spoiler visualizarYanne0 18/03/2023
Opostos
Seguindo os acontecimentos derradeiros de Originais, poucas horas se passaram desde a invasão alienígena e os irmãos Black seguiram os Luxen que chegaram à Terra, deixando Katy cheia de insegurança e de dúvidas. Situação essa que não dura muito tempo até a garota ser capturada por um bando de Luxen durante um ataque a um supermercado e o reencontro do casal acontecer. Infelizmente, é a partir desse reencontro que as coisas começam a degringolar no enredo e a autora parece perder o domínio da própria estória.
Vamos lá, a Terra está repleta de alienígenas e os humanos estão sendo dizimados por eles. O que você tem que fazer? Tentar consertar o problema que você mesmo criou na narrativa enquanto tenta amarrar as várias pontas soltas que deixou ao longo de toda a história, certo? Errado. Não é isso que a Jennifer faz.
Como sempre, ela prioriza os nossos protagonistas e esquece de desenvolver o conflito que criou para este livro. Enquanto temos páginas e páginas em praticamente todos os capítulos de trocas de declarações açucaradas de um nível que faria um diabético ter uma síncope, o mundo está muito bem e obrigado, e o leitor pode esperar pela construção do apocalipse alienígena. Temos a inclusão de dois novos personagens (um líder Luxen e uma original) que até parecem ter um propósito relevante no enredo, mas tudo vai por água abaixo e eles são descartados sem mais nem menos durante uma cena muito conveniente de deus ex-machina. Eu tive a forte impressão de que os dois foram criados para servirem de vilões, mas a autora acabou desistindo de levar a ideia adiante.
Exceto por Archer e Luc, o restante dos coadjuvantes não servem de muita coisa aqui e não é nenhuma novidade. Dawson e Bethany continuam sendo a dupla de meros contratados que só tiveram um papel importante na construção do plot envolvendo a organização Dedalus. Quando os protagonistas passaram a conhecer a organização, Dawson e Bethany logo perderam a relevância e se tornaram meras peças de enredo que mal são usadas e logo são esquecidas. Dawson desde o início é um rapaz sem muita personalidade e Bethany sempre é citada como alguém que vive no mundo da lua, depois dos horrores que viveu durante sua estadia forçada na organização. Pensei que, pelo menos, Dawson pudesse contribuir no embate final, e me enganei.
Em relação a Archer, o personagem tem um espaço garantido neste livro, mas só serve para ser uma espécie de guardião para Katy e Daemon e para alguns momentos de alívio cômico... que não são nada engraçados, diga-se de passagem, já que a autora adora pontuar seus momentos de tensão com alguma piadinha sem graça. Se você acha que o real motivo da criação dos Originais vai partir de Archer... vai ficar bem decepcionado. Ele está tão perdido quanto o leitor, portanto o personagem não traz profundidade alguma a essa parte fantástica da estória. Como eu mencionei, ele só segue Katy e Daemon de um lugar a outro e é isso.
A Dee, que nunca traz relevância para o enredo, passa a assumir o rápido papel de vilã desde a invasão dos Luxen a Terra. Por conta disso, a personagem desaparece para voltar perto da batalha final e, quando o retorno dela acontece, é óbvio que é Katy quem vai salvar o dia. A autora poderia ter escolhido esse momento para fazer sua protagonista brilhar de alguma forma e deixar de apelar para a conveniência, porém, de novo, lá vem o banho de água fria. Dee está totalmente enfeitiçada com as vozes dos Luxen na sua cabeça e não reconhece os amigos humanos, muito menos o seu interesse amoroso - Archer. A resolução desse conflito foi tão boba e rápida que me pergunto por que levou tantas páginas para ser resolvido.
Aliás, se no livro anterior havia furos, eles continuam aqui e Jennifer inventou mais alguns para estragar o restante da estória. Detalhes que nunca foram citados desde o primeiro volume da série são abordados neste volume como se já fossem do conhecimento dos leitores. Vou citar um exemplo. Há anos, os Luxen têm comunidades espalhadas pelo país, mas essa quantidade de alienígenas na Terra nunca afetou a mente de nenhum Luxen da região. Então por que com a invasão, eles começam a sintonizar a mente de seus "conterrâneos"? A justificativa que a autora utiliza está baseada na quantidade, mas é uma explicação muito frágil, ainda mais quando Daemon desliga facilmente a comunicação mental com os Luxen, se valendo da justificativa de que não é afetado por ela, porque tem uma ligação com sua namorada Katy. Ligação essa que, na realidade, não existe.
É uma bagunça e foi uma tentativa de construção de um plot twist, que não funcionou para mim e nem para o rumo da estória. Qual é a finalidade de mudar algo que já estava certo desde o segundo livro? Vou explicar. Se Daemon e Katy não estão ligados e um pode morrer sem matar o outro, só me veio à cabeça que ou a autora ia matar um dos dois ou ia dramatizar em algum ponto do enredo. A primeira alternativa, é claro, estava errada. Jennifer não ia matar um dos seus protagonistas, tendo em vista que tudo acontece para que eles tenham o seu final feliz. Sobrou a segunda alternativa e a dramatização gratuita de fato ocorreu nas páginas finais do livro. Sinceramente, eu já estava tão cansada que só segui em frente.
