A Superstição do Divórcio

A Superstição do Divórcio G. K. Chesterton




Resenhas - A Supertição do Divórcio


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LuisIV 31/01/2024

Chesterton em defesa do matrimônio.
Escrito há 100 anos e o que era para ser um planfeto passageiro, perdurou no tempo...

Chesterton tem um estilo de escrita interessante, ele inicia com uma analogia e logo depois apresenta seu argumento, o que torna o entendimento mais simples. No entanto, ainda assim deixei passar muita coisa, sem dúvidas precisarei reler.

É incrível como o divórcio - uma desonra do próprio voto - é banalizado hoje em dia e foi duramente criticado por ele lá em 1926. O matrimônio é uma das decisões mais importantes que um casal fará na vida, a sua dissolução deveria ser visto como algo devastador e não libertador.

Com o matrimônio, vem a formação da família que nas grandes distopias é sempre o primeiro alvo dos ditadores. É dentro dessa instituição que somos formados e Chesterton não economiza palavras ao defendê-la.
LuisIV 31/01/2024minha estante
Na segunda parte do livro Chesterton entra em outros tópicos mas realmente foquei nesses que pontuei acima... Em alguns temas que ele se propôs a comentar (como a teoria da evolução), eu entendo que se trata de um "questionamento válido" para a época e vou me abster de comentar sobre ?




Rodrigo.Guimaraes 19/09/2023

Mais que uma recomendação, uma urgência!
Primeiramente, vale a pena ler A Superstição do divórcio, a edição que li contém este livro juntamente com anexos referente aos artigos que Chesterton publicou sobre diversos temas. Olha, não dá para explicar a importância de um livro que informa o contexto social da época e traz uma linha de pensamento sobre aquilo que o autor viveu, somente lendo e analisando os pontos que ele traz para mensurar o valor desta obra, mas sem dúvidas é uma ótima leitura, pois um dos maiores problemas do mundo moderno é olhar por exemplo para o título do livro, e repudia-lo, sem ao menos pesquisar sobre o tema, sobre o pensamento do autor etc. Se você pensa que Chesterton vai condenar quem se divorciou ou algo do tipo, está enganado, ele traz o pensamento que guiou o movimento do divórcio pela Europa e EUA, em especial. Os impactos, e acima de tudo apresenta uma grande apologia ao matrimônio. Que diga-se de passagem, levanta pontos tão importantes, mas que são esquecidos por aquele que casaram, que irão casar ou que não pretender casar. Em resumo, leiam!
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Willian.Izidio 09/08/2023

Lucidez
O autor, embora católico, não discute a questão do matrimônio desde o ponto de vista teológico, mas sim de forma bastante lógica e racional. Fala-se em superstição ? na forma de alerta ? quanto ao possível surgimento de preconceitos decorrentes da incoerência de pressupostos que anseiam pela abolição de outros (preconceitos). É uma defesa da prática real, do senso comum e da liberdade contra as teorias de gabinete dos intelectuais.

Sem incorrer em moralismo, Chesterton nos apresenta nesta série de ensaios uma miríade de reflexões sensatas como antídoto contra as propostas revolucionárias de engenharia social.

É muito interessante o fato de o autor ser antipático tanto ao socialismo quanto ao capitalismo. Nesse sentido, permeia a obra a primazia da família enquanto instituição voluntária, baseada no amor, que antagoniza com a instituição do Estado que é coercitiva, baseada no medo.

Em seu aspecto panfletário contra o divórcio, o objetivo da obra é tornar-se obsoleta: tal é a natureza de um panfleto.

Em seu aspecto literário, que caracteriza-se por alguma pretensão de permanência, o autor confessa que seria necessária uma abordagem mais filosófica ou religiosa. De qualquer modo, achei bastante satisfatória a síntese apresentada no ?ideal de fidelidade?, ela caracteriza a obra como um monumento em defesa da liberdade humana em sua forma mais plena.
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Matheus 14/07/2023

O que dizer desses ensaios? São escritos por Chesterton! Isso nos diz muito, nos diz que estamos diante de algo profundo e bem refletido, nos diz que ouviremos a defesa do que não esperamos e veremos açoitar aquilo que defenderíamos. Diante de seus paradoxos, Chesterton abre nossos olhos para um olhar mais profundo, mais completo, mais amplo e assim mais esperançoso da vida e do matrimônio. Que esse juramento deva ser cumprido a todo custo, que o ser humano mostre sua humajidade em jurar e ir a frente, em não dar meia volta quando sua bandeira parecer cair. Chesterton nos levanta parano heroísmo, para a virtude, para a entrega! Aqui também se encontra um dos melhores ensaios de Chesterton: o que há de certo com o mundo.
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Thayane Oliveira 21/02/2023

