Contos de amor, ódio e sacanagem

Contos de amor, ódio e sacanagem Furio Lonza




Resenhas - Contos de amor, ódio e sacanagem


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Pedro 08/10/2018

Em "Contos de amor, ódio e sacanagem", escrito por Furio Lonza, o leitor conhece as vivências de homens e mulheres que passaram por descobertas, paixões, traições e outros momentos marcantes, todos narrados através do olhar poético do autor.

Confira a RESENHA COMPLETA + FOTOS no link abaixo! (Blog do Pedro Gabriel)

site: http://www.blogpedrogabriel.com/2018/10/resenha-contos-de-amor-odio-e-sacanagem.html
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Guil 04/06/2018

Minha experiência com Amor, Ódio & Sacanagem
Confesso que não sou fã de contos, mas flanando por uma livraria a espera da hora do filme, a capa me chamou a atenção e quando caí na gargalhada na cena da mesa de Natal não foi possível resistir, e apesar do orçamento apertado acabei comprando o livro, e admito que foi um bom investimento, principalmente quando já quase na metade do livro, um colega para na minha estação de trabalho para pedir um auxílio e vê uma capa diferente sobre minha mesa se vira pra mim e diz:

- Você é um leitor voraz hein? Que tipo de livros você lê?
Apenas indico a capa do livro e ouço novo comentário:
- Mas isso é livro de sacanagem...
Daí eu penso com meus botões:

Pra falar a verdade é sim, mas não sacanagem no contexto que ele pensou, pois apesar de ter um certo apelo sexual, os contos desse livro vão muito além disso, e mostram como certas idéias passam (sem filtros) pela cabeça das pessoas, como alguns pensamentos nos pregam peças, ou nos colocam em situações constrangedoras além de nos fazem enveredar por caminhos aos quais normalmente evitaríamos trilhar, isso tudo com uma linguagem escrachada (e um tanto ou quanto rebuscada) mostrando o politicamente incorreto que transita pela alma humana.

Na hora do almoço li o conto "Mormaço", e confirmei o pensamento acima que cruzou a minha cabeça logo depois do comentário do meu colega de trabalho.

PS.: Não se deixem impressionar pela bela capa e o título forte, pois certamente ouvirás os mesmo comentários (sim, ouvi outros comentários do gênero e alguns olhares de soslaio).
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Krishnamurti 26/05/2018

