Steph.Mostav 04/05/2020IrrelevanteO tema de abril do clube do livro é um livro que você acha que pode ser ruim. Bem, dessa vez eu tive certeza. Estou longe de ser uma fã do trabalho do Alencar - apesar de achar boas as intenções de seu projeto literário, de representar toda a nação recém "emancipada", não acredito que essas intenções foram bem executadas. Na ambição de escrever sobre todo o país, mais acabou caindo em estereótipos e na superficialidade dos temas. Esse é um dos muitos problemas de O tronco do ipê. O mais irritante deles é que o texto é extremamente prolixo. Toda a primeira parte do livro poderia ser resumida em poucos capítulos e, na segunda parte, temos três capítulos dedicados apenas à preparação de uma festa de Natal. A impressão que se tem é de desperdício de tempo, já que esse acréscimo inútil de palavras em diálogos vazios e cenas descritivas não acrescenta nada aos personagens, nem à trama, nem à premissa da história. Além disso, mesmo nos capítulos em que aborda questões pertinentes ao enredo, tudo é feito de maneira tão expositiva e sem nuance que não gera interesse. Isso torna a leitura arrastada, mesmo que a linguagem e o conteúdo sejam até bem fáceis. Com exceção de Mario, todos os personagens são apenas caricaturas, quando não caricaturas racistas. Mesmo quando trata de assuntos sérios, como discussões a respeito de política do império, ganância humana e tráfico de povos escravizados, é sempre de maneira pontual e pouco aprofundada. Todas as intrigas de quem-casa-com-quem tornam a história ainda mais boba, porque é impossível nos afeiçoarmos a personagens tão unidimensionais. Quem poderia salvar o livro seria Mario e todos os seus dilemas a respeito de vingança contra o homem que roubou dele tudo que lhe era mais precioso e como isso afeta seu relacionamento com Alice, filha desse mesmo homem, e mesmo ele sofre com a leviandade com que seus conflitos psicológicos são retratados. O único capítulo muito bom do livro, que me surpreendeu positivamente, é a viagem que ele faz à Paris e as reflexões que esses anos no exterior geram em sua mente perturbada. Para resumir em uma só palavra, O tronco do ipê é um livro irrelevante.