ritita 03/07/2020Terrível e maravilhoso.Numa comunidade Amish(1), ditas de pessoas simples e onde nunca houve homicídio, a polícia é chamada por conta de um recém nascido encontrado morto no celeiro da família Fisher. A primeira suspeita recai sobre Sarah, a mãe da família, logo descartada por não poder ter mais filhos. A outra suspeita é Kate, a filha de 18 anos que os policiais julgam ser a mãe e assassina do bebê.
Ellie Hathaway, prima distante dos Fisher e advogada conceituadíssima numa grande cidade, está de férias na Pensilvânia e aceita fazer a defesa da prima, a contragosto.
Embora a ideia do livro gire em torno do crime e da presumível culpa de Katie Fisher, toda a história permeia as diferenças entre as Pessoas Simples e as do mundo exterior,os Englischers, afinal os Amish tem sua própria forma de julgamento, onde basta o culpado confessar-se em público para ser perdoado, após uma “quarentena” onde fica incomunicável com o resto daquela sociedade.
Por ordem judicial e com uma licença especial da juíza do caso, Ellie vai morar na quinta dos Fisher, onde é incumbida de vigiar Kate 24 h/dia.
Ellen nunca teve que preparar uma defesa tão difícil, de uma pessoa que não mente, prefere ser culpabilizada do que desconhece, do que sentir-se à margem dos seus.
É difícil não sentir um misto de emoções contraditórias em relação Katie, a jovem acusada de ter assassinado o próprio filho, após o seu nascimento, o que poderá parecer estranho a início mas à medida que a história se vai desenvolvendo, e entramos no mundo Amish, através dos olhos de Ellie Hathaway, tudo começa a fazer sentido. As peças começam a encaixar, não só em relação ao caso, mas em relação à vida privada de todos os intervenientes, começamos a entender Katie e o seu comportamento errático, e até mesmo, a simpatizar com ela.
Eu não sou de ler um livro volumoso assim no Kindle, mas não consegui largar de jeito nenhum.
A narrativa vai bem além do típico suspense, o crime que tem que ser resolvido e julgado, introduzindo uma componente pessoal à narrativa e às personagens, de forma congruente, apelativa, credível e acima de tudo, emocionante.
O leitor ama e odeia todos os personagens, já que não existe vilão nem mocinho. Ama os amish pela empatia e não julgamento entre os seus. Detesta os amish pelo rigor de suas leis. Ama Ellie por proteger Kate de si mesma, detesta Ellie por mil outros motivos.
O final? Ah! Misericórdia, a autora mexe e remexe todas as pazinhas possíveis, mas não deixa um fiozinho solto para descobrirmos (confesso que não sou muito boa nisto, não). Só na última pagina ficamos sabendo se foi Kate quem matou o bebê, ou não.
Romance, suspense, drama, aprendizado de outra cultura - tudo junto e misturado.
(1)grupo religioso cristão anabatista baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus costumes ultraconservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis. Quando se fala dos amish hoje, quase sempre se refere aos amish da antiga ordem.