5/5
Acho fantástico que no mundo do Chesterton, até o título do livro seja um presságio de seu senso de humor. Como um mundo que acredita que toda a felicidade de um casamento ruim, pode ser restaurada mediante a dissolução do compromisso, como se o juiz por si só pudesse redimir todo o resto. O divórcio, o aborto, o sexo livre são as nossa superstições atuais, são as estradas que prometem felicidade, mas já estamos diante de sua face mais cruel, famílias destruídas, culpa, mães solteiras , aumento da criminalidade etc.
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Nina 29/11/2022

O que significa casamento?
Antes de entrar no resumo dessa obra fenomenal é preciso entender alguns pontos:
• O livro é um compilado de ensaios, onde o autor aborda temas como divórcio, família, mulher e sociedade;
• O ensaio principal, que dá nome ao livro, foi escrito no século XX em um momento de mudanças na lei do casamento para facilitar o divórcio na Inglaterra;
• Os ensaios não são um posicionamento contra o divórcio, mas a favor do matrimônio, para o autor antes de se pensar em divórcio é necessário entender o que é de fato o casamento.

A principal crítica de Chesterton aos defensores do divórcio é que, eles afirmam ser algo necessário, mas nunca perguntaram a si mesmos se queriam de fato o matrimônio, para ele, divorciar-se na verdade é descasar-se, portanto é necessário entender o que caracteriza o matrimônio.

Chesterton defende [ao contrário do que vemos hoje] que justamente quando o matrimônio se torna árduo e difícil é que há necessidade de honrá-lo, ninguém promete “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” esperando que a vida seja apenas de saúde e alegria, é justamente na doença e na tristeza que a aliança se prova verdadeira.

O autor destaca que “A maneira mais sucinta de colocar o problema é perguntar se o sermos livres inclui a liberdade de impormos obrigações a nós mesmos. Pois o voto é um pacto assinado consigo mesmo”.

Chesterton não negligencia que há casos específicos em que o divórcio é uma opção, veja bem, ainda sendo uma opção, não é motivo de alegria, essa opção existe justamente por causa da maldade do coração humano, entretanto, valer-se da opção não significa louvá-la. “Para nós, o divórcio é, na melhor das hipóteses, um fracasso”.

“A consequência óbvia do divórcio realizado com frivolidade é o matrimônio assumido com frivolidade. Se uma pessoa pode separar-se sem maiores justificativas, logo hão de considerar ainda mais fácil unir-se sem maiores motivos”.

Decidi nesse breve resumo me concentrar no ensaio principal, mas há muitos outros assuntos importantes abordados em 149 páginas que valem toda nossa dedicação & reflexão.
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Thayna.Brune 23/03/2022

Pertinente e atual
Chesterton nos traz, diferentemente da abordagem de ?O que há de errado com o mundo? uma visão global e atemporal. As vezes era difícil me lembrar que aquelas palavras tinham sido escritas no século XX e isso é, na mesma proporção, preocupante e genial.
O capítulo ?A perseguição à religião? entretanto, pressupõe do leitor um conhecimento prévio muito abrangente da produção cultural da época, o que particularmente me incomodou - uma vez que eu não tinha a bagagem requerida.
A leitura é fluida e cativante, a sensação de sentar com uma pessoa tão inteligente que você só concorda com tudo - e o que discorda, tem que estudar muito para discordar com propriedade.
Chesterton é genial. E esta obra comprova isso de várias maneiras diferentes.
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Gabriel 09/10/2021

Um oásis para o leitor
Chesterton elabora um manifesto muito bem fundamentado em prol do matrimônio, suscitando as incoerências dos propugnadores do divórcio.

Em verdade, há mesmo uma contradição naqueles que louvam o divórcio como a solução para os problemas do matrimônio, sem nem sequer considerarem questionar o que é de fato o matrimônio. A mesma idéia romântica que permeia a cabeça dos otimistas com relação ao matrimônio, permeia também a cabeça dos defensores do divórcio.

