O preto que falava iídiche

O preto que falava iídiche Nei Lopes




Resenhas - O Preto Que Falava Iídiche


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anaartnic 24/09/2022

Uma saga épica, um romance, uma aula de história
Um livro que aluga andares em nossa mente, justamente por externar uma perspectiva totalmente decolonial sobre os povos negros, recoberta de um epicismo genial e conhecimento teórico de Nei Lopes.

Em um bairro do Rio de Janeiro vive Nozinho, um menino que possuía uma grande habilidade com idiomas e admirado por muitos, principalmente, por ser um preto que fala iídiche. Ele passa a trabalhar na fábrica de uma rica família judia e se apaixona por Raquel, a filha do dono. Com isso, parece aquelas histórias de amor proibido, mas a construção deste livro vai muito além.

Com diversos personagens e acontecimentos que vão do patamar histórico até o realismo fantástico, 'O preto que falava iídiche' para mim é uma jornada épica, recoberta de elementos que criam uma narrativa que tem como principal objetivo falar de duas comunidades: a judia e a negra, com seus respectivos desenvolvimentos e inserção na sociedade brasileira.

Ao longo da história novos cenários e personagens se revelam e são apresentados ao leitor de forma didática e crítica, proporcionando encanto e muitas reflexões que fazem com que se saia da 'bolha' do eurocentrismo aprendido nas escolas.

A narração é feita por um amigo ('pai adotivo') de Nozinho e, por conta disso, a história não segue uma linha temporal clara e haviam momentos que eu me prdia um pouco e precisei reler alginss trechos pra me situar. Como disse no início, não se trata apenas da história de Nozinho, há outros personagens que acabam por ganhar espaço justamente por está linha narrativa, que deixa em alguns momentos de acompanhar o protagonista e passa a focar em personagens secundários (que são interessantíssimos por sinal).

Eu gostei muito do tom épico que se desenvolveu, a verosimilhança criada por meio dos recursos narrativos que mesclam o real e o imaginário, as reflexões históricas sobre o racismo impregnado na sociedade brasileira e a respeito do desenvolvimento de uma narrativa que demonstre o protagonismo negro em sua própria história.

Recomendo a leitura sobretudo para quem gostou do livro 'O cortiço', de Aluísio de Azevedo, 'Macunaíma', de Mario de Andrade, e para quem deseja iniciar estudos sobre relações raciais no Brasil.

"O lorde não conta que essa versão da história circula em livros que jamais chegaram e nem vão chegar ao Brasil"
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Wellington.Pimente 03/12/2023

Romance histórico
A obra tem uma história de amor, com aventura, acontecimentos misteriosos que nos remetem ao realismo mágico. Conta a história de Nozinho, uma criança que se torna órfão, paupérrimo, no final do século XIX para a começo do século XX, no Rio de Janeiro, numa praça onze (Na época, um local com um caldo cultural importante no país). Essa praça desaparece quando se abre a avenida Getúlio Vargas.

Nozinho morando nessa praça, vive indo para lá e para cá interagindo com esse caldeirão de culturas, sendo um menino muito inteligente e autodidata que aprende a falar o Iídice. Lembrando que havia duas comunidades marginalizadas nesse local, os negros (recém libertos com a abolição da escravatura) e a comunidade judaica. Nozinho é adotado, começa a trabalhar numa fábrica, almejando se tornar um caixeiro viajante (para ganhar mais e andar mais arrumado, ter sua ascensão social) em que o dono é um judeu. Nozinho se relaciona apaixonado pela filha do dono da fábrica, a Raquel e lhe engravida. O que vira um escândalo nessa comunidade judaica, e assim o pai desaparece com a filha, enviando para o RS, para a casa de parentes. E assim o herói da narrativa vai em busca da sua amada.

Achei esse romance histórico muito interessante. No primeiro momento achei o enredo confuso (pois o protagonista Nozinho, some e volta de novo no romance). O texto narrativo é bem escrito e numa linguagem simples e compreensível em que fica muito evidenciado que o autor aborda a faceta do preconceito e como determinados hábitos e costumes perduram e insistem em permanecer até os dias atuais. Depois de fazer toda a leitura, entendi esse romance como a composição de um samba enredo, em que visualizamos as alegorias e os capítulos como alas de uma escola de samba em que a história é contada, sei que estou viajando muito nessa percepção, porém pode ser verdade, já que o autor é um notório sambista .
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juu 19/12/2022

não.
li pra escola, não tenho mais o que explicar.
só escolhi ele porque tem aver com judaísmo.
chato demais
só algumas falas foram interessantes
livro confuso por causa das marcas temporais, nunca sabia se era memória ou se tava acontecendo no presente, ou se era sonho.
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Aguinaldo 18/01/2019

