Retipatia 28/11/2018
Deixe-se levar pelos ventos nômades...
Os ventos que circulam nesta terra, passam por tantas outras, veem as mais diversas histórias e contam em contos os encontros e desencontros que só os corações nômades são capazes de experimentar...
A mala estava pronta, só esperando o abrir da primeira página para embarcar. Subi a bordo do navio, entrei no avião, caminhei, corri e sacolejei no ônibus. Tudo parte da viagem que foi guiada por ventos nômades, que foram do Brasil à Alemanha, da Índia à Austrália e por muitos mais recantos do globo.
Vi Ventos Nômades em algum lugar que não lembro qual, em um tempo que não lembro quando e encantei pela capa e pelo título. Ventos que são nômades... indaguei: qual vento não o seria? E, apesar do título constar daquelas listas infinitas de desejos que espalho em todos os meus dispositivos eletrônicos e cadernos, estava lá, a aguardar o momento que os tais ventos o trouxessem para mim.
E eles chegaram, fizeram a própria viagem e desembarcaram em meu endereço. Admirei capa, descobri a diagramação de encher olhos e então, voltei a pensar quais seriam esses tais ventos nômades. Seriam os que circulam por mim no centro da cidade, ou seriam aqueles que só encontro na beira-mar que não existe em minha cidade? Seriam aqueles que levaram as almas gêmeas a se reencontrarem, ou o que levou as filhas a peregrinar na terra de sua mãe?
São muitas perguntas e continuo a indagar sobre o vento. Se ele tem o condão de trazer magia, ou de criar amor à primeira vista. Se ele consegue carregar perdão tão bem quanto grãos de areia, se consegue fazer mulher de pedra dançar ou se tudo não passe de devaneios meus sobre amores destinados que o mundo fez separar. Não sei, talvez a beleza dos ventos que se denominam nômades seja exatamente esta, levar e trazer migalhas e sementes, esperanças e desencantos, conforto e desconforto.
A leitura, que passa por dez contos, vai das mais variadas narrativas, primeira, terceira pessoa, de um jeito tão natural e corriqueiro que é possível imaginar que cada personagem escrivinhou aquelas linhas, transpôs em mente ou no papel, tudo que os ventos delimitaram nas páginas.
Alguns contos receberam os ventos do amor, da esperança e, por onde passam, deixaram a brisa suave do afago que é saber que algumas experiências, ainda que passem por linhas tênues, acabam por engrandecer, por ensinar e mostrar que há muitas mais formas de se amar e desbravar o mundo, do que com uma mochila nas costas.
Outros, tem sabor amargo, da rudeza da vida, mas que reverberam como ventos uivantes que erguem mechas de cabelo e causam arrepios na pele. Mas deixam também a certeza, levemente incerta, de que os caminhos que nossos pés tocam, são aqueles que já foram pisados tantas vezes antes, que já iluminaram tantas vezes antes e que receberam tantos nômades quantas vidas passaram pelo mundo. É a certeza que trilha alguma é feita em solidão, porque o vento que levou até lá, levou tantos outros antes.
Talvez, tenha algum conto favorito aqui ou acolá, um que fez meu próprio vento nômade tomar força, embaraçar os cachos e arrepiar a espinha. Mas seria injusto com os ventos de sorrisos, leveza e sutileza que, cada um, à sua maneira, conseguiu inspirar.
Desembarcando em cada ponto, vi milagres na praça do rei quando uma tempestade de areia tomou meu caminho. Perambulei e acabei vendo a dançarina de pedra em terras que não sei nomear. Apesar da acolhida, saí em busca de um novo rumo, mas me vi à meia-noite na fronteira. E isso foi quando me deixei levar pelo abraço do mar, para então me secar à sombra da cerejeira que trouxe cálido perfume às ressacas marítimas. Usei então o vermelho de todas as coisas quando o desconhecido sorriu e veio com aquela história de olho no olho, polvo com repolho. Não deixei que me enganasse, o anel de Salomão não teria aquela aparência. Só sei que, no fim do dia, das contas e da viagem, os vi novamente, agora, foram milagres na terra dos Orixás.
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