Contos de amor, ódio & sacanagem
O título “Contos de amor, ódio e sacanagem” sobre a foto “ousada” – com mulheres nuas e semi-nuas -, na capa do último livro do escritor Furio Lonza, pode sugerir interpretações de estarmos diante de mais uma obra pornográfica ou coisa que o valha. E é até natural que assim se pense, em dias nos quais o enlace de corpos humanos deixou de ser a última parte de um envolvimento amoroso, e é visto e assimilado - porque incentivado- , como necessidade vital de animais que copulam, matam e morrem com a mesma indiferença.
Entre o que se vê inicialmente, e o que se passa a ler, vai uma diferença profunda, substancial, sobretudo quando sabemos que foi escrita por um autor que já dobra a quarta década de produção literária que lhe renderam 20 títulos publicados. Embora ele afirme na Introdução, que a mulher está presente nos contos em todas as suas configurações, e que atua de maneira orgânica e autônoma, e se recorde das imagens da capa, não se espere encontrar “sacanagens libidinosas” explicitadas em palavras porcas ou termos chulos ecoando em cenas eróticas. Quando o sexo aparece, e aparece muito, é sempre de permeio com uma visão filosófica. Algo natural na vida, força que une e afasta os homens e, nas narrativas de Lonza, a tensão erótica se distorce na presença de um discurso ricamente filosófico. Contraponto portanto, do instinto puro.
O autor afirma ainda na introdução da obra, que a mulher “é quem dá as cartas e estipula os limites”. Mas o ponto de vista, devemos advertir – e aí talvez um atrativo a mais no conjunto dos contos -, é que a maioria das narrativas acontecem em primeira pessoa, e sob uma perspectiva masculina. Aí o universo em destaque. Não é a descrição e o estudo psicológico da alma feminina que fica mais evidente, mas como essa alma atua no psicológico masculino. Diferente pois, do que fez um Machado de Assis por exemplo, ao criar suas mulheres enigmáticas.
Há uma epígrafe na obra creditada a Noel Rosa: “A mulher é o aperitivo que anima o homem a provar o prato indigesto que é a vida”. Aperitivo que, a julgar por alguns dos contos reunidos se afiguram mais como veneno letal! Interessante uma relação que pode ser entendida no título: “Contos de amor, ódio e sacanagem”. Aí está. “Amor”, aperitivo ao prato indigesto que é a vida, o “ódio”, veneno que se mostra pior do que uma indigestão, e a “sacanagem”, mistura dos dois de que é feita a vida. Explicitemos a ideia ou o método – expressão muito usada pelo autor, com a própria obra, e, sobretudo, com o conto que a inaugura: “Laurinha a santa”.
O início é arrebatador pela curiosidade que desperta: “A primeira vez que quis matar minha mulher foi no Natal passado. Um olhar dela foi o suficiente. Dizem os entendidos que os olhos refletem o que vai pela alma. Revelam o que sentimos (mas que, por pudor não divulgamos), o que pensamos (mas ainda não conseguimos verbalizar), o que intuímos, o que almejamos. Há uma pergunta, contudo, que pode ocorrer ao leitor mais curioso (ou sensato): um olhar espremido entre duas batidas de pálpebras, pode explodir dentro de alguém a vontade de tomar uma atitude dessas proporções? Eu respondo: pode”.
O texto narra a história de um casal que vive uma vida um tanto quanto harmoniosa. Entretanto, pelo que ficou transcrito acima se poderia pensar que entre eles houvesse acontecido grave episódio de indiferença, repulsa ou traição... Não. O olhar a que o narrador alude foi lançado pela esposa ao marido, na noite da ceia de Natal quando ele, após umas tantas talagadas de vinho, embrenhou-se em elucubrações filosóficas sobre a virgindade da santa mãe de Jesus. “Foi justamente nessas alturas do campeonato que recebi aquele olhar complacente de minha mulher”. Seguiu-se silenciosa indignação geral entre os presentes, mas Laurinha não. E aí começa o inferno: “minha mulher estava na contramão. Queria me anular com um excesso de compreensão, usava o amor como arma para me neutralizar”. “Esse olhar meigo não corresponde a nenhuma lógica aceitável”, pensou o marido que passa a expor a vida da esposa, criada de modo a despertar-lhe egocentrismo avassalador. A criatura era de uma perspicácia monumental, urdira plano progressivo e infalível para levar a cabo a vida conjugal à sua maneira. Concordava com ele em tudo. Tudo que o marido dizia, pensava ou fazia, ela apoiava. Não havia dissensões, e essa constância de concordância dócil o foi exasperando simplesmente porque Laurinha era-lhe, não uma outra pessoa com quem convivesse e trocasse ideias, experiências e pontos de vista. Era uma sombra. Isto pareceu ao homem que, propositalmente, a intenção da esposa era: torná-lo um “gago mental, um cachorrinho numa coleira, um verme social. Minha personalidade descia ladeira abaixo”... vejam o que é a mente humana e o que ela pode produzir. Mas o pior ainda estava por vir.
