De Espaços Abandonados

De Espaços Abandonados Luisa Geisler




Resenhas - De Espaços Abandonados


9 encontrados | exibindo 1 a 9


elske 03/04/2024

O equivalente literário de deixar alguém com blue balls
No início o livro parecia promissor. As ?cartas? (e-mails), o mistério, as pecinhas de quebra-cabeça, as novas personagens sendo introduzidas; parecia que seria uma leitura muito interessante. Afinal, quem era essa Maria Alice? Infelizmente, aconteceu um dos ?desastres? descrito no manual de criação literária dentro do livro: ?ela acaba se perdendo nas próprias histórias?. A partir da parte 2, há um excesso de cenas, irrelevantes para a história; sinto que, se eu tivesse pulado 50 páginas por engano e continuado a ler, eu nem perceberia, não importaria. Descrições irrelevantes, cenas banais, aparentemente aleatórias, colocadas ali não se sabe exatamente para quê. E vários ?espaços abandonados?, abertos mas inconclusos: o buraco na parede entre os dois quartos? A mala de Andreas que ficou embaixo da cama? As marcas de agressão física no corpo de Bruna? A própria miopia avançada de Maria Alice, que supostamente seria uma questão importante para ela e para as suas relações pessoais, mal é mencionada nas cenas, mal aparece no convívio de Maria Alice, não se mostrou relevante. A ideia dos ?366 convites literários? se tornou maçante, virou uma encheção de linguiça: para cada convite, uma pequena cena, a grande maioria aparentemente sem propósito e não memorável. Algumas das cenas têm relação com as propostas do ?convite?, outras não têm relação nenhuma, e outros convites não tinham nenhuma cena. Para quê usar esses 366 convites então? Uma escrita criativa, mas que talvez criou demais, em excesso e não conseguiu juntar de uma forma que tornasse a leitura não cansativa. Na página duzentos, quase abandonei a leitura, mas resolvi ir até o final pra ver se algo mudaria. Não mudou. No fim, a gente fica que nem o Caio: sem resposta nenhuma. E a pergunta que Maria Alice se faz constantemente: Por que eu escrevi isso? A gente também gostaria de saber. Talvez o mérito do livro seja o de conseguir estabelecer uma narrativa mesmo através de cenas tão dispersas das histórias de vários personagens: Bruna, Maicou, Maria Alice e Caetano. Outro mérito: conseguir ser um livro que, ao mesmo tempo que consegue ser um livro sobre imigrantes brasileiros na Irlanda, sobre a busca por pessoas perdidas ou por ideias ou por sonhos ou por dinheiro ou por prazer ou por fugir, também consegue ser um livro sobre nada ou quase nada. Outro mérito: algumas partes achei tão ruins, que me deram vontade de escrever. Acho que a cena da aula de storytelling irlandês na Parte 1 explica o que esse livro tenta fazer: ?story arcs são abandonados tão rápido quanto são determinados?, ?qualquer ideia, qualquer hipótese, sugestão de motivação ou development do personagem é deixado hanging?. Na página 37, a descrição do livro: ?é o equivalente literário de deixar alguém com blue balls?: demora pra passar, é desconfortável, cansa e até dói, tudo porque o clímax não foi alcançado.
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marcioenrique 08/04/2021

livro com uma proposta experimental que soube-me bem confuso em sua proposta.

infelizmente, não funcionou para mim.
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Fernanda 02/02/2021

De espaços abandonados
Resenha no blog. Confiram:

https://modoliterario.blogspot.com/2018/08/resenha-de-espacos-abandonados.html

site: https://modoliterario.blogspot.com/2018/08/resenha-de-espacos-abandonados.html
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Laura Regina - @IndicaLaura 31/07/2020

Livro de encontros e desencontros
Após o sumiço de Lídia, Maria Alice viaja até Dublin procurando-a através de posts de blogs de fotografia.

🤯
Foi assim que me senti durante toda a leitura desse livro: sua escrita diferenciada, com mistura de fotos, escritos num diário e em arquivos no computador de Maria Alice, cartas escritas ao irmão de Maria por amigos dela, mesclas entre relatos autobiográficos e relatos (ficcionais?) desses amigos.

Esta miscelânea tão grande entre narradores, entre diferentes ângulos e visões das mesmas experiências em Dublin me deixou desnorteada, pensando e refletindo e repisando a história o tempo todo - ou seja, eu vivi o livro por dias, e amei isto! Conseguir me colocar no lugar daqueles jovens imigrantes ferrados em Dublin, no lugar do irmão procurando a irmã que sumiu, de Maria Alice que se apega em pequenas esperanças para rever Lídia.

