Taci.Souza 27/03/2024
Júlia sendo Júlia
Um orgulho: conhecer a escrita de Júlia Lopes de Almeida; um arrependimento: ter demorado tanto para conhecer a escrita de Júlia Lopes de Almeida; uma revolta: perceber como a sociedade machista e patriarcal contribuiu para a invisibilidade de Júlia Lopes de Almeida, colocando-a à sombra dos grandes homens da nossa literatura.
Por muito tempo, o nome de Júlia Lopes de Almeida não costumava figurar entre os grandes da nossa literatura. Talvez por não ser tão talentosa quanto José de Alencar ou por não ter tantas obras como Machado de Assis? Não! Seu talento é incontestável e, entre romances, contos, crônicas e artigos, sua obra é vasta. A razão é bem mais simples: Ser Mulher.
Embora tenha tido participação significativa no processo de fundação da Academia Brasileira de Letras, Julia não pode ocupar uma cadeira simplesmente por ser mulher. Esse direito foi dado ao seu marido, o poeta e dramaturgo Filinto de Almeida.
Julia não se deixou afetar por isso e continuou comprometida com a escrita, produzindo obras que, de forma corajosa e realista, expunha questões feministas e abolicionistas. O modo como a condição das mulheres e dos escravos foi colocada em sua obra, revela uma ousadia surpreendente considerando a época vigente.
Ânsia Eterna, reúne uma coleção de crônicas impressionantes sobre questões feministas e abolicionistas de forma crua, livre de romantização. Suicídio, feminicídio, tortura, relacionamento abusivo, estupro são temáticas abordadas pela escritura de forma cirúrgica, provocando perturbando o leitor e intimado-o a fazer um paralelo sobre a sociedade de ontem e a de hoje.