Depois de períodos de altos e baixos, Laurinha foi tecendo, tecendo e tecendo com sua meiguice e docilidade e foi “domesticando” o homem, desde a cor da gravata que ele devia usar até a limitação dos drinques. Positivamente não foi à toa que Voltaire. Escreveu: “É mais claro que o sol, que Deus criou a mulher para domar o homem”. Embora haja indomáveis na natureza humana... Muito bem.
“A segunda vez que pensei em matá-la aconteceu três meses depois. E a causa não foi uma palavra, não foi um olhar. Foi (acreditem se quiserem) uma trepada”. Uma trepada daquelas. Certa noite ao voltar do trabalho para casa, o marido encontra a mulher, deitada na cama vestida com uma roupinha transparente e curta que lhe deixava as maravilhosas coxas de fora. “Vem cá, ela disse, senta aqui, e bateu a palma da mão duas vezes no colchão. Sentei. Começaram as carícias”... “Depois, Laurinha disse-lhe, entre outras coisas, que ele lhe “despertava zonas erógenas desconhecidas, que ele era seu garanhão, seu macho, seu cobridor. Que a satisfazia em todas as instâncias que uma mulher pode imaginar”. E é então, que o sujeito, cônscio, de não ser nada daquilo “endoidece” de vez e pasmem! “Começou a pesquisar os diversos tipos de veneno que a humanidade colocou em circulação nos últimos quinhentos anos”. Leva adiante um plano de envenenar a mulher, até que o inusitado acontece: a criatura sob a administração oculta do veneno, além de não morrer no tempo em que ele havia planejado, engravida. Esta armado o efeito único que todo contista persegue. O desfecho então é surpreendente e ligado àquele mito/realidade da virgindade da mãe de Jesus, do início da narrativa. O que temos em suma nesse conto? Uma mulher com plena consciência da superioridade sobre o espírito do marido, ou simplesmente mais um caso de paranóia machista? Fica a dúvida que só o leitor responderá. Conferiram o desfecho, simplesmente surpreendente.
Extraordinários os demais contos, tanto na forma quanto no conteúdo variado, e não por acaso. O autor que também domina os meandros da dramaturgia, declarou recentemente que por 5 longos anos vinha compondo a obra, e assim, mexeu em vários, aprimorou, trocou de lugar, jogou muita coisa fora e concebeu variantes. No conto “O método” somos apresentados à Juliana uma atriz que intuitivamente era sinuosa. “Hibrida: fazia um jogo cruel de meio de campo, com os homens. Distribuía as bolas na diagonal e o atacante que se virasse”. Mas Juliana, uma mulher linda, tinha horror ao belo, assim como o entendemos. Uma caixa de surpresas essa Juliana. Em “tudo parece impossível”, conhecemos a história surreal de um casal. A mulher não conseguia pregar olhos e infernizava a vida do marido com isso, ou por isso mesmo, ou por alguma outra causa secreta. Esta ficção é o exemplo vivo e ampliado do que observou Oscar Wilde: “As mulheres não sabem o que querem, e não dão descanso, enquanto não recebem aquilo que querem”.
Em “My name is nobady” conhecemos Esther um exemplo de mulher forte, fria e decidida. Sabe o que quer e onde pisa, pensa manejar e comandar, sendo astuciosa e cerebral, mas afinal, em matéria de amor, dá com os burros n´água. Positivamente Furio Lonza é um profundo conhecedor da natureza humana e grande delineador de personagens. Veja-se o conto “Apontamentos para um assédio” onde aflora uma densidade psicológica capaz de criar uma atmosfera voltada para o inusitado, ainda que esse inusitado vá dando pistas aqui e ali no desenrolar da ficção. A elasticidade temporal também é uma das marcas desse texto, pois a marcação do tempo psicológico transcorre independente do tempo cronológico e com ele confunde-se. Ao demorar-se no tempo psicológico o autor faz com que o leitor sinta uma ambigüidade em relação aos acontecimentos, a dúvida sobre os fatos, e uma recorrência digna de nota, a expressão “por suposto” sempre entre parêntesis (Aquilo que é alegado ou admitido por hipótese, hipotético, conjeturado). Aqui temos a revelação dos dilemas da consciência quanto à erotização desenfreada de nossos dias que não respeita idades, Partindo de uma perspectiva de um homem maduro em relação à uma garota de 13/14 anos que, dado aos seus conhecimentos sexuais, está mais para uma ninfetinha descolada. Conto de desfecho verdadeiramente dantesco!
