Em nome de quem?

Em nome de quem? Andrea Dip




Resenhas - Em nome de quem?


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Otávio - @vendavaldelivros 25/01/2023

“Nessa lógica, se o pedido não se realizar, a culpa é transferida ao crente, que não orou direito, não teve fé o bastante ou não fez oferta de sacrifício suficientes para receber a graça de volta.”

A fé é um dos motores da humanidade. Da fé religiosa até a fé no valor do dinheiro, é ela que guia destinos, guerras, amores e histórias. A capacidade de acreditar em conceitos não-tangíveis é considerada por muitos especialistas um ponto de diferenciação nosso em relação aos demais “animais”. Até que ponto, porém, pode a fé religiosa interferir em aspectos sociais que envolvem tantos que não comungam das mesmas crenças?

Escrito pela jornalista Andrea Dip e publicado em 2018, “Em nome de quem?” é um livro-reportagem que tem como objetivo investigar as relações das Igrejas Evangélicas com o poder no Brasil, como aconteceu essa escalada e como ela se sustenta em suas ‘bases”. Entender como evangélicos pentecostais e neopentecostais chegaram ao poder é fundamental para compreendermos a política brasileira e, em especial, os últimos quatro anos de desgraça que vivemos.

Ter sido publicado antes do início do governo Bolsonaro poderia ser algo que falasse contra a obra, porém é exatamente a capacidade de entregar um retrato tão claro, rico e nítido sobre os fatores que levaram a direita conservadora ao poder que torna esse um livro tão necessário no trabalho de destrinchar os anos de pavor que o sucederam.

De uma forma absolutamente clara e embasada, o livro explica os fenômenos da Teoria da Prosperidade e da Teoria do Domínio, largamente utilizados pelas principais denominações pentecostais do país, e que explicam muito da ideia de lavagem cerebral e seita que essas mesmas igrejas demonstram.

Além disso, “Em nome de quem?” traz informações importantes para entendermos como a esquerda brasileira perdeu o “contato” com as camadas mais pobres e vulneráveis da população e como muitas das denominações, que hoje elegem congressistas e governadores, ocuparam espaços importantes dentro da sociedade, entregando sentido de pertencimento, entretenimento e estrutura comunitária.

Não nos cabe um julgamento sobre a fé particular de cada um, mas quando essa fé tem como objetivo tomar o poder, ameaçar e destruir pensamentos diferentes de suas doutrinas, nos cabe a luta por igualdade e justiça. É direito de cada cidadão expressar sua fé, nunca exigir que o outro viva sob suas crenças e percepções de verdade. Livro essencial para que não sigamos repetindo os mesmos erros e finalmente possamos caminhar para uma sociedade plural, igualitária e com um Estado efetivamente laico.
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João Burti 14/12/2021

Faltou rigor técnico, objetividade e neutralidade.
Em linhas gerais, o livro é fraco, por vezes enfadonho (principalmente nos primeiros capítulos), mas tem seus pontos altos. Em diversos momentos joga informações ao vento, despende páginas falando tudo e nada ao mesmo tempo. Já a crítica à teologia da prosperidade e do domínio, e o capítulo sobre a presença pentecostal nas periferias são muito boas!

Entretanto, principalmente por ser uma obra de uma jornalista, esperava uma análise com um pouco mais de rigor ético. Em alguns momentos fica claro o uso de artifícios linguísticos falaciosos, como, por exemplo, ao invés de dizer que os parlamentares são contra o aborto, diz por reiteradas vezes que são contra os direitos reprodutivos das mulheres. Baixo.

No mais, algumas imprecisões também parecem intencionais, como por várias e várias vezes afirmar que os parlamentares evangélicos unem forças para obter privilégios de isenção de impostos, sendo que a isenção para igrejas de qualquer gênero já está consagrada na Constituição Federal desde 1988 (Art. 31, V, b).

Traz ainda alguns elementos absolutamente inverídicos, como afirmar que as bases cristãs ocidentais estabeleceram que o sexo possui finalidade exclusiva para procriação e descarta a função como realização do prazer. Sem qualquer fundamento tal afirmação.

No mais, com o advendo do governo Bolsonaro, um livro escrito em 2017 acabou por ficar deveras desatualizado. A leitura é válida, entenda, mas não seria minha primeira recomendação sobre a temática. Para quem quer se aprofundar sobre o tema, recomendaria:

A religião do bolsonarismo - Yago Martins
Fé Cidadã - Carlos Bezerra Jr
E a verdade os libertará - Ricardo Alexandre
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Luciane.Gunji 11/08/2018

Resenhista Lucas Gonçalves para o blog Pitacos Culturais
Não há dúvidas de que, a cada quatro anos, o Brasil escolhe seus representantes políticos, que deveria legislar em nome da nação e a favor dos interesses do País que representa. No entanto, enfrentamos denúncias seguidas contra nomes fortes do cenário político nacional; tais nomes tradicionais que eram referência e agora precisam se defender de diferentes acusações.

O resultado? Um povo brasileiro que, em geral, foi perdendo as esperanças nesses “políticos profissionais”, buscando assim escolhas pouco ou nada ortodoxas para que alguém seja o seu representante. Entre essas escolhas, temos cantores sertanejos, ex-jogadores de futebol e até palhaço (me contive com as piadas).

A jornalista Andrea Dip, em seu livro reportagem Em Nome de Quem? A Bancada Evangélica e Seu Projeto de Poder, lançado pela editora Civilização Brasileira (do Grupo Editorial Record) em 2018, busca outro enfoque: a discussão sobre quem escolhe os “homens da fé”, vulgo líderes das maiores religiões brasileiras como “projeto de poder”, como diz o subtítulo de sua obra.