Tenho certeza que não entendi nem metade do que a autora propôs para esta história, mas fico feliz com livros que me fazem viver dentro dele e voltar em seus dramas - neste aqui vou retornar com certeza!

Mais indicações no Instagram @indicalaura


site: https://www.instagram.com/indicalaura/?hl=pt-br
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Wlange 26/03/2020

De espaços abandonados
Caio procura a irmã que foi atrás da mãe deles na Irlanda e acabou enfrentando, ao lado de outros brasileiros, problemas típicos de imigrantes. O livro acontece dentro de um manual de escrita e tem narração de vários personagens.

Bem experimental. Vez ou outra me perdi na proposta, mas no fim foi uma leitura boa.
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kleris aqui, @amocadotexto no ig 03/09/2019

Perguntas continuam ecoando aqui dentro
[trechos e imagens foram suprimidos; ver o link da resenha]

Uau. Perplexa estou. Surtada fiquei. E palavras encontrarei, porque preciso falar desse livro.

Conhecido por desafiar os limites da ficção, De Espaços Abandonados nos coloca frente a mais possibilidades de feitura ficcional até então inimagináveis. Luisa tornou possível a formação de um romance em um... romance. E romance esse de formação.

Inception sim. Mas vamos por partes.

O enredo retrata a busca de Caio por Maria Alice, sua irmã, que viajou à procura da mãe, Lídia, que fugiu de casa e pelo tempo de desaparecimento, foi dada como morta. Lídia é bipolar, então constantemente Maria Alice e Caio, desde pequenos, assumiram responsabilidades quanto a cuidar da mãe. Ainda nesse papel, Maria Alice jura de pé junto que descobriu o paradeiro de Lídia, em Dublin, e parte nessa viagem.

É pela jornada de Maria Alice que entendemos mais sobre essas buscas, as relações familiares, o que a move (ou não move), seus planos e seu senso quanto ao panorama. Através dela somos levados também a outras pessoas e histórias, já na Irlanda, onde conhece estudantes brasileiros, como Maicou, Bruna e Caetano, com quem divide um apartamento. Todos, pelo jeito, estão tentando dar um jeito na vida.

O pulo do gato do livro é como o enredo é apresentado ao leitor: são fragmentos que funcionam como pistas para ligarmos os pontos, o que torna a leitura um tanto investigativa e ao mesmo tempo desafiadora, pois esses mesmos fragmentos são pedaços de uma narrativa dentro do próprio livro com múltiplas vozes narrativas. E esses fragmentos são registros e vivências que precisam de nossa costura (como um manuscrito inacabado), algo que não é fácil, mesmo com todas as sugestões no ar e mesmo com o manual que existe dentro do livro.

Ler De Espaços Abandonados é se sentir constantemente perdido, bugado (modo HARD), e ainda assim instigado, perguntando-se sobre o que está acontecendo, se o que nos é apresentado vale para todo o contexto, se a narrativa está nos enganando, se a gente está no paralelo certo, qual é o sentido do rolê, e, claro, uma busca alucinada sobre o destino dos personagens. Como já disse a própria autora em entrevistas, é um livro esquisito e de leitura esquisita.

Isso quer dizer que o livro demanda um pouco de seu leitor. Por quebrar e reconstruir o script de um romance, pede-se um leitor mais experiente, mais solto e disposto a sair da zona de conforto. E que saiba inglês também, porque há conversações e referências quando vivemos com os imigrantes. Quem tem alguma experiência com escrita criativa pode ter umas vantagens – vai se situar melhor, entender as razões de algumas coisas e, por que não, se identificar nas mil e umas anotações.

Tal qual um jogo narrativo, nossa percepção é posta à prova. Mesmo com toda a visão privilegiada que Luisa nos permite, esse é um quebra-cabeça em que não conhecemos as “peças da ponta”, pelo menos não até terminar o livro e ficar só BERROS pela ficha que cai.

Dividido em três partes, temos diversos paralelos enquanto a história está sendo construída na nossa frente. Para além de Maria Alice, Maicou e Bruna são dois personagens que facilmente roubam a atenção e Caio é aquele à espreita, com um lugar cativo na narração. Mas o mais curioso é que no meio de tanta voz, Luísa joga umas pistas e depois desfaz, o que quebra umas teorias e nos deixa desconfiados pensando demais.

