spoiler visualizarLe 15/03/2024
Medo, tristeza, angústia e as lembranças.
O que você espera de uma criança relatando os horrores de uma guerra?
Durante anos, Myriam registrou em seu diário o temor, a insegurança, o sofrimento de viver em uma cidade cada vez mais destruída pela guerra. Uma criança, que talvez não compreendia (ou não conhecia) as razões pelas quais aquelas pessoas estavam iniciando conflitos, bombardeios, racionamentos de água e alimentos. Mas, mesmo muito jovem, aprendeu a lidar com essa situação, e para a minha surpresa, a vida dela não parou.
Na minha ignorância de quem nunca passou por uma situação minimamente parecida, era uma surpresa ver seus relatos sobre ir andando para a escola, atravessando áreas perigosas; ler sobre pequenos momentos de felicidade ou de uma rotina familiar.
Myriam e Joelle cresceram nessa situação e tiveram que passar por muitas coisas, acima de tudo, perderam a chance de ter uma infância normal.
Já no início do livro, um trecho me deixou muito emocionada e quando tentei descrever a situação para meu marido, fiquei com a voz embargada, não consegui terminar de contar: "Foi ali, pela primeira vez, que entendi o que significava a guerra. A guerra era minha infância destruída sob essas ruínas e fechada em uma caixinha." E mesmo agora, meus olhos se enchem de lágrimas ao reproduzir essas palavras.
Pensar que ela, sua família, tantas pessoas tiveram suas vidas marcadas para sempre por esse conflito, que a vida que eles conheciam nunca mais vai existir da mesma maneira: "A gente compara o tempo todo o que a gente tinha e o que não existe mais" me faz pensar o quão injusto é o mundo, que tantas vidas inocentes são afetadas e destruídas e isso acontece o tempo todo em vários lugares do mundo. Esta acontecendo agora mesmo. Pessoas morrendo e não vai parar, nunca para! A cada dia, perco um pouco mais de fé na humanidade, mas ao mesmo tempo, recupero um pouco a esperança, porque Myriam sobreviveu. Ela é uma não é uma guerreira, porque ela não fez a guerra. Ela não é uma batalhadora, Myriam não entraria em uma batalha. Ela é uma sobrevivente, com marcas, medos que vai carregar pelo resto da vida. Mas ela sobreviveu!
"Para mim, era só medo, tristeza, angústia. E as lembranças de uma vida de antes que não recuperarei nunca mais."