Aione 05/02/2019Embora Tempo de Partir não tenha sido minha primeira leitura de Jodi Picoult, é a primeira vez que a resenho. Em meus contatos anteriores — O Pacto e Uma Questão de Fé —, assim como em suas demais obras que aguardam em minha estante, as premissas dos livros envolvem dilemas morais, situações delicadas em que as personagens se vêem pressionadas a fazer escolhas difíceis ou circunstâncias nas quais suas convicções são postas à prova. Por isso, a sinopse de Tempo de Partir chamou minha atenção, parecendo um livro um tanto quanto diferente dos demais da autora.
Jenna Metcalf convive com a angústia de não ter notícias de sua mãe há mais de dez anos. Alice Metcalf era uma cientista que estudava o luto em elefantes e sumiu misteriosamente após um acidente no santuário de elefantes onde morava e trabalhava. Na esperança de respostas, a adolescente entra em contato com Serenity Jones, uma médium especializada em encontrar pessoas desaparecidas, e Virgil Stranhope, o detetive que, na época, foi responsável por investigar o caso no santuário.
A estrutura narrativa de Tempo de Partir se constrói em primeira pessoa pelas perspectivas intercaladas de Jenna, Serenity e Virgil, no presente, e de Alice, no passado, de maneira que tanto a história da busca por Alice seja contada ao leitor quanto a de tudo que levou a seu desaparecimento, uma década antes.
Assim, há uma fluidez muito grande na leitura proporcionada pela alternância de vozes narrativas, que tanto desenvolvem a trama com uma riqueza enorme de detalhes, quanto pouco a pouco alimentam a voracidade do leitor em descobrir todos os segredos da história. As pistas vão sendo habilmente construídas até culminar em um clímax, digno de tirar o fôlego.
Também, a alternância narrativa proporciona diferentes atmosferas para a leitura. Apesar do livro trabalhar questões emocionais delicadas, me vi dando risada em diversas passagens narradas por Virgil e, especialmente, Serenity. A voz da personagem, inclusive, muitas vezes me deixou com a sensação de estar lendo um chick-lit, algo um tanto quanto inesperado por mim em um livro de Jodi Picoult. Outros momentos, porém, são marcados pela intensidade e sensibilidade típicas da autora, fazendo da leitura também bastante emocionante.
Não sei que ponto da leitura mais me impressionou: se foi a destreza da autora em criar uma história tão completa, surpreendente e bem desenvolvida; se foi a notória carga de pesquisa presente no livro, que faz dele ainda mais interessante por toda informação a respeito dos elefantes; se foi a sensibilidade que permeia a leitura, seja no que diz respeito à forma de como as emoções e conflitos das personagens é trabalhada, seja no olhar dado aos animais. Em relação a esse aspecto, a aproximação entre eles e as personagens me lembrou Baía da Esperança, de Jojo Moyes, que faz algo relativamente similar entre personagens e baleias.
O que posso dizer é que, mais uma vez, Jodi Picoult me impressionou e me conquistou por completo, fazendo de Tempo de Partir uma das melhores leituras que realizei nos últimos tempos. Esse é um livro sobre luto e sobre a dificuldade que temos de lidar com muitas das questões que surgem ao longo da vida. A autora já figura entre minhas favoritas, e não vejo a hora de poder me debruçar em mais de suas obras.
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