Queria Estar Lendo 21/03/2019
Resenha: Leah Fora de Sintonia
Hoje a resenha é de Leah Fora de Sintonia, um spin-off do sucesso Simon vs. a Agenda Homo Sapiens/Com Amor, Simon da Becky Albertalli, publicado por aqui pela editora Intrinseca. O livro se passa um ano após o termino da história de Simon e foca na vida de sua melhor amiga, Leah, que últimamente tem se sentindo meio fora de sintonia, especialmente quando não consegue tirar uma certa garota da cabeça.
O livro começa com poucos meses para o fim do ensino médio, quando todo o grupo de amigos que conhecemos no primeiro livro precisa lidar com a separação - em especial Leah, que não é muito boa com elas e tem problemas de abandono.
Mas tudo meio que se complica quando ela se vê cada vez mais próxima de Abby, a namorada muito hétero do seu melhor amigo, Nick. Mas Leah não consegue tirar a garota da cabeça, especialmente conforme elas vão se aproximando mais e mais. Além de tudo isso, Leah também se vê as voltas com o fato de ser bissexual e nunca ter contado aos seus amigos, além de suas inseguranças que constantemente fazem-na acreditar que ela não importa.
Quando comprei Leah Fora de Sintonia na Bienal eu estava muito empolgada. Apesar de não ter curtido a Leah no primeiro livro - quem não odeia pessoas que ficam bravas com os amigos e espera que eles simplesmente adivinhem as razões? - eu tinha esperanças de que ver um livro pelo ponto de vista dela fosse me fazer entendê-la melhor, entrar em seu mundo e apagar a má impressão que tive no livro de Simon - até porque, aquela era a versão dele para Leah, e aqui conhecemos ela por ela mesma.
Mas não funcionou. Eu queria tanto ter gostado desse livro e me parte ao meio que eu tenha detestado tão fortemente.
"Essa deve ser a melhor parte de estar apaixonado - a sensação de ter um lar na mente de outra pessoa."
Não é como se o livro só tivesse partes terríveis. A narrativa da Becky Albertally continua maravilhosa e fluída, a gente vai passando as páginas de forma muito natural. Os personagens secundários também são incríveis. Eu estava gritando em toda aparição do Simon, me apaixonei muito pela Abby e adoro ainda mais a Nora - que merecia um livro só dela, dona Becky!
O problema de verdade foi a Leah, que se mostrou uma pessoa que eu jamais queria ter como amiga.
E não me levem a mal, porque eu entendo muito dos problemas que a Leah estava enfrentando e simpatizo com todos eles.
Eu entendo porque ela se sente mal quando vai comprar vestidos com a mãe - que garota gorda nunca teve um pequeno colapso mental num provador? - e entendo como ela se sente deixada de lado pelos amigos, como ela não se sente bonita - oi, meu colegial inteiro - e como ela não sabe lidar com elogios e, ainda, como ela se sente estranha ao saber que um garoto possivelmente gosta dela.
Eu entendo o medo dela de rejeição e de abandono, como ela sente que seus amigos não se importam com ela, como se sente ansiosa por sua arte, como esconde seus verdadeiros sentimentos e não se abre facilmente.
Eu entendo tudo isso, 100%, eu simpatizo e eu sinto muito por ela e pelas situações que ela passou na vida que criaram esses problemas emocionais com os quais ela precisa aprender a lidar ao longo do livro. São sentimentos válidos e também construíram uma personagem bastante crível.
"Detesto quando canalhas tem um talento. Quero viver em um mundo onde pessoas boas se dão bem e os babacas se dão mal."
Mas Leah também é egocêntrica, às vezes é rude - em especial quando sente que seu gosto musical é tão superior ao dos outros e soa tão esnobe sobre isso - e, além de tudo, é bem passiva-agressiva. E isso realmente me deixou escaldada. Como eu disse no começo, no livro do Simon eu já não tinha curtido a Leah pela tendência que ela tinha de ficar chateada, não falar porque estava chateada e querer dizer que não estava quando continuava tratando os amigos mal. E aqui entra em peso minha bagagem emocional porque eu já tive uma "amigo" Leah e é terrível lidar com esse tipo de pessoa.
Os problemas emocionais são completamente compreensíveis e se você consegue lidar com limites, vai saber navegar e ajudar a pessoa. Mas a personalidade é terrível e faz com que você se sinta um bosta. E diversos pequenos detalhes - como quando ela diz que Abby a "provoca" só porque está tocando sua mão e zoando com um colega, que é um comportamento predatório que eu associo muito com abuso sexual ("ela estava me provocando") - junto de algumas outras situações me deixaram bem desconfotáveis com a Leah.
Ela estabelece que Abby é hétero e ninguém sabe que Leah é bi, mas todo vez que Abby age de uma maneira completamente normal (entre amigas) com ela, ela fica querendo saber "como interpretar" o comportamento de Abby. Como quando você é simpática e ri com os seus amigos, e acham que você está dando mole. Me incomodou muito, especialmente porque Leah se mostra feminista em algumas passagens, e aqui estava ela, repetindo um comportamento sexista.
Foram várias pequenas coisinhas que foram se acomulando e no, fim, não consegui gostar de Leah. Apesar de entendê-la, não acreditei que ela era uma boa pessoa ou que estava pronta para entrar em um relacionamento sem antes trabalhar em si mesma. Além disso, senti que não houve uma grande evolução da personagem ou um grande arco que ela precisava atravessar. No fim, ela parecia muito com a Leah do começo do livro ainda.
"Porque gorda é o contrário de maravilhosa. Entendi. Obrigada amiga da Jenna!"
Queria que Becky tivesse, então, focado em Abby, que passou por uma incrível jornada de auto-aceitação e descoberta, e que ficou muito relegado ao segundo ou terceiro plano - e que por diversas vezes foi distratada por Leah, o que me deixou ainda mais agoniada.
Acho que, no fim, se Leah Fora de Sintonia tivesse outra protagonista eu teria aproveitado muito mais. Queria adicionar também que, mesmo que uma pessoa bi esteja em um relacionamento com alguém do sexo oposto, ela continua sendo bi e seu livro continua sendo LGBTQ+, porque parece que muita gente só valida os bissexuais quando estão em relacionamentos com pessoas do mesmo sexo.
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