Antonio 15/02/2020
Lendo Imagens
Como ler livros que só têm imagens, ou em que predominam as imagens?
Talvez isso não seja difícil no caso de uma história linear, mas no caso do ilustrador (agora autor) André Neves, não é nada fácil.
André Neves se destacou como um excelente ilustrador, criando um estilo inconfundível. Agora, em MANU e MILA, ele também escreve, mas as imagens ainda predominam.
A simplicidade e a poesia das imagens são desafiadoras para o leitor. Tudo começa em um jardim: duas crianças, Manu e Mila, se perguntam onde estaria a felicidade. Ela acha que está nas coisas pequenas; ele acredita que está nas coisas grandes, muito grandes. Quando ele encontra um besouro, e ela encontra uma joaninha, a imaginação decola, livre e solta, e os dois chegam a voar com os insetos. A alegria foi encontrada!
No entanto, há muitos detalhes intrigantes. Há desenhos de plantas e flores tão bem feitos que parecem ilustrações botânicas. Mas também, como está na própria capa, há flores que não existem na realidade, causando perplexidade. Talvez seja essa mistura entre o real e o imaginário (sem uma clara separação), o traço mais característico de André Neves. Não se pode apontar que isso é real e aquilo não é, pois no livro isso não é nítido, e na mente infantil não existe essa distinção. Mas percebemos a importância da imaginação. No final da aventura, foi a imaginação que prevaleceu, embora a realidade nunca seja negada.
A imagem inicial é a de duas colinas cobertas de casas, mas separadas. O jardim fica ali no meio de todas as casas. No entanto, as ilustrações mostram um lugar que vai progressivamente perdendo suas barreiras — o muro, o banco, os vasos desaparecem, imagem após imagem. No final, temos apenas as duas crianças fazendo uma brincadeira, dançando em círculo. E o círculo evoca harmonia, integração, união. Se os dois discordavam a princípio (e a imagem inicial mostra dois “bairros” separados), o final mostra que essa discordância foi superada, pois a brincadeira envolve os dois igualmente. Tudo indica que foram o besouro e a joaninha que os inspiraram.
As imagens poéticas não podem ser decodificadas com exatidão. É preciso se deixar levar pelas sugestões, pela fantasia, pois todos nós – da criança ao adulto — precisamos estimular nossa imaginação, até como uma ferramenta de sobrevivência. O final feliz estaria, então, em sempre acreditar que há uma opção a mais, sempre algo a descobrir.
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