Clara Simões 26/02/2024Amei tanto que é difícil descrever (o que é irônico)"Released, my tongue will speak visions. Released, I am a spear in the hands of the sun."
Que livro fenomenal. Fui fisgada completamente pela narrativa, que constrói um universo complexo, vívido e tão rico que é impossível não se sentir imerso nele. Fascinante acompanhar as particularidades culturais, políticas e históricas de um Império em perpétua expansão, com a bocarra aberta e os dentes afiados para consumir toda civilização em seu caminho. E, uma vez anexada, essa civilização perde aos poucos sua identidade e se torna, inevitavelmente, parte do "mundo". Tudo é Teixcalaan.
E àqueles que vivem às margens da digestão, ainda à espera de também serem consumidos, resta a desumanização de serem vistos como bárbaros - menos humanos que a sociedade superior, menos avançados, menos esclarecidos. É como disse num dos meus históricos de leitura: é tão sufocante quanto brilhante acompanhar as minúcias culturais e sutis de um império em que mesmo as pessoas de "mente aberta" também são repletas de uma xenofobia insidiosa que não vê os "bárbaros" como tão humanos quanto eles.
Os personagens são deliciosos, repletos de qualidades, defeitos, ambições e desejos que os tornam unicamente humanos. As relações que surgem entre eles são ainda mais interessantes, todos imersos num jogo político devastador e cruel.
Também amo a maneira em que a autora aborda a linguagem como ferramenta fundamental da cultura, e as minúcias de uma assimilação perigosa com uma cultura que não quer integrar, mas devorar. Vale lembrar também dos vislumbres que temos das dinâmicas desse universo nos trechos de cartas, jornais e comunicados nos inícios dos capítulos. Tudo isso torna a história ainda mais rica e de morrer de vontade de mais.
Não consigo fazer jus a essa história aqui, nem descrever como amei cada elemento, mas fica aqui minha humilde recomendação ??
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"Just once," Mahit said, with a sort of desperate and useless frustration, "I'd like you to imagine I might do something because it's what a person does."
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Empire was empire - the part that seduced and the part that clamped down, jaws like a vise, and shook a planet until its neck was broken and it died.
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Nothing touched by empire stays clean.
Nothing the Empire touched would remain hers.