Maumau 29/12/2022
Um chute no estômago
Um dia, eu fui numa livraria. Procurava por Hilda Hilst, esse nome que ecoa da alma e que eu, por acaso, nunca havia lido, mas pelo qual me atraí pela experiência de uma amiga (Ana) com o livro Pornô Chic. Não encontrei.
Semanas depois, estava na feira do livro, procurando dramaturgia e teatro, e vi dois livrinhos pequenos da L&PM. O nome "Hilda Hilst" se destacando na cor vermelho-sangue, como se um animal tivesse posto suas garras em uma presa e escrevesse o nome da autora, me chamou a atenção. E quando vi que o título dos livrinhos eram "Teatro Completo", peguei e levei imediatamente. Unia a minha vontade de ler teatro com a minha vontade de ler Hilda, perfeito! O que poderia dar de errado?
As Aves da Noite é uma das obras mais decadentes que eu já li na minha vida. Não é de se esperar algo diferente, já que literalmente se passa em um campo de concentração nazista. Mas não foi só por isso. Existe uma poesia, um corpo gasoso e difícil de distinguir, mas que se manifesta por todas aquelas falas, de todos os personagens. A intensidade da dor, os conflitos existenciais, internos e externos, de cada personagem, o sofrimento, a morte e a vida, a dor, oh, a dor!
A dor nessa peça é algo muito pungente, o tempo todo. A dor da fome, a dor da sede, a dor da vida, a dor da morte, mas também a dor da felicidade e da infelicidade, do otimismo e do pessimismo. A potência dessa peça, inspirada em uma história real, e que se apresenta como uma pontada forte no coração, me arrasou do início ao fim, me fez dormir pensando nela, com os pesadelos mais atrozes. Espetacular. Nota: 8,9.
O Visitante me decepcionou. Não chega aos pés de Aves da Noite, apesar de possuir algumas analogias e metáforas realmente interessantes. Nota: 5,2.
Nota final: 7,1.