Mas Chesterton vai além e destaca também detalhes específicos da Inglaterra daquele tempo, como as condições sociais que dificultavam o "ideal" do matrimônio entre as classes mais pobres e tudo o que os intelectuais materialistas não conseguiam enxergar. Para o britânico paradoxal, o casamento é um voto e, portanto, tal como não desertamos da nossa pátria, não deveríamos desertar da nossa família -- especialmente se levarmos em consideração que o patriotismo é uma consequência de fatores aleatórios e o matrimônio é uma consequência das nossas próprias escolhas.

Além disso, o casamento seria também o meio mais eficaz para conter e refrear os impulsos exagerados do Estado; ou seja, o matrimônio é uma pequena reprodução do Estado que serve para manter as engrenagens do sistema ativas dentro de um certo parâmetro.

O divórcio, por sua vez, é considerado como uma postura falha desde o princípio. Aliás, num raciocínio típico de Chesterton, somos brindados com a informação de que é o próprio divórcio que eleva o matrimônio a uma essência sacramental que, para seus críticos, ele não possui. Se o casamento é uma mera formalidade, por que a necessidade do divórcio? Por que o homem não se envolve com quem bem entender sem se casar? E por que não sai largando uma para se relacionar com outra no minuto seguinte, quando assim aprouver aos seus instintos? Se há a necessidade disso tudo, certamente há algo de diferente no matrimônio; algo que antecede a própria estrutura do Estado e deve ser preservado.

Chesterton ainda conclui que essa perspectiva [devemos ter em mente que se trata da Inglaterra no século XX] não reflete nada além do desejo do homem de querer abraçar o mundo. Se eu quero viver cem vidas, deitar-me em cem camas e viver nessa insatisfação perene, não há remédio que chegue. Até porque, depois de realizar tudo isso, a fome irrefreável novamente aparecerá. Chesterton diz que "é esse o estado de espírito do homem moderno, algo tão mortífero quanto a própria condição de já estar morto" (p. 93).

Após o panfleto intitulado "A superstição do divórcio", há ainda outros pequenos ensaios a respeito de temas similares envolvendo a família, a mulher e a relação de ambos com a sociedade; todos muito bem escritos. Enfim, um oásis para o leitor.
Carol 08/04/2022minha estante
Excelente resenha. ????




Luiz 26/09/2021

O matrimônio é um Voto, é uma questão de honra, uma promessa
Livro: A Superstição do Divórcio e outros ensaios sobre a família, a mulher e a sociedade.
Autor: G. K. Chesterton

Ainda que o casamento possa ser defendido pela sua conotação espiritual/religiosa, Chesterton irá argumentar neste ensaio que o matrimônio pode ser defendido também por razões políticas e filosóficas.

O autor contra argumenta os ditos "reformadores sociais", intelectuais que defendem a ruptura da família, ou pregam a revolução e libertinagem sexual, além de combater a lógica de mercado capitalista que ataca na prática a família. O livro conta com alguns outros ensaios que tangenciam o tema, seja o controle de natalidade, a educação dos filhos, a perseguição religiosa e etc.
Excelente leitura!!!

"[...] Convém que os homens quebrem as promessas que fazem? Convém que nos homens façam promessas? Estas são questões filosóficas. Mas a peculiaridade filosófica do divórcio seguido de um segundo matrimônio, em relação ao amor livre e sem união matrimonial, é que, no primeiro caso, o indivíduo quebra e faz uma promessa ao mesmo tempo. É uma filosofia altamente alemã, e traz à mente o sistema inimigo de celebrar a destruição vitoriosa de todos os tratados mediante a assinatura de outros. Se eu fosse quebrar uma promessa, trataria de fazê-lo sem prometer mais nada."
(p. 14-15)

"A criança é uma explicação dos pais; e o fato de que se trata de uma criança humana é a explicação dos laços imemoriais que ligam o pai e a mãe."
(p. 45)

"O que se respeita, em suma, é a fidelidade à antiga bandeira da família, bem como a disposição de lutar por aquilo que defini como o tipo único de liberdade que a caracteriza. Digo disposição de lutar porque, felizmente, a luta em si é a exceção, não a regra. Respeita-se o soldado, não por ele estar fadado a morrer, mas por estar disposto a isso; e até mesmo por estar preparado para a derrota. A pessoa casada, seja homem ou mulher, não está fadada ao mal, à doença ou à pobreza; mas, sim, é respeitada por ter dado um determinado passo para o bem ou para o mal, na riqueza ou na pobreza, na saúde ou na doença."
(p. 71-72)
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Marcos 24/09/2021

