Queria Estar Lendo 02/06/2018
Resenha: Formas Reais de Amar
Formas Reais de Amar é a nova antologia da Agência Página 7 que reúne quatro autoras para contar as aventuras e desventuras apaixonantes de quatro protagonistas ligadas, de alguma forma, à realeza.
A antologia segue a perspectiva "own voices", que dá espaço para os autores e autoras contarem suas próprias vivências e realidades, então o espaço dessas histórias é totalmente empoderador para a voz das mulheres negras. Com histórias jovens e divertidas, Lavínia Rocha, Olívia Pilar, Valéria Alves e Solaine Chioro ganharam minha carteirinha de fã.
Catarina, do Reino Unificado (Valéria Alves)
Catarina estava de boas no intervalo de uma simulação da ONU, ansiosa para comer um pão de queijo, quando sua melhor amiga, Manu, a arrasta em direção à multidão ansiosa pelo casamento real; um pequeno acaso do destino acaba por colocar ela no caminho de algumas situações bem inesperadas.
Eu ri tanto, mas tanto com esse conto que é até difícil de expressar. A Catarina tem uma voz única e que logo de cara já te conquista e encanta; o carisma que salta das páginas e mistura sarcasmo e tiradinhas cômicas (e referências! Muitas referências) num bom humor gostoso de ler.
"Queria poder gritar "OUVE O QUE VOCÊ TÁ FALANDO". "
Junto com a Manu, a empreitada de encontrar a família de uma garotinha perdida acaba por colocar a Catarina em umas situações absurdas que nem em seus sonhos mais insanos ela imaginou ser capaz de viver. Isso envolve, inclusive, seu big crush Frederico (um sósia do Chris Evans que eu queria muito conhecer, boa noite) e até, quem sabe, umas bandejas de pão de queijo.
"Sendo uma filha de dois mundos como ela, é difícil exprimir em palavras a minha felicidade ao vê-la se tornando princesa em um país historicamente racista."
Aviso: existe o risco de você terminar de ler este conto e querer correr na padaria comprar pão de queijo. Eu atesto esse fato.
Kayla, do Reino de Sídera (Solaine Chioro)
Na história, Kayla está de volta ao reino de Sídera, sua casa, depois de terminar a faculdade. E o retorno traz responsabilidades com as quais Kayla ainda não está pronta para lidar - inclusive questões do coração.
Se o conto da Catarina foi descontração, o da Kayla foi de um angst maravilhoso que só me fez querer rolar no chão por toda sua sequência. Divertido e jovial, também, mas em um tom mais sério e contemplador que o da primeira história. Kayla voltou para casa e para a coroa e, como toda princesa, precisa arcar com seus deveres reais. Por enquanto, ainda está livre o suficiente para aproveitar a pouca liberdade que tem e até um baile para comemorar seu retorno - e é seu coração quem dita o desenvolvimento da história.
Kayla reencontra Thando, príncipe de uma nação amiga, com quem tem um passado misterioso e uma lembrança intensa e confusa de uns anos atrás. Se eu morri shippando esses dois? Ah, mas com certeza.
"— Agora eu sou viciada no Thando?
— Você sempre tem dificuldade em parar de falar nele, por mais que tente, então eu acho é que sim."
Kayla não entende as próprias emoções em relação ao príncipe, ainda que estejam bastante claras para nós, leitores, então é aquele angst gostosinho de acompanhar enquanto os dois interagem e a química salta das páginas e você só quer gritar FIQUEM JUNTOS LOGO! Ela é uma garota sonhadora, que gosta da sua liberdade e poder de escolha. Eu adorei acompanhar sua história e suas interações com os pais, a melhor amiga e os personagens secundários.
E o Thando, que homão da porra. Sensível, divertido e com um coração de ouro, virou crush literário (todos os homens desse livro roubaram meu coração).
