Queria Estar Lendo 29/08/2021
Resenha: Os Noivos do Inverno
Os Noivos do Inverno é o primeiro volume da série Passa-Espelhos, da francesa Christelle Dabos – publicada aqui pela Editora Morro Branco. É uma fantasia criativa sobre política e sociedade com uma dose de personagens carismáticos e de moral bem cinzenta.
Ophélie tem poderes: ela pode ler objetos com um toque, e também pode atravessar superfícies que produzam reflexo; espelhos, no geral (daí o nome da série). Ela tem uma vida tranquila cuidando do acervo antigo, até que descobre ter sido prometida a um homem do Polo.
Thorn está vindo para busca-la, e não há muito que Ophélie possa fazer contra esse casamento. Ela não o ama – mal o conhece – mas as Decanas, uma espécie de oráculo desse universo, disseram que isso precisa acontecer. Mas não significa que vá acontecer sem resistência ou indignação por parte da garota.
Uma vez que partem para o Polo, Ophélie vai confrontar um novo universo; um onde a sociedade é perigosa, onde segredos são tão valiosos quanto ouro, onde pessoas lutam pela atenção da corte e das pessoas de alto prestígio. Thorn é uma figura de grande importância, o que significa que todos os olhos vão se voltar para sua noiva também. Em meio ao inverno tenebroso, jogos políticos e passagens entre espelhos, Ophélie precisa entender qual seu papel em toda essa história.
Os Noivos do Inverno tem uma ambientação fria e misteriosa tal qual o lugar para onde sua protagonista se move; através da Ophélie, conhecemos esse “novo mundo” com um pouco de receio e medo. Ela é uma garota acostumada com objetos e com a família e de repente está em meio a uma sociedade onde poder e status são tudo.
Eu adorei absolutamente cada momento desse livro. A narrativa da Christelle Dabos é gradual, tomando seu tempo para apresentar as coisas, para nos familiarizar com tudo que está acontecendo e tudo que a protagonista está vivendo. Os coadjuvantes enchem as páginas de moral dúbia e de escolhas perigosas, e eu me apaixonei pelo fato de que ninguém nessa história é 100% bonzinho.
Nem mesmo a Ophélie.
Porque o desenvolvimento dela é justamente esse. Da garota escondida entre prateleiras, buscando memórias de objetos e se esquecendo das pessoas, até essa sobrevivente em meio a mentiras e víboras traiçoeiras como os homens e mulheres do Polo.
Adorei a ingenuidade fria da Ophélie, sua sagacidade com as coisas que aconteciam ao seu redor e como ela se adaptou. Foi uma montanha-russa de emoções pra coitada, mas ela viveu tudo ao extremo e aprendeu a se virar; até porque, ali no Polo, com exceção da presença da sua tia e do misterioso Thorn, não dá pra confiar em ninguém.
Os coadjuvantes têm papeis muito importantes no desenrolar da história – e a graça, pra mim, foi justamente não saber o que estava acontecendo no plot principal, mas descobrir junto com a Ophélie. Conforme entendemos mais do Polo e de quem vive nele, entendemos onde a história quer chegar, e como quer chegar.
"Passar espelhos exige enfrentar a si mesmo."
Thorn tem uma presença muito importante no desenrolar disso tudo, e eu amei como a autora sustentou o mistério e essa aura de que ele não se importa com nada, que é tão frio quanto o Polo, que não devemos confiar nele - para, gradualmente, nos mostrar que ele é mais do que a postura e a aparência mostram.
Nem preciso dizer que morri com o ship, né? Thorn e Ophélie é um slowburn muito slow e aí quando as interações acontecem, você dá gritinhos histéricos. Tem uma faísca ali, nos olhares e nos diálogos e na confiança lenta que eles constroem, mas existe e eu preciso ver ganhando vida!
Eu gostei, principalmente, dos confrontos quando os dois começaram a se entender melhor - e não se suportar tanto - porque é a teimosia da Ophélie contra o lado turrão seco do Thorn e meu deus eu vivo por esses dois.
Outros personagens como a tia da Ophélie, Roseline, e Bereldine, a tia do Thorn, são igualmente importantes para a trama principal e para as paralelas que acontecem entre ela. Eu adorei a Bereldine porque ela é tão dúbia e difícil de entender; quando você acha que sacou a dela, ela vem e te surpreendeu com uma revelação ou situação inusitada. Roseline é muito mais na dela, mas tem bons momentos com a Ophélie. É meio que o porto seguro dela naquele universo louco.
Os Noivos do Inverno também tem um cenário pitoresco tão, mas tão criativo e fascinante que a mera descrição dele já bastou pra me colocar ali. É uma cidade flutuante, um mundo flutuante, um universo à parte de tudo que conhecemos; tem umas vibes meio O Castelo Animado e Planeta do Tesouro que me deixou completamente fascinada por cada momento em que a autora explorava esse ambiente.
Toda a questão com essa realidade e poderes bizarros, como a Ophélie tendo a rara habilidade de atravessar espelhos - ou mesmo seu cachecol, um objeto mágico que tem vida e personalidade e é uma presença constante nas melhores cenas - é de encher os olhos.
A edição da Morro Branco, como sempre, é linda demais. Tem detalhes nas páginas e na contracapa pra combinar com a ambientação do livro, e tradução e diagramação, tudo perfeito.
Os Noivos do Inverno é meu novo xodó, e eu vou panfletar essa fantasia até o fim do mundo. Essa história tem personagens femininas incríveis, um ótimo desenvolvimento, política e até mesmo um pouco de ação. Mal posso esperar pra conferir o resto da série!
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