Já a ambientação e o contexto em que somos inseridos, esses são pontos sensíveis para a compreensão do título. Fala-se muito sobre se perder, se abandonar e as relações que construímos ou desconstruímos no meio do caminho, estando parados ou não. Luisa é maravilhosa em nos mostrar isso.

Obviamente, o tom do texto assume uma melancolia constante para demonstrar essa falta de norte ou foco. A questão da imigração cai como uma luva, mas é interessante que Luisa não se prende a amarras comuns (e quanto a qualquer coisa). Quer dizer, não há qualquer exaltação ou romantização, seja sobre viver fora do país, seja sobre relacionamentos ou aspectos mais pessoais de seus personagens. Essa banalização e desprendimento também revelam um pouco de depreciação, o que não sei dizer se faz parte do estilo da autora ou se é um caso em particular, vez que essa é a primeira obra dela com que tenho contato (e com certeza lerei outros).

Por vezes o ritmo do livro diminui, e os fragmentos parecem incongruentes, aleatórios e até mornos, mas terminamos a leitura sabendo que estava tudo no lugar. Luisa nos entrega uma obra original, madura, pretensiosa, excepcional e que abre novos precedentes para a ficção e seus experimentalismos. Uma certeza que se tem é que, entendendo ou não entendendo o rumo ficcional, seremos geislerados.

E talvez eu precise reler. Porque perguntas e respostas e novas perguntas continuam ecoando aqui dentro.
Ou isso.
Ou.

Recomendadíssimo se esse tipo de proposta também te fascina.

site: http://www.dear-book.net/2019/07/resenha-de-espacos-abandonados-luisa.html
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 29/08/2018

Luisa Geisler - De espaços abandonados
Editora Alfaguara - 416 Páginas - Capa: Claudia Espínola de Carvalho - Lançamento: 18/06/2018 .

Preparei uma postagem no meu blog Mundo de K, em março de 2017, com o título de 20 grandes escritoras brasileiras, na época a ideia era apresentar um painel que iniciava com as autoras nacionais clássicas até chegar, em ordem cronológica, às novas gerações. O texto terminava com a Luisa Geisler, nascida em 1991 que, mesmo muito jovem, já tinha publicado alguns livros bem-sucedidos: Contos de mentira (Record, 2011), vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2010/2011 na categoria conto, Quiça (Record, 2012) vencedor no ano seguinte do mesmo prêmio na categoria romance e o lançamento mais recente até então, muito elogiado pela crítica: Luzes de emergência se acenderão automaticamente (Alfaguara, 2014). Naquele texto eu confessava me sentir péssimo porque anda não havia lido nada da autora-fenômeno, exceto as crônicas dela no blog da Editora Companhia das Letras que continuam sendo publicadas regularmente.

Bem, finalmente tive a minha primeira experiência com a literatura da Luisa Geisler com um romance pra lá de experimental e que mistura metaficção, polifonia e estruturas de tempo e espaço não lineares, tudo isso sem nunca abandonar o tom bem-humorado, uma das marcas registradas da autora. Para se ter uma ideia do nível de experimentação, a narrativa, bastante fragmentada, é conduzida por trechos de arquivos de computador, mensagens e, principalmente, por meio de um manual de escrita criativa que vai sendo preenchido (no início) pela protagonista Maria Alice com fichas-resumo dos personagens, sugestões para o planejamento da estrutura do livro e, pasmem, 366 "convites" na forma de perguntas ou exercícios de escrita que podem ou não ser respondidos (normalmente não) ao longo do romance ambientado em Dublin, Irlanda, país no qual a autora viveu por um ano quando estudou o seu mestrado em Criação Literária na cidade de Cork.

Maria Alice parte para a Irlanda em busca da mãe, Lídia, desaparecida e dada como morta. A única pista é um blog fotográfico (Haikyo, "ruínas" em japonês), pretensamente atualizado por Lídia, sobre a prática de exploração urbana, ou Urbex (do inglês Urban Exploration), de ambientes abandonados como fábricas, prédios e túneis. Uma atividade que oferece riscos à segurança dos participantes, além de ser obviamente ilegal. Na verdade, este é apenas o ponto de partida de uma história que se transforma em muitas outras, contadas por brasileiros que vivem, ou melhor, tentam sobreviver, dividindo um apartamento em Dublin. A experiência de emigrar para um país estrangeiro em busca de melhores condições de vida nem sempre tem um final feliz e pode se transformar em um processo doloroso, no qual o tempo e o isolamento transformam as pessoas em algo parecido com os espaços abandonados de uma cidade.