Como o curso de um rio
G. K. Chesterton seria um vidente se tivesse optado por tais caminhos supersticiosos. Porém, escolheu escrever sobre como a história se enveredava por cursos perniosos. Ele tirou uma fotografia do curso do rio que toda a humanidade estava seguindo. Divórcio, trabalho, escolas obrigatórias, liberdade. Temas iniciais à sua época e que já são permeadas na estrutura social neste século 21. Quem dera o homem tivesse escutado esse barbeiro vidente, tão lógico e simples ao escrever sobre um rio.
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Lucio 20/08/2021

Família ou Barbárie!

INTRODUÇÃO

Este é um livro, como já se espera pelo título, em defesa do matrimônio. Mais do que isso, um livro que busca definir o que é o matrimônio e, só então, definir o que é o divórcio. E ao se defender o matrimônio, inevitavelmente se defende a família. E a defesa da família está intimamente ligada à defesa da liberdade, da sociedade e da civilização. Eis a síntese do que temos nessa coletânea de artigos que logo foram acrescidas de alguns outros dentro deste escopo para compor uma grande obra de filosofia moral.

RESUMO

O cerne do argumento de Chesterton é bastante conservador - no sentido filosófico do termo. Para o autor, os defensores do divórcio querem revolucionar algo que nem mesmo entendem e, portanto, não podem prever as consequências, tornando a proposta altamente imprudente. Com efeito, é preciso, pois, antes de se buscar reformar qualquer coisa, entender a coisa, é preciso conhecer a 'forma'. E para tal, o autor defende o casamento como essencialmente um voto. Um voto é uma obrigação que fazemos a nós mesmos, um compromisso de lealdade. Chesterton nota como esse valor foi amplamente defendido no medievo e que foi substituído pelo contrato, sem promover, com isso, alguma melhora. Um voto de lealdade ao casamento é semelhante a um voto de lealdade à bandeira - o que faz com que, obviamente, seja absurdo tentar justificar a deserção quando as coisas estão ruins. Mas, enquanto as pessoas entendem o raciocínio quando diz respeito ao patriotismo, parecem ignorar no que diz respeito ao casamento - que é um patriotismo muito mais respeitável. É por isso que, mesmo reconhecendo as grandes dificuldades que podem existir num casamento, vale dar a vida por essa bandeira e tentar, a todo custo, mantê-la.
A propósito, o filósofo defende a família como um pequeno-Estado. É a única instituição que pode enfrentar o Estado e que se forma naturalmente e que renova sua própria existência. É o último bastião de defesa contra o totalitarismo, pois ela reivindica uma lealdade última que não à pátria, anterior a esta e até mesmo que fundamenta esta. Por isso, as pretensões de domínio sobre o indivíduo são frustradas quando há esse núcleo de fidelidade e lealdade à qual ele pertence. A família e o lar formam a pequena província onde o indivíduo é rei. Quebrar tal reinado é um prato cheio a toda pretensão totalitária.
Os apologistas do divórcio, amiúde, fundamentam sua perspectiva em torno de uma filosofia do amor-livre. Chesterton procura confrontar tal noção com a realidade. Primeiro, observa que há um romantismo tão ingênuo quanto aquele do qual acusam os defensores do matrimônio, i. e., eles parecem entender que quando as pessoas se divorciam surge um 'felizes para sempre'. Na verdade, é bastante comum que uma das partes não deseje o divórcio e permaneça com o coração partido. Não é raro que nenhuma das partes alcance felicidade. Além disso, a filosofia do amor-livre coloca o indivíduo numa situação do que Bauman chamaria de 'amor-líquido'. Afinal, é preciso experimentar, ser feliz e buscar o que nos completa. A variedade de possibilidades quando não há mais qualquer compromisso fixo se torna altamente sedutora. Qualquer compromisso sólido torna-se uma negação do amor que deve escoar e buscar sempre uma nova paixão. Aliás, os próprios casamentos não mais são buscados com seriedade e responsabilidade, pois é muito fácil desfazer-se deles. Assim, a própria família já não é mais um núcleo seguro de outrora e a própria liberdade civil que ela proporciona encontra-se ameaçada. A filosofia do amor-livre, para além de sua própria loucura idolátrica, também é responsável por este grande desafio e ameaça política.
O que querem os proponentes do divórcio não é apenas uma negação do matrimônio, mas que os divorciados tenham o respeito e dignidade dos casados. Não ocorre a tais apologistas que o respeito, estima e consideração pela instituição familiar vem justamente de sua solidez, do voto de lealdade e do compromisso até o fim. Não há como receberem o mesmo respeito sem ter os mesmos atributos que conferem respeito. E perdem o respeito justamente por negar tais atributos.
Chesterton também observa que muitos arautos do divórcio buscam casos desastrosos de casamento para validar a rejeição de modo geral. Então, o autor, com grande sagacidade, observa que é ainda mais plausível apresentar os casos em que se abusaria de tal liberdade para o divórcio. Com efeito, muitos homens buscariam se aproveitar ao máximo da situação. Muitos se casariam já concebendo o tempo em que suportariam algum contra-tempo, ou mesmo buscariam outra mulher assim que enjoassem daquela. Qualquer contra-tempo faria um cafajeste sair de um casamento. E muitos cafajestes, acrescentamos, se manifestariam como tais. Assim, qualquer perspectiva de lealdade e compromisso se tornaria algo bastante raro rapidamente.
O autor também vincula a permanência do casamento ao grande empreendimento familiar: a criação de outro ser humano. Aqui, vemos Chesterton repetir os clássicos argumentos do 'O Que Há de Errado com o Mundo' no que diz respeito ao papel da mulher na educação dos filhos. É por isso que, na segunda parte do livro, teremos artigos confrontando a suposta emancipação da mulher para ser serva fora e realizar algo muito menos grandioso do que a formação responsável do indivíduo. Este é o vínculo, aliás, do tema central do livro com algumas das partes em que ele resolve versar sobre educação - incluindo aí um brilhante artigo confrontando a pretensa neutralidade na educação.