Sem dúvida vários outros contos da obra poderiam ser escolhidos num critério exclusivo de gosto pessoal para um comentário adicional. Estou a lembrar-me agora do inesquecível “Mercedes”... mas; não, vamos colocar o ponto final na resenha, apresentando a memorável Gigi do conto “Do nada e de todas as implicações na relatividade da existência”, um conto profundamente filosófico narrado em primeira pessoa por um Eu que não se identifica plenamente, e mostra-se preocupado em provar por A+B, algumas coisas, dentre elas o fato de que a escala de valores que a humanidade anda seguindo, “caducou faz uns quinhentos anos ou pelo menos desde quando o ser humano imaginou que poderia resolver seus problemas através do pensamento racional”. Segue-se um emaranhado interessante de análises filosóficas e psicológicas sobre a significação do “zero” e do “nada’ na escala do raciocínio humano, até que, pimba! Aparece na vida do sujeito a Gigi!
Uma criatura que fisicamente, seria capaz de frustrar os planos mais bem combinados de um homem, enfraquecer a vontade mais resoluta, sobretudo para olhos lascivos. Sobre ela o narrador protagonista escreveu:“E você acha que, diante de um belo rosto, coxas grossas, um sorriso admirável e um par de peitos que te viram do avesso, alguém vai prestar atenção em algum tipo de uniformização de ideias? Se gosta do amarelo, se prefere gato a cachorro, se é católica, budista ou islâmica, se tem predileção por poesia ou prosa? Além disso, havia outro problema: não consegui detectar tipo algum de malandragem em Gigi. Era centrada, dona do próprio nariz, isso era indubitável, mas não ostentava arrogância alguma, era simples. Para ela, um escondidinho de carne moída no jantar era motivo de júbilo. Resolvemos morar juntos. Um apartamento de quarto e sala modesto num prédio cujos locatários eram estudantes e putas num bairro longínquo foi a solução diante do parco orçamento mensal. Eu trabalhava numa gráfica e ela era recepcionista numa agência de automóveis usados. Vestia-se nos trinques, mostrando tudo em cima e em baixo”... Mas o insólito, é que ninguém iria imaginar que uma mulher assim fosse entrar “numa neura” existencial de encontrar o “absoluto da existência”, seja lá o que isso signifique. O certo, é que, (e levando em conta o depoimento do narrador), a criaturinha defendia que “O homem atrapalha pelo simples fato de existir. Ele não deve interagir, não deve interferir, acho a ação humana nefasta por definição. A única saída é anular-se, minimizar ao máximo nossa presença na Terra, deixar que a roda do mundo complete sua rota livremente”.
E o leitor começa a desconfiar que Gigi ou o narrador andam fumando lá uma porrada de maconha. Em frente: Gigi deu de tentar cristalizar objetos no tempo e no espaço, inclusive pensamento, fala e sintaxe até que em um belo dia ela simplesmente evaporou-se sem deixar rastros. Teria ela alcançado a façanha da desintegração total? Bom; o fato é que o narrador procurou pra cá e pra lá, e nada da mulher que fora eficaz até em matar o pretérito, apagando rastros, evidências e indícios de sua existência. E vamos afinal entrando num clima hipnótico de derrocada do ser que restou saudoso. O enlouquecido amante depois de estadias em manicômios e etc., termina indo parar em um circo – grande metáfora do mundo atual -, apresentando um número no qual se prometia à platéia a visão por alguns segundos do “Nada absoluto”. Depois de breves momentos de fremente expectativa, a platéia afinal visualizava horrorizada a jaula onde estava encarcerado o narrador, e o que se via era um farrapo humano exposto numa jaula. Tomada de pânico inominável a platéia assistia uma imagem que não se pode apagar jamais, a pior e mais impiedosa de nossas detratoras, a imagem de nosso mundo interno...
Positivamente Furio Lonza nos apresenta nesses seus “Contos de amor, ódio e sacanagem”, 18 narrativas que traduzem relacionamentos afetivos onde estão expostos conflitos dúvidas e certezas, misérias e grandezas, amores e ódios. Cada personagem um prisma que separa as cores de nossa mais pura e crua realidade, ou por outra, as cores do humano, do demasiadamente humano.

Livro: Contos de amor, ódio e sacanagem, de Furio Lonza. Editora Penalux , Guaratinguetá- SP, 2017, 292p.
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