Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva

Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva Claudia Werneck




Resenhas - Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva


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Raquel Lima 21/01/2009

Claro e bem realista
Quando falamos em sociedade/educação inclusiva pensamos sempre em abrir caminhos, incluir o deficiente na nossa sociedade, etc. No fundo, meio que um favor social. A jornalista Claudia consegur ser bem critica em relação a esta postura e nos auxilia com grande informações sobre o papel do deficiente na sociedade, sem precisar que ninguém lhe abra caminho.
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Prof. Aloízio 13/04/2020

A autora se deparou com um tema diferente, quando foi escalada para uma reportagem para a revista Pais e Filhos. Inicialmente soube que não sabia muita coisa sobre ao assunto, e o que sabia não tinha certeza se eram verdades. Foi atrás do tema e a partir de então tornou-se uma referência no assunto. Como poderia uma jornalista falar sobre o tema, se não era da área? O assunto da reportagem era sobre Síndrome de Down. Encontrou vários preconceitos, inclusive o seu, e muita desinformação. O título do livro deixa claro que na sociedade inclusiva, desde 1997, nossas atitudes não serão mais beneficentes em relação aos diferentes (pretendo evitar o termo deficientes) e nunca será tarde, mas é melhor se apressar. Fiz licenciatura contemporaneamente ao lançamento do livro. Tive contato, e convivi com os diferentes. Muitas ações descritas no livro me são familiares e creio que para muitos com os quais convivi em todos estes anos. Dá para iniciar o relato desta leitura pelo final do livro: “termino como comecei, refém absoluto de minhas reflexões”, “que pessoa eu estava sendo sem ter me envolvido com a questão da diferença” e que “a sociedade inclusiva será uma poderosa aliança entre família-escola-mídia”. Atuo como professor já há alguns anos, e neles quantos diferentes passaram por mim? Sinceramente sempre tentei enquadrá-los como normais. Não é pecado ter dúvidas sobre a viabilidade da inclusão, desde que se encare o assunto como um desafio. Existe a política nacional que mantém expectativa em garantir Atendimento Educacional para alunos com necessidades em escolas regulares. A educação Especial não é um sistema paralelo. Os PCN´s já debatiam o que impedia a escola de falar em diferentes. O termo “preferencialmente” não incentivava a atuação no ensino regular. O livro traz depoimentos de atores que conviveram com as diferenças, tanto como responsáveis como os próprios diferentes. Sempre a partir de suas experiencias na escola como ponto de partida, desde as restrições para matrículas, passando pelo tratamento diferenciado, postura de profissionais desinformados até as ações cruéis de grupos preconceituosos. A educação sempre teve suas outras misérias para lidar, esta seria mais uma. Insistiram no desenvolvimento provocado pela convivência em um mundo real. Ninguém mais estaria sozinho a partir de uma organização imposta pelas necessidades. Incluir não é integrar, apesar de possuírem a mesma ideia. Incluir implica inserção total e incondicional e exige rupturas que não são concessões. Incluir deficientes leves e moderados, tudo bem, mas e os severos? Haverá exceções? Deve-se pensar em processos individuais, solitários, como todo processo de aquisição de conhecimento, para que estudantes se tornem adultos produtivos. Em processos bem conduzidos as amizades se desenvolvem, os normais aprendem a apreciar as diferenças e os diferentes se tornam motivados. Uma escola só escola se for transformadora. Deve-se respeitar o ritmo do professor regular no entendimento do significado de sua atuação no contexto da sociedade inclusiva, enquanto os cursos de formação não se atentarem para isso e os esclarecerem de que não tem o que temer. Um diagnóstico de deficiência mental nem sempre estará diretamente voltado para o aluno, mas no contexto familiar, escolar e social, sem falar no tempo em que este diagnóstico foi apresentado. Depois da escola ainda vem a inclusão no emprego, com necessária capacitação para bons desempenhos e ascensões profissionais. A