o preto que falava íidiche
Por acaso descobrir e ler "O preto que falava iídiche" foi umas das grandes alegrias que tive em 2018 (já falei disto quando registrei aqui no final do ano passado algo sobre seu bom livro de contos, "Nas águas desta baía há muito tempo"). Pois "O preto que falava iídiche" é um romance especial, bastante inventivo e movimentado. Nei Lopes criou um personagem interessante, Lindonor, o Nozinho da Gamboa, uma espécie de Macunaima carioca, de quem se conta cousas desde seu nascimento até a espécie de transfiguração mítica que experimentará na velhice, nos confins da Africa (se é que ele não morreu de morte matada em algum momento, bem antes desta velhice). O narrador é um advogado carioca, que tornou-se tutor do jovem negro sem pai nem mãe, para impedir que ele fosse enviado ao cárcere. Esse advogado conta causos da vida de Nozinho, quase sempre em um bar, ou também ouve historias fabulosas de terceiros sobre seu protegido. Essas historias se confundem com histórias reais da cidade do Rio de Janeiro e do Brasil no inicio do século passado: a convivência de negros e judeus no centro da cidade, que compartlham o mesmo tipo de marginalização e preconceito, a ascensão da zona do meretrício, a geografia da cidade, a reinvenção do candomblé, a invenção da bateria, do samba, fala sobre o teatro de revistas, o carnaval, a invenção dos sambas-enredo, a destruição do morro do Castelo, a história dos Orixás, a marcha da coluna Prestes, sobre o tráfico negreiro, a especulação imobiliária e expansão da cidade, a semana de arte moderna paulista, a história dos negros nos EUA, a historia do futebol e dos times cariocas, a rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo, as histórias de negros, muçulmanos e falashas judeus na Africa. Essa miriade de informações gravita o jovem Nozinho, que posto a trabalhar como aprendiz em um armarinho de um proprietário judeu na praça Onze carioca, apaixona-se por Raquel, filha do dono, que acaba sendo exilada na distante Porto Alegre gaúcha, enquanto ele foge para o Irajá carioca, obrigando o herói do livro passar sua vida perseguindo o sonho de reencontrá-la (e até virar argumento em uma peca teatral que teria sido escrita pelo abolicionista José do Patrocínio). Nesta busca ele deambula por lugares onde os judeus brasileiros floresceram: Porto Alegre, São Paulo, Bahia, mas me parece que é a história dos negros na sociedade brasileira que se está sendo melhor contada. De qualquer forma a história que realmente importa é a da busca de um amor perdido. Apesar das muitas citações eruditas a leitura é leve, o texto flui como poucos, ri-se das aventuras do sujeito. Há bons personagens secundários, uns velhinhos divertidos. Adorei a encrenca que Nozinho provoca entre o sofisticado paulista Décio de Almeida Prado e uma importante mãe de santo carioca, Mãe Mocinha. No final do livro se alcança um tom de fábula, um amigo de Nozinho argumenta, num transe mítico, que esse tornou-se uma espécie de imperador da Africa, unindo finalmente suas raízes negras e judaicas, servindo de exemplo, resgatando a importância e valor de todo o povo negro. O narrador confessa que escreveu um livro sobre os sucessos de Nozinho, que reencontrou próspero, protegido de Getulio Vargas nos tempos do Estado Novo, autor velado da Lei de Segurança Nacional, mas esse livro foi rejeitado por várias editoras por um pretenso antissemitismo. Que romance bom. Vou procurar mais cousas deste Nei Lopes. Vale!
Registro #1359 (romance #354)
[início 26/09/2018 - fim: 29/09/2018]
"O preto que falava iídiche", Nei Lopes, Rio de Janeiro: Editora Record, 1a. edição (2018), brochura 14x21 cm., 255 págs., ISBN: 978-85-01-11325-2

site: http://guinamedici.blogspot.com/2019/01/o-preto-que-falava-iidiche.html
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fev 09/11/2022

3,75

O preto que falava iídiche é um bom livro. Nei Lopes é um exímio contador de histórias e ninguém pode lutar contra isso. Foi uma leitura gostosa, diferente. Um livro com muito referencial histórico. A minha questão é a sinopse vende um livro que não é. Ele faz excelentes paralelos sobre negros e judeus. Mas a história que seria o fio condutor é muitas vezes deixado de lado para focar em personagens que não acrescentam muito. O livro me pareceu mais um exercício de memória para lembrar grandes feitos de pessoas negras espalhadas pelo Brasil. E de alguma forma homenageá-las. O livro está longe de ser ruim, só achei que encontraria outra coisa. Ainda assim indico a leitura.
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