CRÍTICAS

Este seria um livro sensacional se Chesterton não tivesse comprado tantos mitos progressistas. O autor revela uma grande ignorância no que diz respeito ao capitalismo enquanto sistema econômico. Ele não percebe que é justamente numa economia de livre mercado que os salários podem aumentar para que o trabalhador sustente sua família. Não reconhece que fora desse sistema, não raro, não havia, para muitos, nem mesmo condições de sustentar os filhos e que muitos morriam de inanição mesmo na Inglaterra. E não parece notar que é justamente nesse sistema que surgem as condições materiais para que uma mulher não precise abandonar o filho no lar e ir atrás de trabalho para sustentar a família, somando seus recursos ao do marido.
Mas, pior do que isso, é Chesterton, tal como tantos progressistas, não conseguirem distinguir o capitalismo, enquanto sistema econômico, do liberalismo enquanto filosofia de vida. Conservadores são capitalistas sem serem egoístas, contrários à família, individualistas e etc. Com efeito, o filósofo comete o erro elementar dos progressistas de julgarem que esse sistema econômico é o responsável pela maioria dos vícios humanos que lhes são inerentes.
Para piorar, Chesterton comete o erro oposto ao que ele denuncia, alhures, no socialismo - a saber, o de, no final das contas, considerar o pobre como desprovido de virtudes. O autor, não raro, parece considerar que todos os ricos, ou sua maioria, são gananciosos egoístas desprovidos de quaisquer virtudes ou valores. Além da generalização ingênua, esquece-se que pobres e ricos têm suas próprias tentações ao vício e suas próprias condições de desenvolverem virtudes. No afã de criticar o que hoje chamaríamos de 'metacapitalistas' (progressistas burocratas que usam o Estado para minar a concorrência e os obstáculos ao seu império), acaba trocando gato por lebre e condena os ricos, não o amor ao dinheiro, bem como o capitalismo, não os capitalistas maus que se valem do sistema para perpetrar suas vilanias.
Chesterton chega mesmo ao absurdo de considerar que os socialistas não tinham a intenção clara e determinada de, na prática, negarem a família. É verdade que ainda não havia surgido os progressismos identitários que conhecemos em nossos dias, mas já havia o bastante de feministas proclamando as maiores barbaridades e conseguindo cada vez mais espaço na sociedade. Já havia os próprios progressistas defensores do divórcio e do amor-livre - coisas que nenhum conservador defenderia - e as claras manifestações de Marx e Engels a esse respeito. É ingênuo e equivocado o autor acreditar que o capitalismo e as indústrias eram os reais vilões, e que todo rico e capitalista tinha por propósito dividir a família para poderem se assenhorar dos indivíduos. Isso não é inerente ao capitalismo em si e nem nos parece ter feito alguma vez parte das pretensões, em geral, das pessoas, dos empresários - sejam eles grandes ou pequenos. Mas declaradamente fez e faz parte da agenda progressista.
Todos esses equívocos são bastante comprometedores. O leitor maduro terá que pacientemente ignorá-los para absorver o que há de melhor na obra. É preciso rejeitar tais lamentáveis erros e focar a atenção em todas as coisas boas que o autor nos proporciona enquanto crítico cultural.
Ainda poderíamos fazer uma última crítica bastante pontual. Chesterton, aqui, diferente do 'Tremendas Trivialidades', é mais explícito no que diz respeito ao cristianismo. Observa, bem ao espírito tomista, que a fé já defendia desde sempre o que a razão pôde concluir a respeito de tão sagrada instituição. Mas ainda assim, apesar das observações declaradas de que não pretendia apontar para os aspectos teológicos explícitos da questão, faltou observar o papel imprescindível da fé para a lealdade e, no último capítulo, para a própria felicidade. Apontar a questão já bastaria. No entanto, o autor poderia se esquivar dizendo que já havia apontando essa questão - e de modo magistral - no 'Ortodoxia'. Seria uma ótima saída.