Outro ponto que me incomodou bastante neste volume foi a quantidade exorbitante de diálogos rasos e bobos que poderiam muito bem ter sido cortados ou melhor trabalhados. O que o leitor ganha é uma vasta repetição do que já foi dito enquanto o conflito central do enredo é ignorado para que possamos ter um pouco mais do romance de Daemon e Katy. A encheção de linguiça também foi outro detalhe bastante negativo que me deixou impaciente. A impressão que tive é que a autora pensou bem em como iniciar o livro, mas deixou o miolo e o final para ser escrito conforme as ideias iam surgindo na cabeça. O texto é fluido, porque a escrita não traz nenhuma complexidade, mas também é confuso e cheio de idas e vindas. Personagens elaboram planos para serem descartados num piscar de olhos e quando o leitor se pergunta o que está havendo, na realidade, se depara com a realização de outro plano que também vai ser descartado num piscar de olhos. A autora se utiliza de todos os artifícios clichês conhecidos somente para preencher linhas e se esquece do que realmente importa: o conflito do enredo e a resolução dele. Por exemplo, por que gastar páginas e páginas em uma viagem de carro se os personagens podem se locomover na velocidade da luz?
Como esse é o último volume e o plot central é um apocalipse alienígena, eu não consegui mais perdoar a infantilidade de ambos os protagonistas. Tudo bem, são adolescentes e eu entendo isso, mas depois de tudo o que eles passaram, a autora ainda insiste em vender o mesmo Daemon e a mesma Katy do segundo livro. Os dois sofreram, mas não amadureceram. Os mesmos problemas se arrastam ao longo dos volumes e não há uma mudança significativa na personalidade de ambos. Katy continua sendo ingênua, chorona e vivendo em função do Daemon. Daemon, por outro lado, é um babaca. As piadas dele não são engraçadas, o pov do personagem é raso e beira ao ridículo, uma vez que ele basicamente só consegue pensar em duas coisas: em transar com a Katy e endeusar a Katy. Até nos momentos de decisão em que o personagem precisa ter pulso firme, lá vem as tais tentativas de humor para acabar com tudo. É irritante, é exaustivo e frustrante.
A resolução do problema principal do enredo é feito de maneira muito apressada e incoerente, o que não chega a ser nenhuma surpresa, tendo em vista o tanto de página que foi gasta com passagens e interações que não acrescentaram em nada à estória. Nancy, a grande antagonista e uma das pessoas por trás do Organização Dedalus, morre num piscar de olhos, sem trazer aquela tensão digna de embate final entre os protagonistas e o vilão que os assombrou durante tanto tempo. Ethan, um dos antigos que, na realidade, é um Original, foi outra grande decepção no enredo. Pelo visto, o inesperado trunfo da autora foi jogar a culpa nas costas dos Originais depois de passar tanto tempo correndo em círculos atrás de uma razão para tanta destruição na Terra. No entanto, quando essa motivação finalmente é mostrada e o vilão é revelado, é feito de maneira confusa e mal-explorada.
Aliás, para um apocalipse alienígena tão assustador, o que a gente encontra na estória é uma bobagem sem tamanho. O leitor passa o livro inteiro sendo bombardeado com falas de que não é seguro lá fora, que os humanos estão sendo dizimados, mas a impressão que fica é que a problemática é mais séria no boca a boca dos personagens do que na realidade. As estradas estão vazias, não há humanos mortos em quase nenhum local. E, fora alguns combates pontuais e bastante convenientes entre os Luxen e nossos protagonistas, não há nada de muito violento ocorrendo nas cidades. Você não experimenta aquela sensação angustiante de "tem algo muito ruim lá fora". Não temos uma preocupação constante ou verdadeira entre os personagens. As ruas só têm carros queimados e destruídos e alguns corpos no chão. Não temos um cenário de completa destruição e desespero. É tudo muito limpo, muito superficial e plástico.
Quanto aos humanos, a gente não sabe para onde o restante da humanidade foi. Eles estão escondidos em algum lugar? Estão juntos? Como eles estão sobrevivendo com os Luxen lá fora? Como estão lidando com o apocalipse? Não temos a menor ideia. Os humanos desaparecem e, no final, eles voltam. E, em nenhum momento, descobrimos como eles se salvaram. Não é sequer mencionado.
E o que dizer da grande batalha no final entre os Luxen e os Arum? Bom, ela não é nada grande. Para ser sincera, o leitor mal tem ideia do que está acontecendo, porque, como o livro é narrado em primeira pessoa, a Katy foge do local para correr loucamente na direção de uma montanha e o que deveria ter sido um grande embate de forças, acaba sendo duas páginas de uma cena de ação mal-escrita. O leitor não acompanha a batalha final, só sabemos que deu tudo certo e que os Luxen foram embora da Terra.
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Fugi dessa série na adolescência e recorri à ela para conhecer um pouco mais da escrita da Jennifer e saber como ela construiria o enredo de uma série. O que posso dizer? Me encontro bastante decepcionada, especialmente com o final dessa estória. O outro livro que li dessa autora, um NA, também trouxe os mesmos problemas que encontrei nesta saga adolescente. Agora estou preocupada com o que vou encontrar em "De Sangue e Cinzas", sendo ela uma saga adulta.