Maria - Blog Pétalas de Liberdade 20/12/2018Resenha para o blog Pétalas de LiberdadeComo devem lembrar, em maio a atriz Meghan Markle se casou com o príncipe Harry, um casamento que quebrou tradições da realeza britânica, como o fato de Meghan não ser de origem branca. E "Formas reais de amar" é uma coletânea que vem com a proposta de trazer princesas que fogem dos padrões. Em comum, todas as protagonistas tem o fato de serem de ascendência negra. Um pouquinho sobre cada história:
"Catarina, do Reino Unificado" da Val Alves, é narrado pela Catarina, que queria aproveitar o lanche de um evento da ONU mas foi obrigada pela amiga Manu a ir pra frente da Abadia por causa do casamento do príncipe com uma plebeia. Lá, elas se envolveriam numa confusão com uma garotinha perdida, um membro da família real (um reptiliano, talvez?) e um crush da faculdade que é a cara do Chris Evans (amo!) com covinhas! Esse é o conto mais engraçado do livro! A escrita da Val é super bem humorada! A história tem muitas semelhanças com a da Meghan e do Harry, então quem acompanhou o casamento deles e conhece um pouco da realeza britânica, certamente vai entender as referências.
"Como dizem por aí, nem toda heroína usa capa, não é mesmo?"
O segundo conto é "Kayla, do Reino de Sídera", escrito pela Solaine Chioro. A princesa Kayla volta para o seu reino depois de concluir a faculdade, e novamente tem que aturar os pais jogando-a para cima do príncipe Thando. Mas será que se não houvesse essa pressão dos pais, Kayla resistiria tando à ideia de formar um casal apaixonado com Thando? Quais são os verdadeiros sentimentos dos dois? Achei super interessante nesse conto as referências às culturas africanas, especialmente a cultura zulu.
"Ser princesa nunca mudou o fato de eu ser gorda e disso permitir que todos se sentissem livres para opinar sobre o meu corpo."
"Eu estava cansada das pessoas tentando decidir a minha vida amorosa. Não aguentava mais a pressão, mesmo que indireta, que todos pareciam colocar sobre mim e Thando. Eu era dona da minha vida e encontraria o amor do jeito que eu queria, não como meus pais e todo o reino esperavam."
"Às vezes eu me esqueço de que mulheres negras são chamadas de agressivas sempre que deixam de sorrir por dois segundos."
"Lorena, do Reino de Minas" da Lavínia Rocha foi o meu conto favorito! Na história, não existe Minas Gerais, e sim dois reinos: Minas e Gerais. A situação no reino de Minas não é das melhores. Uma aproximação política e econômica com o reino de Gerais poderia ser de grande ajuda. O problema é a inimizade entre os dois povos por causa de antigos conflitos. Para aumentar o índice de aprovação da reaproximação dos reinos, é sugerido um relacionamento entre a princesa Lavínia de Minas e o príncipe Raul de Gerais. Será que isso vai dar certo, ainda mais quando temos alguém tentando sabotar essa reaproximação?
"— Agora percebo que talvez não tenha nada contra Gerais. — Ah, sobre isso não posso concordar. — Ele parou o que estava fazendo e me encarou, sério. — Não cultivo muita simpatia pela princesa de Minas. Raul imediatamente deixou escapar um sorrisinho. Percebi que ele era péssimo para fazer brincadeiras teatrais: nunca conseguia se manter sério o bastante para causar um efeito."
A premissa lembra um pouquinho "A Seleção": casamento real para mudar a opinião pública, mas a semelhança fica só aí. Amei a escrita da Lavínia. Ela conseguiu criar uma trama na medida certa para ficar crível, acreditável. Além de personagens bem construídos, pelos quais sentimos empatia logo de cara, especialmente pela princesa e pelo príncipe em sua determinação de fazer o melhor para o reino. Obviamente, amei também a ambientação no meu estado.
"Não me importava se no pacote de criação de meninas estava a lição 'ser sempre doce, não interessa o que façam com você', o que falei sobre príncipes inconvenientes era verdade."
Mas o que mais gostei foi a atitude da mãe da Lorena, que disse para a filha que ela não precisava abrir mão de si mesma, embarcando num relacionamento que poderia não lhe fazer bem, só por ser uma princesa e ter deveres com o reino, afinal, estamos no século vinte e um e mulheres são bem mais do que "mercadoria" para ser usada em casamentos.
"— Lorena, eu sei por que você concordou com o casamento, sei dos motivos e imagino tudo o que passou pela sua cabeça. Também sei que te criei a vida inteira para pensar no povo antes de si mesma. Eu sei de tudo. — Ela apertou um pouco mais minhas mãos e assentiu. — Mas quero que saiba que sempre pode negar. Mesmo depois que oficializarem, se casarem, unirem os reinos… não importa! Você precisa saber que se esse relacionamento estiver te fazendo mal, você pode e deve sair dele."
"Amara, do Reino das Marés" da escritora Olívia Pilar fecha a obra, nos apresentando Amara, que precisará se casar em pouquíssimo tempo para subir ao trono do Reino das Marés, um pequeno reino onde só mulheres podem governar. Antes de assumir suas obrigações, Amara consegue algumas semanas para viajar ao Brasil, onde conhece Izabela, que trabalha no hotel onde se hospeda. A relação das duas começa com uma amizade e se torna algo mais. Além da boa escrita da Olívia, da ambientação num resort brasileiro, o diferencial desse conto é trazer uma protagonista lésbica de um reino onde uniões de pessoas do mesmo sexo são aceitas. Acho que esse conto só não empatou com o conto da Lavínia como favorito pelo final, que eu queria que fosse diferente, embora tenha sido compreensível.
Falei pouquíssimo sobre cada conto, ainda que cada um merecesse uma resenha só para si. "Formas reais de amar" foi o meu primeiro contato com a escrita das quatro autoras, além de ter sido o primeiro e-book que li no Kindle Unlimited. E foi uma ótima experiência de leitura. Recomendo muito que vocês também o leiam, principalmente por ser uma obra que traz a diversidade e a representatividade tão necessárias na nossa literatura. Além disso, é fascinante como cada autora conseguiu criar o seu reino e inseri-lo nos dias de hoje, trazendo protagonistas que enfrentam os velhos dilemas do coração, mas com muito bom humor e força feminina.
A capa é um encanto, condizente com nossas protagonistas. Por ser e-book, não há muito o que falar sobre a diagramação, quanto à revisão, encontrei pouquíssimos erros.
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