Ivy (De repente, no último livro) 11/10/2018
Resenha do blog "De repente no último livro..."
Contra la fuerza del viento é a segunda parte da trilogia Dreaming Spires, escrita pela autora espanhola Victoria Álvarez.
Nesta segunda parte Victoria nos translada à Nova Orleans do início do século XX, um período em que os EUA emergiam como uma potência, deixando para trás o fantasma da escravidão e de um período de dependência da Inglaterra, ainda assim, a influência do passado de lutas, em especial a luta que dividiu Norte e Sul dos EUA ainda era uma lembrança viva na memória de seus habitantes.
Mais uma vez foi impossível não me apaixonar pela narrativa de Álvarez. A maneira como a autora nos conta sua história, como consegue prender o leitor em sua trama e literalmente transportar-nos até aquele tempo é algo incrível, fruto de um talento nato e de conhecimento histórico invejável. Mais uma vez se nota o trabalho de pesquisa histórica por detrás da trama, o cuidado na ambientação e nos costumes da época e, maiormente, a profundidade dada à cada personagem, desde os protagonistas até os personagens mais secundários que sempre estarão ali para mover a trama, para revelar algo importante e para surpreender o leitor com alguma reviravolta impensada.
Contra la fuerza del viento é ainda melhor do que a primeira parte, Tu nombre después de la lluvia. Enquanto na primeira parte, o começo de livro se faz lento até apresentar os personagens e inserir o leitor na trama e em sua ambientação irlandesa, aqui nesta segunda parte a autora já vai direto ao ponto, e essa agilidade desde os primeiros capítulos permite que o leitor consiga ler mais de 500 páginas de livro sem sequer se cansar.
Tudo em Contra la fuerza del viento é extremamente envolvente, melancólico e de certa forma mágico. Neste livro o elemento paranormal segue presente, já que nossos protagonistas são pesquisadores de fenômenos, porém, a parte sobrenatural da história não é a que alcança maior protagonismo aqui. A autora conseguiu construir um mistério inquietante e surpreendente. Um navio que simplesmente naufragou, tendo toda a sua tripulação engolida pelas impiedosas águas do Mississipi. Uma trama que mistura vingança, ódio e magia. E a superstição de que fantasmas do passado, presos aos restos de seu navio, submergem das águas para vez ou outra cobrar justiça e vingança. Tudo isso é construído de uma maneira que beira a perfeição, levantando no leitor suspeitas de todos os tipos e nos surpreendendo com cada nova revelação, com cada identidade descoberta. Conhecer a história desses marinheiros mortos, suas vidas e paixões foi uma delícia, e fazê-lo acompanhada de fascinantes protagonistas é ainda mais especial.
Se na primeira parte o time formado por Oliver, Lionel, Alexander, Victoria e Margaret Stirling já havia me encantado, nesta segunda parte conseguiram arrebatar meu coração por completo. Seus dramas, seus valores, lutas são empolgantes, e suas histórias são construídas com coerência, suas reações são sempre características de suas personalidades marcantes, permitindo que o leitor os conheça a fundo e ao mesmo tempo ainda se sinta ansioso esperando qualquer coisa deles.
Neste segundo livro Margaret Stirling e Lionel foram sem dúvidas as estrelas da vez. Impossível não se impressionar com a química entre os personagens, profunda, íntima, palpável. Eu amei os diálogos e a interação entre todos, mas foram esses dois que mais se destacaram de longe. Sofri, chorei, torci por um final feliz para ambos, e sua história me mantém cativada e presa por mais revelações.
Também os outros personagens, todos eles, passam por uma metamorfose incrível. Alexander Quills continua sério e centrado, mas é dotado de um carisma que nos faz amá-lo, esperando por um desfecho feliz para ele. O mesmo com relação à sua sobrinha voluntariosa Veronica, que apesar de não ser santo da minha devoção, também diverte e surpreende o leitor com suas sacadas imprevisíveis. Oliver, que na primeira parte me pareceu um chato de galocha, está bem melhor nesta segunda parte também.
A narrativa de Victoria Álvarez é simplesmente maravilhosa. Ela construiu uma Nova Orleans que exala vida e encanto, cheia de lendas e com uns personagens extremamente realistas. Eu amei conhecer algo mais sobre as divisões naquele momento histórico dos EUA, a luta da União contra os revoltosos do Sul, a influência do então presidente Lincoln e as injustiças e perdas que aquele povo tão valoroso, especialmente as valentes mulheres sulistas, acabaram por enfrentar diante da revolução que tomava conta da América. E as mudanças naquela sociedade, que passava por uma fase de inovações, ainda apegada à antigos valores e ao mesmo tempo desejosa em desprender-se de uma vez das amarras que os marcaram durante séculos.
Quando terminei o livro, senti saudades. Foi como se também eu houvesse sido transportada para aquele lugar, para aquela época, vivendo através daqueles personagens todas as descobertas e surpresas.
Contra la fuerza del viento difere destas segundas partes de trilogia. A grande maioria está ali apenas como intermediário, ponte entre o primeiro livro (o começo) e o terceiro (o desfecho). Aqui porém a trama dá uma guinada completamente diferente, a autora encerrou essa segunda parte com um punhado muito grande de revelações e os fatos finais mudam completamente o contexto da história, de maneira que para a terceira parte, El Sabor de tus heridas, se pode esperar qualquer coisa, já que as regras do jogo mudaram completamente e os protagonistas terminaram essa trama basicamente influenciados pelo impacto de todas essas reviravoltas.
Estou muito ansiosa em seguir com a trilogia o quanto antes. Preciso saber o que acontecerá com esse grupo de amigos tão carismático, que pouco a pouco se tornaram especiais pra mim. Por um lado será difícil dizer adeus, mas essa é uma trilogia daquelas que viciam, que nos deixam por dias refletindo e relembrando cada detalhe, e desejando saber mais em todo momento.
site: http://www.derepentenoultimolivro.com/2018/09/review-243-contra-la-fuerza-del-viento.html