Soliguetti 26/06/2018De tirar o fôlegoQuando um livro te deixa angustiado, pensativo, respirando pesado após terminar um capítulo, só pode se tratar de um livro excepcional. Felizmente esse é o caso de A Vendedora de Livros, de Cynthia Swanson, que já é, sem dúvidas, um dos melhores livros do ano.
Nesse romance, acompanhamos a história de Kitty, a vendedora de livros solteira que leva uma vida satisfatória. Sua rotina começa a ser abalada, porém, quando ela começa a ter sonhos recorrentes em que é casada e mãe de família. No começo, para a solteirona Kitty, os momentos que passa nesses sonhos são maravilhosos. Contudo, ela vai aos poucos descobrindo que esse mundo não é tão maravilhoso como ela imaginava. Pior ainda: seus sonhos começam a se tornar tão vívidos que ela não consegue mais dizer com certeza qual é de fato o sonho e qual é a realidade.
Além do enredo bastante original, somos levados aos charmosos anos 60, tempo em que a história acontece. A pesquisa histórica é minuciosa e impressionante. Detalhes minúsculos da rotina de Denver são apresentados como se a escritora fosse, de fato, da época.
Todo o cuidado histórico é aliado a uma escrita que flui perfeitamente. Havia momentos em que se passavam horas como se fossem minutos para mim, tamanha a fluidez narrativa de Swanson. Era como se fosse eu tendo aqueles sonhos vívidos, como se eu estivesse vivendo o livro.
Aliás, A Vendedora de Livros fez isso demais comigo. Com frequência, eu terminava um capítulo quase ofegante, sentindo todo o peso da situação vivida pela personagem. A angústia de Kitty era minha angústia. Qual é a vida real? Qual a vida que quero que seja real? Quero muito essa vida feliz de dona de uma livraria que divido com uma amiga, mas ao mesmo tempo não quero perder meu marido que, mesmo que só conheça em sonhos, já amo tanto... Seja lá o que for sonho ou realidade, o leitor sabe que perderá algo juntamente com a personagem, e isso traz uma angústia tão palpável quanto as duas vidas de Kitty.
Ao longo do enredo, várias dicas são dadas pela escritora sobre o que realmente está acontecendo. Alguém pode até dizer que acaba sendo previsível. Porém, até as últimas páginas, nem mesmo o leitor mais perspicaz pode afirmar com 100% de convicção qual é a verdadeira realidade. O leitor desconfia, é claro, e até chega a ter uma quase certeza bastante razoável - mas não passa disso, uma quase certeza. Cynthia Swanson só nos entrega a verdade quando realmente deseja.
Posso dizer sem medo de errar que A Vendedora de Livros foi uma das experiências mais imersivas que já tive com um livro. Raramente me identifiquei tanto com um personagem e sofri tanto com ele, a ponto de não conseguir largá-lo em alguns momentos.
Com maestria, Cynthia Swanson faz o leitor embarcar na Denver dos anos 60 e virar as páginas de A Vendedora de Livros desenfreadamente, enquanto perde o fôlego nessa experiência imersiva. Só resta para quem termina de lê-lo torcer para ir dormir e sonhar com mais um pouquinho da história de Kitty.