REFERENCIAL TEÓRICO

Chesterton, como é de costume, faz referências à literatura. Embora, aqui, ocorra em menor proporção, ainda veremos aqui e acolá Dickens, Stowe, W. S. Gilbert... e etc. O autor mencionará nominalmente Shaw, seu eterno adversário. Mas tem em vista os socialistas fabaianos em geral em suas críticas. Godwin e sua esposa, Shelley, aparecem num capítulo específico, junto a Malthus. Ibsen, Dante, Shakespeare, Tomás de Aquino e Doyle, enquanto clássicos, também têm uma ou outra referência. Aqui e acolá surgirão alguns autores menos conhecidos, como Somerset Maugham. No mais, a maioria dos seus opositores ou mesmo suas referências construtivas não são nomeadas. Chesterton fala dos defensores do divórcio de sua época, mas somente E. S. P. Haynes é mencionado explicitamente. O autor também fala de progressistas e reformistas sociais, mas sem nomes. Os leitores da época certamente tinham melhores condições de nomeá-los. Em geral, podemos dizer que o autor enfrentava progressistas e feministas da época e tinha por referência os clássicos da tradição ocidental.

RECOMENDAÇÃO

Como já estamos cansados de observar, Chesterton é um autor fácil de se ler, por um lado, e muito difícil, por outro. Por um lado, há uma escrita muito fluida e prazerosa. O autor é um frasista de primeira e tem um estilo de prosa bastante cativante. Mas tais aspectos literários podem acabar obliterando a grandiosidade filosófica de seus argumentos. Por isso, o livro é mais bem aproveitado pelo leitor atento e experiente, que consegue captar as nuances argumentativas em meio ao fluxo rápido e ilustrado de pensamentos deste grande filósofo. Quem estiver ciente dos cânones básicos do conservadorismo encontrará ainda maior vantagem na leitura, percebendo-a coadunar em muitos aspectos com tal perspectiva de mundo. Quanto à temática em si, é crucial para todos, pois, em geral, todos participamos de uma família, seja como filhos, seja como cônjuge, seja como pais. Mas ao pesquisador em filosofia política e filosofia moral, particularmente, há um especial interesse. E particularmente os interessados em assuntos como o feminismo e o liberalismo moral (comum a progressistas e liberais) poderão tirar muito proveito desta grandiosa leitura.
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Dani Gazaniga 19/06/2021

A superstição do divórcio
Este gênero da literatura certamente não é um dos meus favoritos, e sempre que costumo ler este tipo de livro demoro mais tempo para poder refletir, entender e digerir a escrita, que ao meu ver é mais complexa.
E este foi o primeiro livro deste gênero que realmente me prendeu e que consegui ler rápido e entender facilmente sua linguagem.
Uma leitura calma e que questiona sobre muitos aspectos relevantes que talvez no cotiano nós não tenhamos feito uma pausa para pensar.
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Vinícius 14/09/2020

Divórcio
Análise coerente e perspicaz das circunstâncias e consequência do divórcio, onde muitas vezes, já era uma realidade antes mesmo do sagrado enlace matrimonial.
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