@fabio_entre.livros 13/01/2022
Nerdice em nível máximo
Publicado em 1984, "Guerras secretas", da Marvel, carrega o status de primeiro grande crossover de super-heróis dos quadrinhos: grande em quantidade de personagens reunidos, não pela qualidade da narrativa. E, ainda que do ponto de vista comercial, aquela saga tenha obtido o resultado esperado pela editora, a trama é tão frágil e superficial que definitivamente não guarda outros méritos. O mesmo não pode ser dito de "Crise nas Infinitas Terras", da DC, a Distinta Concorrente da Marvel, que não só deixou "Guerras secretas" no chinelo como também revolucionou os quadrinhos nos anos 80, estabelecendo-se até hoje como o maior e mais importante crossover de super-heróis já realizado.
Não vou gastar latim falando da história, já amplamente conhecida (mais que isso, cultuada) pela comunidade nerd há quase 40 anos; também não detalharei os bastidores da produção desta saga, igualmente de conhecimento geral; apenas vou pontuar minha impressão sobre o conteúdo como um todo.
Publicada entre 1985 e 86 e concebida como uma ideia radical para organizar o emaranhado de problemas de cronologia e excesso de versões de personagens da DC, "Crise" apresenta uma ameaça cósmica de proporções titânicas que vem destruindo o multiverso de forma sequencial, eliminando diversas "Terras" e, consequentemente, os personagens que as habitam.
Essa é a justificativa dada pelo roteiro de Marv Wolfman para passar a régua no universo DC, unificando as Terras em uma só e descartando grande parte dos personagens, a fim de simplificar a cronologia da editora e dar um reboot em seus personagens na era moderna.
Se a ideia deu certo? Absolutamente. Lançada antes de "Watchmen" e outras obras que posteriormente passariam a descontruir o estereótipo maniqueísta dos super-heróis, "Crise" é repleta do heroísmo à moda antiga. Do princípio ao fim, há vários confrontos épicos onde os heróis, desde os mais conhecidos, como Superman e Mulher-Maravilha, até alguns dos quais eu nunca tinha ouvido falar, lutam desesperadamente para salvar a(s) Terra(s), com um senso de autossacrifício que talvez soe brega nos tempos atuais, mas que é adequado à proposta e à época da publicação.
Por fim, merece destaque a arte dinâmica de George Pérez, que ilustrou toda a saga com empenho memorável. Infelizmente, no final de 2021 o artista veio a público comunicar aos fãs que foi diagnosticado com câncer de pâncreas já em estágio terminal. Sem dúvida, será uma enorme perda para a nona arte; todavia, ele permanecerá imortalizado por seu trabalho nesta e em outras grandes obras de insuperável valor histórico e artístico.