e é essa beleza, essa sensibilidade, essa forma toda singular de ver e interpretar um mundo belo, que agora se vai sobreposta por interações comerciais que nada tem com o modo de ser indígena. Esse distúrbio gerado por fatores exógenos alcança a sociedade como um todo a ponto de desestabilizar o próprio ethos tribal, fazendo com que o índio perca a fé em suas crenças, não encontre mais sentido em seu mundo, seus mitos passão a ser insuficientes e, em muitos casos, obsoletos para explicar todas as mudanças que vão ocorrendo em cascata em sua sociedade. Esses povos que outrora olhavam-se com grande orgulho e altivez assegurada por seus mitos e tradições, agora são forçados a se enxergarem com o olhar dos brancos, a verem a sí próprios como bichos errantes, seres desalmados sem razão de existir, salvo quando usados como alvo para treinar a pontaria dos vaqueiros ou como fonte de renda que lograram fama a muitos bugreiros. Talvez não seja de admirar ser tão vermelha a cor daqueles chãos.
O autor termina seu livro frisando uma vez mais os números alarmantes do descenso da população indígena no país à medida que se aproximavam da integração:
No trânsito da condição de isolamento à de integração, 87 grupos indígenas foram levados ao extermínio [...] O vulto do extermínio em número de pessoas foi muito mais ponderável. Aos 105 grupos isolados de 1900, correspondia, segundo uma avaliação grosseira, uma população de 50 mil índios. Aos seus sobreviventes, classificáveis nas diferentes categorias de integração (exceto os ainda isolados), correspondia, em 1957, tão somente uma população de 13 320. A proporção de extermínio no período considerado foi, portanto, 73,4%. (RIBEIRO, 2017, p. 378).
Suas perspectivas futuras são um feixe de luz em meio a tão densas incertezas com relação ao futuro dos índios no Brasil, ao afirmar que apesar de a depopularão indígena continuar sendo uma realidade no futuro, os que alcançarem a integração manter-se-ão podendo, até mesmo, crescer caso lhes seja garantida condições adequadas para tanto:
Prevê-se uma redução progressiva da população indígena, a medida que os diversos grupos passem da condição de isolamento à de integração. Esta redução não condenará a parcela indígena da população ao desaparecimento como contingente humano, porque os grupos indígenas, ao alcançarem a integração, tendem a experimentar certo gral de incremento demográfico. Este incremento, que, presentemente, permite a alguns grupos refazer parte de seu montante original, poderá levar muitos grupos a aumentar sua população, desde que lhes sejam asseguradas condições de vida adequada. (RIBEIRO, 2017, p. 386).
Termina sua obra coesamente, reafirmando sua premissa, negando que houvera assimilação de populações indígenas, antes sim, uma acomodação dos que conseguiram chegar ao estado de integrados. Não são brasileiros, como quisera que fossem a União para extirpar de sobre esse solo este entrave ao desenvolvimento nacional, são índios. Ainda que genericamente:
Permanecem índios porque sua aculturação não desembocou numa assimilação, mas num estabelecimento de um modus vivendi ou de uma forma de acomodação. Isto significa que o gradiente da transfiguração étnica vai do índio tribal ao índio genérico e não do indígena ao brasileiro. (RIBEIRO, 2017, p. 387).
comentários(0)comente



Rafael1082 17/05/2024

Modus vivendi
Focando principalmente na primeira metade do século XX, o livro traz um panorama completo sobre o que é ser índigo e nas diferentes frentes de expansão da sociedade, sobre os acertos e diversos erros da política indigenistas, e sobre a identidade que é perdida ou recriada, uma leitura obrigatória pois apesar de sermos brasileiros, estudamos pouco sobre esse assunto na escola.
comentários(0)comente



4 encontrados | exibindo 1 a 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR