A Pele Da Casca Da Madeira

A Pele Da Casca Da Madeira George B. De Andrade




Resenhas - A Pele Da Casca Da Madeira


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Isabela | @readingwithbells 21/08/2018

"A Pele Da Casca Da Madeira é uma prova de sua múltipla capacidade de manejar a linguagem, mediando com naturalidade às fronteiras entre a prosa e o verso, com uma profundidade poética que surpreende.?
O autor George B. De Andrade já publicou romance, contos e crônicas e agora lança seu livro de poesia.
George por meio da poesia nos conta histórias.
A família, o próprio ser, o tempo, o medo, a poesia e até a Frida Kahlo são temas abordados no livro.
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"Puxei do céu a imensidão da imaginação,
Herdei do mar um misterioso e profundo coração,
Puxei do vento as brisas de sonhos,
Herdei do centro da terra o calor, o fogo e a paixão,
Puxei das nuvens a capacidade de se recriar em multiformas."
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Krishnamurti 23/08/2018

Roteiro de uma poesia...
Façamos pequeno exercício de ficção. Imaginemos um escritor, romancista e contista, que descobre um texto seu de 1999, num antigo caderno de poemas e crônicas. Chama-se: “Crônica da última hora (ou o espelho)”. Em verdade quase uma prosa poética:
“Ontem, ao passar uma vez mais frente ao / retângulo espelhado na parede, / Na esporadicidade de meus passos sem rumo certo pelo quarto, / Vi brotar uma inusitada e nunca imagem dantes vista, / De outro de mim”.
Imaginemos ainda que, anos depois, agora em 2018, portanto quase 20 anos depois, o mesmo autor está em outro quarto. Ali, sozinho, reflete sobre seu percurso como escritor. E eis que:
“Quando minha voz cala, / Quando minha língua para, / Ouço vozes dentro de mim.
Me inquirem, me perguntam e respondem, / Ponderam, dialogam, no fundo de não sei qual consciência, / Falam dentro de mim.”
É um simples homem como qualquer outro, e como tal, sente paixões, amores, lembra do passado, e também sente medo, não somente o medo atávico que a caverna nos legou, mas o que decorre de tantos e tantos condicionamentos sociais do homem pós-moderno, que um simples espelho pode nos mostrar como andamos com um medo brutal! O homem esquadrinha esse terrível sentir:
“O medo me mostra quem sou, mais que um espelho, / Me escalpela mostrando a pele embaixo da pele, / Como um microscópio que visita com suas / lentes as minhas células minúsculas. / Me mostra o meu lado mais sombrio e minhas feiosidades, / Me empurra para meus abismos que escondo a todo custo, / Me mostra quem eu não quero ser, mas sou”.
Por sobre uma cômoda ele aprecia uma velha fotografia de família.
“A fotografia narrava histórias, lendas, / epopéias de amor e contendas, / O fotografista capturava enredos ocultos que / brotavam dos olhos dos fotografados”.
Reconhece em um dos ancestrais, traços físicos que identificaria em si, agora mesmo, se voltasse a olhar o espelho. E ouviu nitidamente outras vozes em tom de comparação afirmarem: “– É encarnado e insculpido a cara do avô”. Mas isto lhe traz certa tristeza pela opção que fizera, assim como Drummond, de ser “gauche” na vida... Lembra-se de uma poesia que escrevera no passado;
“... Feliz de quem enxerga para além dos olhos, / Vislumbra a essência incorpórea das coisas, / Mira nas formas da alma, nas cores e feições do / espírito, na hereditariedade etérea dos homens. / Pena que para enxergar tudo isso é / preciso ser apenas poeta”.
O escritor não quer mais lembrar de rostos e olhares, resvala o olhar para um velho guarda-roupa a um canto do quarto. Mas as vozes dentro dele continuam a gritar:
“O meu guarda-roupa antigo conta-me quantos homens fui, / Narrando meu manequim flutuante, / efeito físico do tempo no corpo. / Assumi muitas medidas de blusa, cinto e calção, / Mas me conta também da fluidez das medidas da / alma, que mudava com o mesmo refrão”.
Um sorriso cúmplice o assalta ao mirar a cama, e sobre ela dois travesseiros. Um ao lado do outro. Olha para o que utiliza, está meio amarrotado... e recita baixinho uma única estrofe:
“És minha consciência ao deitar. / És meu melhor conselheiro também / meu maior algoz e acusador. / És meu diálogo forçado no fim de cada dia, / És a pedra que ampara minhas filosofâncias noturnas”.
E sobre o travesseiro ao lado, imediatamente lhe vem à mente a imagem de Céia, embolada em outra estrofe do poema “A geografia do teu corpo”:
“Conheço tuas longitudes mais extremas, / domino tuas latitudes mais marginais, / E no atlas de teu corpo não me perco mais em tua escala, / Sabendo a exata métrica, sou sabedor de todas as tuas distâncias, / Que separam tuas porções de terra, teus / fragmentos de rio, tuas baías e enseadas, / Teus mares e estreitos”.
Voltemos a prosaica realidade para apresentar o autor dessa verdadeira “viagem em volta do meu quarto” que um pouquinho de ficção nos levou a conhecer. É George B. de Andrade, escritor paraibano que lançou recentemente pela Editora Penalux, “A pele da casca da madeira”, poesias. O volume reúne 35 poemas, a maioria longos. Compostos uns, com estrofes de quatro versos. Outros com seis ou sete versos É a Estrofe ou estância de seis versos que lembram o Cordel. Há também os de dez versos, a chamada estrofe irregular. Frequentemente Andrade pratica a Anáfora aquela figura da repetição que ocorre quando uma mesma palavra ou várias, são repetidas sucessivamente, no começo de orações, períodos, ou em versos. A repetição tem o objetivo de dar ênfase e tornar mais expressiva a mensagem. As vezes o verso se repete no início de todas as estrofes, (antecanto). Noutros poemas a repetição ocorre no final, (bordão). Recurso que uma vez calculado na estrutura formal do poema, canaliza a ênfase para tornar mais expressiva a mensagem. E George o faz com mestria ao abordar uma temática variada que vai de profundas considerações metafísicas sobre a própria vida, ao enfoque sobre o que é a verdade que sempre tentam nos impor como tal. Do absurdo da guerra, até a indesejada das gentes (a morte), do sexo em um poema de mais de 40 estrofes ao singelo da “pele da casca da madeira”, onde há uma definição de sua própria existencialidade:
“A pele da casca da madeira é também esse meu corpo, / que desconheço todo dia, essa minha pele amadeirada, / Meu escudo, minha guarida, meu invólucro selado”.
Não podemos deixar de referir finalmente uma poderosa vertente da poética desse autor quanto ao versejar de temas que afligem a humanidade hoje, vistos por lentes poéticas que alcançam também lançar luzes em um ambiente tão nebuloso como o atual: Poema “Capitalizando a vida” (novamente uma prosa poética), do qual extraímos as estrofes:
“O pensamento do homem capitalizou-se, e o mundo / distingue em arbitrariedade capital, os que ‘valem’ / alguma coisa e os que não ‘valem’ coisa alguma, num / monetarismo maligno de raízes e pés fincados / na propriedade privada – aliás, o homem é a propriedade mais / privada, desse sistema que se arroga seu dono e senhor./ Pior ainda, é sentir o mundo com as lentes / do capitalismo opaco e imundo”,
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“Mas esse, o capitalismo que a tudo capitaliza, / inclusive os sentimentos, / É cobra peçonhenta que mastiga o próprio rabo, / é parasita nocivo que bolina o hospedeiro, / Vai trucidando aos poucos, sobretudo os menos abastados, que / sofrem seus males sem remédio, sem médico, sem direito a nada. / Pior ainda, é que esse tal capitalismo forja uma culpa insabida na mente do pobre ‘doente’, que ainda se martiriza como / grande culpado, pelos males do sistema causado, é acusado / por não ser um ‘vencedor’, condenado por não alcançar, no reino do falso mérito, fortuna, fama e felicidade. / Esse é o cúmulo da opressão, a introjeção da filosofia / do opressor no oprimido, que vai repetindo uma / maldade naturalizada em sua carne e sangue”.

A árvore, e “A pele da casca da madeira” é metáfora para expor o homem e sua condição. É também metáfora das máscaras que usamos e impomos aos outros. Mas desnuda também aquilo que a tal ciência humana já sabe: é possível determinar a idade de uma árvore através do seu tronco, basta observar seus anéis de crescimento. E os anéis de crescimento que uma tal poética desnuda, apontam para a maturidade de um autor que se firma e (re)afirma em franca atitude de solidariedade ao humano. Merece portanto a atitude do mais franco aplauso!

Livro: “A pele da casca da madeira” – Poesias, de George B. de Andrade - Editora Penalux, Guaratinguetá- SP, 2018, 170 p.
ISBN 978-85-5833-361-0
OBS: LINK PARA COMPRA E PRONTO ENVIO:
http://editorapenalux.com.br/loja/a-pele-da-casca-da-madeira
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