regifreitas 12/09/2018
Esta novela de Ana Miranda foi publicada logo após o romance anterior da autora, e lido recentemente, A ÚLTIMA QUIMERA (1995), sobre a vida do poeta Augusto dos Anjos. Talvez venha dessa proximidade algumas das semelhanças entre as duas obras.
Ambas são compostas de capítulos curtos e realizam um trabalho de intertextualidade com elementos biográficos e com algumas das obras dos autores. Em CLARICE, Ana Miranda constrói uma narrativa mais fragmentada ainda, preferindo deter seu olhar e contar fatos bem prosaicos da vida de Clarice Lispector, momentos que geralmente ficariam de fora das biografias oficiais. Lógico, trata-se muito mais de um exercício de imaginação do que baseado em fatos concretos da vida de Clarice. Também, ao contrário do livro sobre Augusto dos Anjos, temos aqui um narrador observador em terceira pessoa, muitas vezes funcionamento como um “voyer” – em várias cenas, um personagem misterioso esquadrinha a intimidade de Clarice, através de um binóculo, em um prédio vizinho.
Provavelmente, muita gente vai buscar essa leitura por ter Clarice Lispector como personagem. Foi também o meu caso. Contudo, trata-se de algo bem abaixo do esperado de uma escritora premiada como Ana Miranda. Para os fãs de Clarice talvez valha a tentativa, para o público em geral, talvez não funcione tão bem.