Queria Estar Lendo 02/05/2022
Resenha: The Poppy War
The Poppy War é o primeiro volume da trilogia de mesmo nome, escrito pela autora R.F. Kuang. Foi seu livro de estreia, e que estreia! Essa fantasia adulta inspirada na história da China é um espetáculo visual e narrativo, do começo ao fim.
Antes de começar a resenha, fica o aviso de que esse é um livro +18 com muitos gatilhos. Os principais deles envolvem violência extrema, gore, tortura física e psicológica, estupro, guerra. Você pode encontrar a lista de todos os gatilhos da obra neste link aqui.
The Poppy War conta a história de Rin, uma órfã de guerra que vive com uma família adotiva que pouco se importa realmente com ela. Rin aprendeu a sobreviver por conta própria e a se fortificar sozinha, e é por isso que decide participar de uma prova para ingressar na Academia de Sinegard, a maior escola do império de Nikara, lugar onde se formam grandes generais e soldados de guerra. Lá, ela acredita que pode ter uma chance de fazer valer todo o seu esforço.
Uma vez que passa na prova e conhece o mundo longe do pequeno vilarejo onde vivia, Rin descobre que há muito mais crueldade espalhada por aí - e que ela é forte o suficiente para superá-las e mostrar o seu valor. Rin quer se tornar a maior da sua geração; e muito vai precisar para se provar digna de construir um grande legado.
Ainda mais ao descobrir que existe algum tipo de poder adormecido dentro de si; um poder que fala diretamente com o divino.
"Quem controlava quem? Era o soldado que chamava pelo deus, ou o deus no corpo do soldado?"
Falar mais da história é, a meu ver, muito spoiler, porque a graça de The Poppy War está justamente no quanto ela se torna mais e mais grandiosa com o passar das páginas, escalonando os problemas, os perigos, as provações e a jornada da nossa protagonista.
Sua viagem e mudança para a Academia já são coisas grandiosas e gatilhos motivacionais para Rin se fortificar; é um mundo cruel, especialmente com pessoas que não vieram de berços de ouro como ela, e Rin passa a perceber que é ela por ela em toda essa situação. Ela faz amigos em Sinegard, mas poucos em comparação com os rivais em seu caminho.
R.F. Kuang tece uma história não de uma heroína mostrando o seu valor, mas de uma anti-heroína entendendo que precisa abraçar seu lado sombrio para combater um horror ainda maior.
"Você vai derrotar seu inimigo, e a vitória vai se tornar cinzas em sua boca."
Diferente do desastre que foi Viúva de Ferro, aqui a gente tem tempo de acompanhar a ascensão e queda de uma protagonista que começa ingênua e que desconhece tudo que existe além do seu vilarejo, mas que vai agarrar com unhas e dentes as oportunidades e que não vai descansar até estar à altura delas.
The Poppy War é um livro majestoso e visceral. É uma história sobre o pior da guerra. Discute abertamente a tirania, o fascismo e a opressão racial. Fala de maneira afiada sobre misoginia e sobre o sufoco que minorias vivenciam.
R.F. Kuang é certeira em tudo que propõe, e perturba pela realidade com que trata esses assuntos. A quantidade de gatilhos está diretamente conectada à história realista que ela está contando; sua guerra não é heroica, não é bonita, não esperançosa. É terrível, mortífera, destruidora. O mundo em que nos encontramos é moldado por nações à beira de um colapso sem precedentes; no passado, uma das "Guerras da Papoula", conforme o título do livro, quase irrompeu em uma calamidade, quando o império da Federação se aproximou demais do Império de Nikara, mas foi impedida. Por quanto tempo isso vai durar?
Rin vive todos os estágios de um soldado em formação. Ela vive todos os estágios de uma garota conhecendo o pior do mundo.
Mas nem tudo é sombrio e tenebroso; há momentos de paz. Há momentos de sorrisos e alegria. Há momentos de amizades e compreensão. Rin encontra outros como ela na Academia, como Kitay e Niang; Nezha, seu antagonista na escola, acaba não sendo assim tão sombrio quando o conhecemos um pouco mais. É tudo sobre nuances, e cada personagem importa para a narrativa, para o desenvolvimento e para a história.
"Eu não acredito em deuses. Mas acredito em poder."
E não, não tem romance. Alguns vislumbres de flertes e de interesse, mas não chega a 1% da narrativa (da minha parte, graças a deus!).
Além da guerra e do espetáculo narrativo que é a jornada da nossa protagonista, The Poppy War também tem um cenário fantástico muito criativo, com um dos sistemas de magia mais incríveis que eu já tive o fascínio de ler. O modo com a autora tece a parte fantasiosa da história, com lendas e deuses se tornando parte da trama, acompanha o conhecimento da Rin. Com o tempo, lendas deixam de ser lendas, deuses deixam de ser deidades distantes, e se tornam pontos importantes do livro.
O panteão divino, como se entrelaça com o passado desse mundo, desde a origem até o que é hoje; o quanto afeta a guerra que vai nascer, e o destino dela. É tudo de encher os olhos!
"Não quer conhecer o rosto do inimigo?"
"Não, eu não quero. Porque então eu talvez pense que eles são humanos. E eles não são."
The Poppy War é o tipo de livro tão espetacular e maravilhoso que torna impossível falar a respeito. Eu gostaria de passar horas e horas aqui detalhando cada momento que me fez prender a respiração, cada decisão da protagonista que me deixou numa pilha de ansiedade, cada reviravolta que trouxe tensão para a narrativa. Mas só posso dizer: leiam.
Se você gosta de fantasia adulta, de estratégias de guerra e de acompanhar uma personagem que é real em todo o seu carisma, em seus medos e sua coragem, The Poppy War também vai ser um favorito para você.
Lembrando que The Poppy War tem previsão de lançamento para o segundo semestre aqui no Brasil, pela Editora Intrínseca!
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