Lorena, do Reino de Minas (Lavínia Rocha)
Outra princesa com grandes responsabilidades; desta vez, uma garota com a missão de possivelmente unir dois reinos separados por desavenças antigas. Lorena é herdeira de Minas e está prestes a se reunir com os reis e o príncipe de Gerais para acordos a fim de quebrar a rixa que existe entre as duas nações; ela não contava, no entanto, com a atração e a simpatia que sentiria pelo herdeiro do trono "inimigo", Raul, e o que era inimizade pode acabar se tornando algo bem mais interessante.
Com um tom fácil e uma premissa interessante, quase um Romeu e Julieta da terra do pão de queijo, Lavínia Rocha desenvolve sua protagonista através de decisões políticas e do coração; Raul é um doce de rapaz e eu gostei muito de ver como ele e a Lorena não se refrearam ao entender que existia alguma coisa bem intensa entre eles.
"— Se eu pudesse tornar real um estereótipo de princesas, seria a vida tranquila."
Meu coração de shipper agradece. Amo um slow burn mas também amo um casal que já sai nos flertes e sorrisinhos cheios de segundas intenções.
O pano de fundo da história envolve essa rivalidade entre os reinos e a busca dos comandantes de criar uma aliança. Como se trata de um conto, achei bom como a autora explicou a situação e as soluções sem se enrolar ou se apressar demais. É um tom bom para a rapidez que a história pede, mas não sai atropelando informações.
Amara, do Reino das Marés (Olívia Pilar)
Amara precisa se casar. É seu dever de acordo com as leis do reino e, como princesa, precisa cumpri-lo. A mãe dá a ela um período para decidir quem escolherá como pretendente e, até lá, Amara decide tirar alguns meses de férias para esfriar a cabeça e pensar com calma - o destino escolhido é o Brasil. E aqui ela conhece Iza. Uma paixonite inesperada que pode trazer ao seu coração tudo que Amara precisava naquelas semanas distante de tudo; um escape da vida como princesa, onde seu coração é tudo que importa.
"Minha posição me privava de muitas coisas, mas era através dela que tinha a chance de mudar situações."
Eu gostaria de um momento para apreciar o fato de que este é um reino que aceita que seus governantes se casem com pessoas do mesmo gênero que eles e que respeita e ama independente da orientação sexual e eu gostaria muito de viver neste lugar. De verdade. Parece a Disney só que melhor.
Amara é uma personagem cativante. Iza, um amor de pessoa. Quando ela apareceu e a Amara crushou nela meu coração já ficou mais leve porque deus abençoe uma princesa bissexual. A representação é muito fofa e adorável e você acompanha a aproximação das duas torcendo para que tudo dê certo, ainda que o futuro seja de uma incerteza sem fim. No momento, tudo que importa é a felicidade delas e o fato de funcionarem tão bem uma com a outra.
O conto é, tal como os outros, muito gostoso de ler. A narrativa é fácil, tem personagens incríveis e dá espaço para falar sobre o amor em todas as suas formas; eu amei e me diverti à beça - e o final foi inesperado e me deixou pulando de alegria.
Todos esses contos foram meus favoritos e eu quero abraçar esses personagens pra sempre.
Tal como é premissa da antologia, todos os contos dão espaço e voz para um leque de personagens ricos e de uma representação importante, distante daquilo que o mainstream sempre entrega para os leitores. Protagonistas negras, gordas, protagonistas e coadjuvantes LGBT+, de ascendência asiática, enfim. É maravilhoso pegar um livro para o público jovem e ver tamanha gama de personagens dos mais variados.
A presença da representatividade quase como um personagem - principalmente nas quatro protagonistas, princesas negras empoderadas, donas de si e que guiam suas histórias com coragem -, é importantíssima para que outras garotas se vejam como elas, com espaço e muitas histórias para contar.
Formas Reais de Amar é um must read para todos que adoram acompanhar diferentes e divertidas histórias de amor. O livro está disponível para os leitores do Kindle Unlimited.
site: http://www.queriaestarlendo.com.br/2018/06/resenha-formas-reais-de-amar.html