Não é de hoje que a religião e a política se misturam. Quando penso nessas duas vertentes, logo lembro da passagem bíblica que se refere a quando Jesus de Nazaré é questionado sobre se os judeus deveriam ou não pagar impostos. Ele responde: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

Entretanto, mais ou menos depois dessa frase, as relações entre religião e política andam cada vez mais estreitas. Dip faz um belo trabalho de pesquisa ao levantar informações desde o começo sobre essa jovem união entre os dois setores que movimentam tanta paixão e cegueira.

Indo um pouco além, a escritora apresenta para seus leitores algumas conexões que esses “homens da fé”, que deveriam representar não apenas a sua parcela de eleitores, mas ao Brasil como um todo, mostrando as acusações que a grande maioria deles enfrenta, indo desde corrupção passiva, calúnia, injúria e até incitação ao estupro.

“Por ora, é importante apenas garantir que a canalhice santificada, realizada e legitimada em nome de Deus seja desmascarada para que, no futuro, não se respita como farsa.”

Em resumo, Andrea Dip coloca o dedo na ferida e tira o véu que nunca mascarou a canalhice desses pastores políticos, que se utilizam da ferramenta pública e das organizações que eles representam. Esta é uma obra que põe luz e demonstra como funciona as divisões e discursos para eleger “os seus”, trazendo um falso deslumbre do que desejam as organizações religiosas dentro da política nacional.

Mesmo com tudo isso, Dip não coloca todos no mesmo “saco”: ela entende e demonstra que nem todos são lobos em pele de cordeiros. Um livro que merece ser lido, ainda mais nesse momento pré-eleitoral que pode ser um dos mais sombrios de nossa jovem democracia. Como diria Jesus: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.



site: https://pitacosculturais.com.br/2018/08/01/em-nome-de-quem-dip-andrea/
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 20/07/2018

Andrea Dip - Em nome de quem?
Editora Civilização Brasileira - 160 Páginas - Lançamento: 21/05/2018.

Este livro-reportagem aborda um tema importante, delicado e extremamente atual ao avaliar a atuação do Congresso brasileiro na legislatura 2015-2019 e o crescimento da bancada evangélica durante o período. A jornalista Andrea Dip descreve alguns eventos marcantes e recentes da política nacional e os possíveis desdobramentos na eleição presidencial que ocorrerá este ano. Não é uma tarefa simples entender a história no momento em que ela está acontecendo, principalmente quando o entendimento envolve dois assuntos que não deveriam se misturar: política e religião. Independente da orientação política e religiosa do leitor, o livro é uma fonte valiosa de informação para sabermos onde estamos e para onde vamos.

O processo de impeachment de Dilma Rousseff e a formação e sustentação do governo de Michel Temer, foram viabilizados pela aproximação dos partidos da direita conservadora com políticos integrantes da bancada evangélica, mostrando a força desta nova distribuição política no Congresso. Como outros exemplos recentes desta nova ordem política nacional temos: a eleição em 2016 do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivella à prefeitura do Rio de Janeiro, o crescimento do movimento de apoio ao deputado federal Jair Bolsonaro, membro da Assembleia de Deus, para a campanha presidencial de 2018 e a criação de uma agenda política conservadora unida em torno da ideia de preservação dos "valores cristãos" e defesa da "família tradicional" por meio de Projetos de Lei como o Estatuto da Família.

"O número de evangélicos no Parlamento brasileiro cresceu acompanhando o aumento da quantidade de fiéis. Segundo dados do último Censo Demográfico do país, realizado pelo IBGE em 2010, houve um aumento de 61,45% em 10 anos no Brasil. Em 2000, cerca de 26,2 milhões de pessoas se declaravam evangélicas, 15,4% da população. Em 2010, o número passou a 42,3 milhões, 22,2% dos brasileiros. Já no fim de 2016, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, 29% dos brasileiros se afirmavam evangélicos — 3 em cada 10 pessoas com mais de 16 anos." (Págs. 26 e 27)

A autora em nenhum momento procura demonizar a religião ou criticar o crescimento das Igrejas Evangélicas, mas é importante notar que o Brasil é um Estado secular, ou laico, tendo como princípio a imparcialidade em assuntos religiosos, não apoiando ou discriminando, portanto, nenhuma religião já que a nossa Constituição garante a liberdade de crença religiosa aos cidadãos, assim como a proteção e respeito às manifestações religiosas. Desnecessário dizer que a mistura de política e religião é o primeiro passo que pode levar a uma Teocracia, sistema de governo que nunca gerou bons resultados na história da humanidade.

As alianças políticas da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) buscam além da defesa dos temas morais (por exemplo, oposição às políticas de incentivo aos Estudos de Gênero), os próprios interesses institucionais das Igrejas Evangélicas como a manutenção de isenção fiscal, a manutenção das leis de radiodifusão, a obtenção de espaços para a construção de templos e a transformação de eventos evangélicos em culturais para obtenção de verbas públicas, isso sem falar nos recentes escândalos no Rio de Janeiro envolvendo o prefeito Marcelo Crivella e o fornecimento de vantagens para evangélicos.

O livro apresenta entrevistas com integrantes da bancada evangélica, citações de trabalhos de pesquisadores, sociólogos e filósofos, sempre utilizando uma abordagem jornalística e um texto claro e objetivo. A conclusão é que a Igreja Evangélica ocupa em nossa sociedade um espaço abandonado pelo Estado e de que existe sim um projeto de poder em andamento, que já mostra seus primeiros resultados, resta saber em nome de quem, como questiona o título do livro. Certamente não deve ser em nome de Deus ou do povo brasileiro.
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