Queria Estar Lendo 23/10/2018
Resenha: Muitas Águas
Muitas Águas é o quarto volume da série Uma Dobra no Tempo, publicado aqui no Brasil pela Editora HarperCollins - que cedeu este exemplar para resenha. Na história, nos afastamos dos personagens conhecidos para acompanhar uma aventura solo dos gêmeos Dennys e Sandy.
Ao contrário do estabelecido em Um Planeta em Seu Giro Feroz, Muitas Águas volta um pouco no tempo para contar uma viagem intermediária feita pelos irmãos de Meg. Dennys e Sandy não pretendiam mexer com os experimentos do pai, mas acabam, sem querer, viajando entre o tempo e o espaço até uma época bem diferente - um pouco antes da construção da arca de Noé, onde conhecem o próprio construtor.
"- É preciso coragem para dizer "Sinto muito"."
Tudo o que sabem a respeito dessa viagem inesperada é que o universo parece querê-los ali, naquele momento, para ajudar em alguma coisa. Enquanto investigam o passado, os gêmeos só sabem que precisam tomar cuidado para conseguir retornar ao futuro.
Muitas Águas, assim como os volumes anteriores da série, começa num ritmo um pouco confuso e desconexo e te joga na bizarrice junto com seus personagens. Usando artifícios bíblicos e a conhecida história de Noé para construir o background daquela aventura, o livro usa sua narrativa para passar mensagens de empatia e de amor.
"- Vocês são o princípio da mudança. Estamos vivendo no fim dos tempos. Pode ficar muito solitário."
Eu não tinha uma opinião formada a respeito de Dennys e Sandy e acabei surpreendida pela simpatia que criei pelos dois logo de cara; onde um é a ideia, o outro é a ação. Eles se completam e trabalham em equipe a partir do momento em que se veem nesse cenário desconexo tão distante de tudo que conhecem. Diferente dos irmãos, os gêmeos não estão próximos dos projetos dos pais, não sabem muito além do que é conversado nas mesas de refeição ou dos comentários soltos dentro de casa. É com um susto que eles atravessam o tempo e o espaço e despertam num passado onde tudo é tão distante do que existe hoje.
Não só lugar, mas também características físicas, maneira de pensar e de se relacionar e de reagir ao mundo. Os gêmeos são recebidos por algumas famílias - onde Noé é pai e também avô - e por seus membros; alguns mais amigáveis do que outros. Avô Lameque, pai de Noé, certamente foi uma figura de sabedoria e simpatia. Ele é a voz da razão e do cuidado, sábio em todos os seus muitos anos de vida.
"- Não somos especiais, nem Sandy nem eu. Somos o tipo de pessoa que não incomoda ninguém."
A história de Noé é muito conhecida, mas a de quem estava ao seu redor é que realmente importa nessa jornada. Achei interessante como a autora usou as personagens femininas para dar tom e para representar críticas e dar ênfase ao fato de que muito se lembra sobre os homens da História, mas pouco se fala sobre as mulheres que estavam ao lado deles.
Algumas coisas da trama soaram meio forçadas, como o "romance" que nasceu entre Ialí, uma das garotas da família de Noé, e os gêmeos. Apesar de ser um ponto bem discreto na narrativa, não conseguiu me comprar; eu gostei muito mais de como eles interagiam com os outros amigavelmente, criando aquele laço familiar que é tão importante na construção da história da arca.
O inimigo também existe; espreita os passos de Noé e da voz das estrelas - a voz de Deus, aqui - e usa artimanhas e malícia para tentar desviar os que o interessam para um caminho mais sombrio, distante da salvação.
"- Se nós explodirmos, será por causa das pessoas. Do poder, da cobiça, da corrupção. Não seria um desastre natural."
A crítica principal que a autora despertou com essas situações foi a do poder; como ele consome e destrói, como é perigoso e nocivo. Como, antes, era inofensivo dentro do pouco alcance que possuía, e agora se tornou tão grandioso e destrutivo. O fim do mundo existe por causa da ambição e desse desejo insaciável de alcançar mais, de possuir mais, de mostrar mais.
Muitas Águas mantém o tom científico e de sutilezas religiosas apresentado nos volumes anteriores da série e consegue se sustentar com protagonistas até então mais discretos dentro da história. É um livro agradável, com mensagens importantes e um final bem fechadinho.
site: http://www.queriaestarlendo.com.br/2018/10/resenhas-muitas-aguas.html