"Quando você chega aos quilômetros industriais, fábricas e depósitos, tudo desativado, lá você está. E é lá que o itinerário do ônibus acaba. Entre essas construções, ruas industriais sem calçada, asfalto ou cinza, mas muito silêncio. Muito silêncio. Eu poderia estar no Brasil. Poderia estar em qualquer lugar. Estava na Nação da Zona Industrial. Restos de metal cercam o gradeamento e proteções de mais metal, pedras, engenhocas, pedras, concreto, partes mecânicas, madeira, pedras, cerâmica, pedras, vidro, pedras, polímeros, pedras, pneus e metal. Por um instante, tenho a certeza de que, se coletasse todo aquele lixo, eu conseguiria construir um carro. (...) Talvez eu tenha nascido para exploração urbana menos ambiciosa. Tipo subir em um telhado, ficar olhando o céu, deitar no chão, fumar um beque, falar de dinossauros e ir para casa. Não é exatamente fazer estrelinhas na beirada de uma ponte abandonada ou explorar usinas nucleares desativadas na Bielorrússia. É? Por outro lado, não mereço morrer por ter uma imaginação ruim." (Págs. 112 e 113)

Uma das vozes narradoras que "rouba a cena" do romance é a da personagem Bruna, ou Bunny como é apelidada pelos amigos, extrovertida e popular, ela tem uma personalidade oposta à de Maria Alice e, assim como ela, faz parte da comunidade de brasileiros imigrantes que compartilham o eterno conflito entre a sobrevivência e a busca de sentido de estar na Irlanda. Bruna é separada e deixou uma filha pequena no Brasil, ela ganha dinheiro com algumas atividades inusitadas como: vender calcinhas usadas na internet, trabalhar em um pub chamado "three barrels and a queen's head" e negociar eventualmente algumas balas ("ecstasy") recebidas do seu confidente e traficante de drogas predileto. O trecho abaixo é uma espécie de fluxo de consciência em estado de felicidade induzida pelo ecstasy.

"Eu me embalava no ritmo da música com baixos cremosos. Baixos talvez sejam os melhores instrumentos musicais que Deus já pôs na terra. Tentei tergiversar, e tergiversar era a coisa que melhor fazia em toda a minha vida. Espera aí: não era esse o verbo que eu queria. Queria abraçar e beijar e lamber a cara dos irlandeses lindos dançando de uma maneira esquisita entre si em frente a uma caixa de som, enquanto dava high-fives nos nórdicos estonteantes, amigos do Andreas, que só faziam contato visual se bebiam, e dizer aos três mexicanos deslumbrantes e isolados num canto sem beber que entendia perfeitamente. Porque eu entendia perfeitamente. E que eles eram maravilhosos, porque eram mesmo. O México é um país incrível, não é? Colorido, vivo, expressivo. O México fala comigo. Porque eu entendia perfeitamente. Completamente. Corretamente. Entendia direito, certo, com acerto, conforme as regras, sem erros, bem, muito, justamente, precisamente, exatamente, com exatidão, distintamente. Queria fazer carinho na bunda maravilhosa do belo Pedro, que agora estava sentado no bar mexendo no celular, e dizer que ele era uma pessoa incrível, talvez o melhor colega que eu já tivesse tido em todo o curso. E eu sabia que tinha quase tudo do curso, mas o Pedro era fora de série. O Pedro era incrível. Mas muita gente ocupava o espaço entre as caixas de som da pista até o bar, então eu não chegaria a tempo de fazer carinho na gloriosa cintura de Pedro e dizer que o amava. Just dance, gonna be o.k. Ele ia achar alguém antes, não ia? Ia mudar de rota. Porque eu entendia perfeitamente." (Pág. 211)

Essa é a história da Maria Alice, Maicou (Matildo), Bruna (Bunny), Caetano, Maria Eduarda, Janaína, um gato adotado chamado Taco Cat e muitas outras almas perdidas em Dublin. Apesar de ser um romance extremamente ambicioso do ponto de vista de técnica narrativa, não considero como um mero exercício de virtuosismo literário. Neste caso, a forma foi induzida pelo conteúdo e, ao terminar o livro, fiquei com a impressão de que não havia melhor maneira de contar essas histórias. A minha conclusão é que não sei por que levei tanto tempo para conhecer a Luisa Geisler, espero que vocês não cometam o mesmo erro.
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