autora relata ainda o azar que dá nas pessoas ao se tocar no assunto “deficiência”. A dificuldade de se encontrar respostas sobre o assunto o torna tabu, gerando os cidadãos-pela-metade, que sutilmente irão discriminar. A autora é dura com quem deturpa a realidade dos diferentes, dos que só mostram o bom, o bonito e o belo. Como irão reivindicar melhorias? Com o passar do tempo a informação domestica o preconceito, constrange. Ela apresenta o tema “diferença” dentro da literatura infantil. Cita o Saci Pererê e o Curupira como diferentes que se dão bem e questiona se o Dumbo não voasse ou se o sapo não virasse príncipe estes diferentes seriam aceitos? Frisa que nenhuma criança deve se aproximar de um diferente por pena. Os diferentes nasceram assim ou ficaram assim? Independente da resposta o que importa é o fomento do debate. Nos diz que existe diferença entre pessoa deficiente/doente/limitada. Doença pode ter cura ou se pega, daí se ter mais cuidados ou evitá-los. Os que são limitados serão até quando? Os deficientes estão sujeitos a padrões. No Brasil, contemporaneamente à edição do livro, a idade adulta chega para as pessoas com Síndrome de Down os quais passam a falar por si (melhor não esquecer da especialidade da autora). Passarão a reivindicar alterações legais e provocar debates, sem os quais a sociedade inclusiva seria uma farsa. Historicamente estas pessoas foram apartadas, por decisões desrespeitosas baseadas em desinformações, por orientação de pensamento ocidental dominante: a pretensão à normalidade. Isso virou hábito de excluir. A normalidade é uma das formas sutis de individualismo, que exclui minorias. Quem apoia os diferentes? Os politicamente corretos? Os tolerantes? Tolerar é permitir com ressalvas. Quem permite não pode ser incomodado por reformulações de pensamento e atitudes. Inclusão e individualismo são incompatíveis. Ser ouvido não quer dizer ser escutado. A busca de uma melhor convivências entre normais e diferentes deveria ser mais bem desempenhada pelos normais. Que relações os normais terão com pessoas “sem expressão social”? O que elas dizem sobre esses, serão ouvidas? Estarão preparados? Qual o preço? É difícil acatar um saber que nos parece incoerente ou que aparentemente nada vai nos acrescentar. A humanidade tem um irrefutável padrão de qualidade, agrupam-se por semelhanças e desprezam os diferentes (deficientes). A deficiência é uma questão humana antes de ser social, superar esta crise implica fortalecê-la. A ciência aumentou a expectativa de vida, mas aumentou também o desnível social. O problema da ciência é o do cientista que perdeu a credibilidade no potencial de desenvolvimento intelectual e humano das pessoas por eles diagnosticadas. A saúde é um direito civil antes de ser um bem adquirido. Um salve ao SUS, modelo em tempos de pandemia. Os médicos, baseados em verdades absolutas, desinteressam-se pelos menos tradicionais. Diferentes e cientistas precisam caminhar juntos. Quem caminha com as próprias limitações, elabora e cria identidades que precisam ser valorizadas. Qualquer pessoa precisa de nutrição, ambiente e educação. Com estes cuidados pode-se acreditar em “cura” de muitos males. Qualquer coeficiente intelectual pode ser mais alto com melhor educação. Ainda falando da convivência, ela nos diz que a incerteza move o home, mas existe a falsa certeza. Todos são normais até que se prove o contrário. A presença de diferentes gera sentimentos de fragilidade, amedrontamento e insegurança, que gera inabilidade, constrangimento, limitações e receio. A prevenção de deficiência não necessariamente pressupõe evitar deficiência, mas sim lidar com ela. O maior desliza em se tratando de diferentes seria a divinização ou o modo de tratá-los como eternas crianças. As atuações das mídias neste contexto (a autora é jornalista) são expostas em relatos de publicações de veículos de grande circulação nacional, que ela faz a mea-culpa, quando se tem bons jornalistas e entrevistados errados. Os especialistas são interdisciplinares, só conhece deficiência quem com ela convive. O jornalista é um mediador de todos os saberes. Bati na porta na inclusão e escancararam-me.
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