Paulinho 20/07/2021
Se você tiver que ter apenas um único livro de historiografia na sua estante que seja este.
Eu sou formado em licenciatura em História pela Universidade Federal da Bahia, 2017, e Bacharelando em História pela mesma instituição, portanto, gosto imensamente de inúmeras obras historiográficas, para citas alguns favoritos em ordem de apreciação tem-se: “A hidra de muitas cabeças”, “Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal” (não propriamente historiografia, mas muito importante e usado por nós), “Sexo, Desvio e Danação”, “Fios da Vida”, “O queijo e os vermes”, entre outros.
Mas o Dicionário da Escravidão e Liberdade se inscreve não apenas como um dos meus livros historiográficos favoritos, mas mais necessário. A riqueza de temas, abordado por especialistas faz dessa obra um verdadeiro primor, ao invés de tentar dar conta de uma história longa como fez em Brasil: uma biografia, Lilia Schwarcz e Flávio Gomes, optaram por dar vez e voz, a pesquisadores e pesquisadores que pesquisam esses temas há anos. Isso fez toda a diferença. Os verbetes são curtos, palatáveis e com dados fundamentais, se você é professor ou professora é ótima ferramenta para ir além do livro didático. Se você for pesquisador/pesquisadora, pode ajudar a definir, afunilar temas de pesquisas, descobrir, referências e interlocutores, e se você for apenas um brasileiro sem nenhuma formação na área de Ciências Humanas, Letras ou Direito, esta obra ainda é para você. Acessar a História ou melhor a historiografia, é um direito humano, um exercício de Cidadania.
Outro aspecto importante é o fato de muitas pessoas falarem da História pelo que se lembram de seus ensinos fundamentais e médios, como se a História, como qualquer conhecimento, inclusive e sobretudo o científico, possui historicidade, temporalidade, mudam e desenvolve-se a partir de novas fontes, métodos e tecnologias. E se você é um militante de rede social, alguém que se coloca contra injustiças e muitas vezes aborda temas sensíveis, é importante ler, mesmo querendo ajudar muita gente, reproduz muita desinformação nas redes sociais, até mesmo youtubers grandes e dos quais gosto muito.
Minha história com o Dicionário da Escravidão e Liberdade começa quando eu vejo o livro na Livraria Cultura (em Salvador) e leio os verbetes “Literatura e Escravidão” e “Navio Negreiro” fiquei tão encantado por esses textos que sabia que compraria o livro em algum momento. No mesmo ano, 2018, ocorre a Flipelô, e a mesa de abertura contava com ninguém menos que Lília, João José Reis, professor da UFBA, e Wlamyra Albuquerque, também professora da UFBA e com quem tive o imenso prazer de cursar duas disciplinas. Tratei de comprar o livro na LDM, a mesa começava às 18:00, cheguei na fila ás 15:00, rs. Foi maravilhoso, na sessão de autógrafo, para minha surpresa e felicidade havia mais 4 autores/autoras. Robert Slens, (que era professor convidado pela UFBA e ministrou uma disciplina para a pós), Luciana Brito, Robério Souza, um amigo querido, e se não me engano Luís Nicolau. No mesmo ano fui a primeira vez á FLICA, e numa amostra paralela na UFRB, estavam além de Luciana e Lília, Walter Fraga e Isabel Reis, com quem pude conversar bastante e tirar fotos. Desde então tenho o lido o “dicionário” como um dicionário, dependendo das minhas aulas, dos temas que apareciam em Livros como Amada da Toni Morrison, até que este ano após assistir The Underground Railroad da Amazon Prime Vídeo e pretendo ler Kindred de Octavia Butler, fiz a leitura completa e comentada com várias amigos e amigos.
É isso queria registrar minha experiência com a obra e estimular outras pessoas a lerem. Sei que Laurentino Gomes já publicou dois livros sobre Escravidão e tal, e não vou entrar na questão do mérito de suas obras ou obra, mas queria fazer um convite de se ler mais historiografia, obras escritas por historiadores e historiadoras.