Aione 04/11/2018Meu Livro Violeta traz dois contos de Ian McEwan em estilos bastante distintos um do outro, mas que se aproximam ao trazerem uma temática em comum: a corrupção do homem frente a seus próprios interesses.
No conto que dá nome ao livro — cujo lançamento mundial celebrou os 70 anos do autor —, conhecemos a história de um crime literário. Jocelyn Tarbet e Parker Sparrow são escritores e amigos de longa data. Em algumas páginas, Parker, o narrador em primeira pessoa, narra os altos e baixos dessa amizade e traça a trajetória que cada um dos amigos seguiu ao longo da vida. É quando chegamos ao ponto da narrativa que realmente importará para o desenvolvimento da trama, quando ambos, já na meia-idade e em pontos bastante diferentes de sucesso em suas carreiras, serão drasticamente afetados por uma escolha do protagonista.
O mais interessante da leitura é a habilidade com que Ian McEwan desenvolve os conflitos e, especialmente, o narrador protagonista. Ainda que o conto seja bastante curto, é possível imergir nele com facilidade por conta da linguagem clara do autor e de sua primorosa descrição de cenários e situações. Acima de tudo, me encantou a maneira de como são apresentados os aspectos da personalidade de Parker que levarão à sua atitude decisiva. É justamente no contraste entre o que ele diz e aquilo que demonstra que suas intenções se fazem claras, e a ironia perversa da trama apenas ressalta a temática central, que rodeia os sentimentos de inveja e competição.
“Por você”, por sua vez, é o libreto escrito para a ópera de Michael Berkeley. Nele, é narrada a história do regente e compositor Charles Frieth, cujas aventuras amorosas preparam a ação narrativa que envolverá sua esposa, o médico dela e a criada do casal.
Em uma trama que me lembrou uma mescla de Otelo e Primo Basílio, acompanhamos as paixões inflamadas das personagens e como elas se combinam para a criação da tragédia. Embora o estilo narrativo se diferencie do primeiro texto por ambos pertencerem a gêneros distintos, ainda assim é possível reconhecer a linguagem clara de McEwan, bem como a perversidade presente na trama também a aproxime de “Meu Livro Violeta”.
Em linhas gerais, gostei de Meu Livro Violeta especialmente por seu caráter revelador da obscuridade do ser humano. Foram leituras rápidas e envolventes, ainda que de estilos diferentes, e que mais uma vez me fizeram admirar o trabalho de Ian McEwan.
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