nalannes 24/07/2020
Mágico, histórico, sensível, crítico, atemporal. As Lembranças do Porvir tem todos encantos da literatura latino-americana e é um dos percursores do chamado realismo mágico.
Fica a sensação que o livro deveria e poderia estar em um prateleira de mais destaque e reconhecimento. A edição da Arte & Letra de 2018 é a primeira e única da obra no Brasil, por enquanto.
É clara a influência de As Lembranças do Porvir (1963) e Elena Garro em outras obras tão famosas, como Cem Anos de Solidão (1967). O livro mistura os "folclores" locais com a realidade, a violência militar tão comum na América Latina, as personagens mulheres tão marcantes e o certo pessimismo e beleza do inevitável ciclo da vida.
Um dos grandes charmes da escrita de Elena Garro é a própria narração, que navega entre o passado, presente, futuro e até é capaz de pausar o tempo. Quem é o narrador? O que é o narrador? Só lendo mesmo para acompanhar. rs
Em As Lembranças do Porvir conhecemos a cidade fictícia de Ixtepec e seus moradores. O protagonismo está na família Moncada e nos miliares que comandam a região, como o general Francisco Rosas. No entanto, a autora explora muitos personagens ao longo do livro, deixando a leitura mais complexa de personalidades e críticas sociais atemporais.
O contexto histórico do livro é a Guerra Cristera, importante conflito mexicano entre militares do governo e a igreja no início do século XX. Para quem não é tão familiarizado com a história do México, em especial este momento pós revolução de Zapata, como era meu caso, vale a pena dar uma pesquisada sobre para poder aproveitar melhor as referências.