Ley 09/08/2020Por que mesmo eu não tinha lido esse livro antes?Eu estava há um tempo querendo ler essa obra, porque a premissa dela já parece algo que eu iria gostar. Mas eu não tinha ideia do quanto eu iria amar esse livro. Eu mal vi as mais de 400 páginas passarem durante a leitura. Acabei rindo, me divertindo, me emocionando, suspirando pelo casal do livro, e adorando as menções aos temas importantes presentes no enredo.
O livro é um romance histórico que se passa no século XVIII. Monty narra o livro em primeira pessoa e não é o melhor dos protagonistas. A princípio acabei ficando bem estressada com as atitudes dele. Podemos considerá-lo um libertino para a época. Mas não é só isso. Ele também age com infantilidade e parece imaturo em algumas decisões.
Mas também consegui compreender qual objetivo da autora em construir Monty. Ele é um dos personagens que mais tem um desenvolvimento notável na trama. Monty é um personagem bissexual, e já podemos notar que há representatividade na obra. O protagonista também é apaixonado pelo seu melhor amigo, Percy. Porém, embora esteja apaixonado, ele não descarta as várias outras opções de sua vida libertina.
Monty está em seu ano em que finalmente irá fazer um Grand Tour pela Europa, que consiste em visitar vários lugares de uma vez por um ano, e conhecer melhor cada local. Assim, ele embarca nessa viagem com Percy e sua irmã Felicity. Não preciso discorrer muito sobre isso, para o leitor adivinhar que nem tudo será flores.
Monty acaba se metendo em problemas e carrega Percy e Felicity com ele. Os três, além de já estarem em uma aventura, embarcam em mais uma, essa bem mais perigosa. Em vista que estão em uma situação de vida ou morte, com o Grand Tour comprometido, os três viverão situações que irá moldá-los.
Embora a obra seja ambientada no século XVIII, a linguagem é simples e acessível. Isso foi um dos aspectos que mais me encantaram nela. Temos também a introdução de temas importantíssimos inseridos no contexto, que servem para conscientizar cada vez mais o leitor.
Através dos personagens e situações, podemos notar que há várias críticas associadas à época, mas que também podemos trazer para os tempos atuais. Percy, por exemplo, é um personagem birracial, com a pele mais escura que o aceitável para a época.
Ele não é escravo porque essa prática já havia sido abolida na Inglaterra, porém, o racismo ainda era bastante concentrado em todos os lugares. O personagem sofre com esse fato em vários momentos. Seu status social é elevado para os padrões de um negro da época, e mesmo assim há várias práticas de racismo com ele.
Podemos claramente associar essas várias situações com nossos dias atuais. Por mais que o tempo passe, ainda vemos racismo, e por isso é importante lermos obras que criticam essa prática. Além dessa representatividade, o personagem Monty também nos trás representatividade LGBT, que para a época, era inaceitável, algo abominável, podendo até mesmo ser considerado um crime.
Com certeza, a bissexualidade inserida na história, e a forma como foi colocada no contexto, me deixou maravilhada. Temos que ter em mente que a comunidade LGBT sempre existiu, porém em alguns séculos atrás isso era proibido. Não podemos fechar os olhos e dizer que a comidade LGBT é algo recente, houve luta para ser reconhecida e aceitada pela sociedade.
Portanto, achei de imensa importância que houvesse um personagem LGBT em uma história de séculos atrás. E o romance que a autora criou aqueceu meu coração. Torci pelo casal, assim como sofri em alguns momentos.
Felicity, que pelo que Monty diz, entrou no seu Grand Tour de maneira indesejada, também tem contribuições importantíssimas para a trama. Ela tem apenas 15 anos, mas pelo que vemos, já é uma mulher forte e independente. Adorei o modo como a personagem se mostrou empoderada, e defendeu as mulheres, mesmo que na época as mesmas não tinham direito de nada.
Os três personagens principais são extremamente importantes para a obra e nos faz pensar sobre as críticas que cada um carrega. A junção deles foi magnífica e muito bem colocada. As críticas foram escritas de maneira simples e explícitas, dando uma ideia de como a época era fechada.
Um outro ponto que gostei, foi a maneira como as pessoas da época viam algumas doenças. Havia quem dizia que era bruxaria, assim como as práticas para a cura pareciam práticas diabólicas. Nem preciso dizer o quanto essa leitura me trouxe reflexões, não é? Adorei me divertir e também captar as temas importantes presentes na história.
site:
https://www.imersaoliteraria.com.br/2020/06/resenha-o-guia-do-cavalheiro-para-o.html