Ivandro Menezes 01/05/2019
Uma história sobre o amor
O belo romance de Julian Barnes trata da relação amorosa entre Paul, um estudante de dezenove anos, e Susan, uma mulher casada de quarenta e oito anos.
Na primeira parte, Paul descreve como tudo aconteceu. É expresso o seu deslumbramento e sacralização da pessoa de Susan, quem, apesar da idade, a reputa por frágil e inocente, tola, inexperiente (aqui pondo-se ao mesmo nível dele). Na segunda parte, temos o declínio dessa relação, a realidade projetada do amor que resiste aos obstáculos apresenta desgastes. Gradativamente, vai perdendo espaço para uma série de problemas que põe em desafio a pouca maturidade de Paul.
A terceira parte, um maduro e distante Paul, faz a retrospectiva de suas vida ao lado de Susan, intercalando com suas elucubrações sobre o amor.
Barnes ironiza lugares e recursos comuns em histórias de amor para criar uma história de amor sem sentimentalismos e melodrama.
Vai desconstruindo a perspectiva do narrador a respeito de Susan, inserindo aspectos mais cruéis de sua personalidade e adicionando novo conflito. Se antes o antagonismo era entre o marido de Susan, o Senhor Calça de Elefante, e suas filhas, aqui passa a ser o grande fantasma que assombra Susan (porque se recusa a aceitar que ela seja o problema). É como se nos entregasse um outro Paul e outra Susan.
Na terceira parte, há uma mudança no narrador, que passa a usar a terceira pessoa, justificada pelo distanciamento que sente de sua própria história. Assim, enxergar sem tanta passionalidade o modo como foi infantil e analisa mais secamente a importância e relevância do amor para a vida de um homem. O Paul apaixonado cede ao cinquentenário, mais experimentado, distante, tateando entre as memórias àquelas que possam compor todo o cenário de sua história de amor e de seu desfecho.
Sutilmente, constrói um romance sobre o amor. O amor como uma história, um recorte da memória, uma perspectiva alterada pelo tempo, idade, circunstâncias, mas ainda real. Paul apaixona-se, sofre, distancia-se, segue adiante, sem conseguir livrar-se do amor.