A biblioteca elementar

A biblioteca elementar Alberto Mussa




Resenhas - A Biblioteca Elementar


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Pandora 27/10/2018

"A Biblioteca Elementar" é um livro tão bom que chega a ser difícil falar sobre ele.

Nossa! Que livro SENSACIONAL!

Alberto Mussa tem uma escrita sintética, cheia de ironias e sarcasmo, é preciso, dialoga com o a História do Brasil e do Mundo Atlântico na Modernidade e usa artifícios narrativos que remetem a Machado de Assis. É amigas e amigos, tenho um novo amor literário chegando em meu coração sim e certamente.

Aqui acompanhamos a história dos moradores da Rua do Egito na cidade do Rio de Janeiro em meados de 1700. Um crime acontece é na trama do romance policial somos apresentados a toda uma gama de tipos que permeavam a cidade do Rio de Janeiro.

Ciganos e ciganas, traficantes de escravos, cristãos novos, cristãos velhos empobrecidos, pessoas que vão para as Minas Gerais e voltam, que casam, adulteram, pecam, pedem perdão, denunciam e são denunciados pela Inquisição.

As experiências de ser e estar no mundo vividas pelos personagens de Alberto Mussa são contadas de forma franca, sagaz, sem mistérios, desumanizações ou racismo. É emocionante conhecer um autor assim tão competente na arte de narrar, tão preciso na capacidade de fazer críticas acertadas, tão discípulo de Machado de Assis, tão ardilosamente humorado como tudo aquilo que vem do Rio de Janeiro.
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regifreitas 03/09/2020

A BIBLIOTECA ELEMENTAR (2018), de Alberto Mussa.

Este volume é o quinto e o último de uma série nomeada pelo autor como “Compêndio Mítico do Rio de Janeiro”. As obras que a constituem podem ser lidas de forma avulsa, e em qualquer sequência, pois são histórias independentes. Em comum, apenas o fato de cada uma delas tratar de um crime, cometido na cidade do Rio de Janeiro, em determinado século da nossa história.

A trama de A BIBLIOTECA ELEMENTAR se passa no século XVIII, iniciando, mais precisamente, em 13 de novembro de 1733. Em uma noite quente de primavera, na rua do Egito (hoje rua da Carioca), um homem de casaca discute com outro, de capa e bota de cano longo. Uma pistola é disparada. O de casaca acaba assassinado. Uma testemunha - uma cigana -, presencia tudo, de longe, sem ser vista. Essa mulher, a única capaz de esclarecer o que houve, silencia, visto que ela mesma vem de cometer outro crime nessa mesma noite, sobre o qual só mais a frente tomaremos conhecimento. Entretanto, os crimes não interessam, o que importa são as motivações que levaram os personagens até àquele ponto.

Ao término da leitura, sentimentos contraditórios ficaram. O estilo, a forma de escrever de Mussa, é muito agradável – dinâmica e direta. O constante diálogo do narrador com o leitor é outro recurso que, quando bem empregado, me agrada muito. Contudo, como acontece com obras nas quais existem uma quantidade muito grande de personagens, acabei me perdendo em alguns momentos, tendo que retroceder na leitura para reatar o fio da meada. Nesta, além de muitos personagens, vários deles ainda tinham um apelido peculiar, além de ligações familiares e outras conexões com os demais moradores daquela rua, que só aos poucos vão se esclarecendo. Assim, se existe algo que pode ser considerado como um possível ponto negativo na leitura: muitas histórias paralelas em uma obra tão curta.

Contudo, trata-se de um trabalho que merecerá releituras futuramente. E Mussa é definitivamente um autor para se conhecer melhor.
AdriFlores 03/09/2020minha estante
Gostei! Quero ler.


regifreitas 03/09/2020minha estante
fiquei bastante curioso para ler o restante dessa série! :)


AdriFlores 03/09/2020minha estante
Eu também. Obrigada




Alexandre Kovacs / Mundo de K 01/09/2018

Alberto Mussa - A biblioteca elementar
Editora Record - 192 Páginas - Projeto gráfico da capa: Regina Ferraz - Design dos mapas e cartas celestes: Mayara Lista - Lançamento: 13/08/2018.

O romance encerra um ciclo denominado "Compêndio mítico do Rio de Janeiro", uma sequência de cinco obras independentes, sendo os quatro primeiros títulos em ordem de lançamento: O trono da rainha Jinga, O senhor do lado esquerdo, A primeira história do mundo e A hipótese humana. Na pentalogia, cada romance é ambientado em um século da história carioca, o gênero policial é o ponto de partida para que o o autor utilize na sua ficção as influências culturais presentes no Rio de Janeiro por meio do encontro das culturas ameríndias, africanas e das tradições populares brasileiras, as diferentes etnias formando o imaginário e o panorama mitológico do povo carioca. Um ponto importante destacado por Alberto Mussa em sua nota introdutória é que: "se as mitologias variam, e divergem entre si, condicionadas que são pela cultura e pela história, os problemas míticos, os problemas humanos são essencialmente os mesmos, independentes do tempo e do espaço."

A biblioteca elementar utiliza uma deliciosa linguagem que remete aos costumes do passado e a um erotismo perfeitamente enquadrado na narrativa, o romance conta ainda com os seguintes elementos de apoio à trama: uma misteriosa biblioteca e a prática das ciências ocultas para controlar o universo dos vivos e dos mortos. O romance é ambientado, em sua maior parte, durante o ano de 1733, nas imediações do convento de Santo Antônio, onde hoje fica localizado o Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, na época uma região pouco habitada devido ao fato de ficar fora dos limites da muralha construída por ocasião da invasão francesa de 1711. A ação ocorre na Rua do Egito, criação ficcional do autor, que imaginou uma comunidade de ciganos vivendo em construções irregulares e clandestinas nesta rua que recebeu a denominação atual de Rua da Carioca somente em 1808.

Um crime é testemunhado, durante a noite, por uma mulher que praticava também uma ação bastante suspeita ao retornar do cemitério do Convento de Santo Antônio disfarçada em um traje franciscano. Ela consegue identificar dois homens e deduzir a natureza da discussão que tem início, presenciando de longe a luta que ocorre quando um deles saca uma pistola e, esse mesmo, acaba sendo assassinado. Como em todo bom romance policial, o leitor é envolvido por uma série de suspeitas que envolvem as atividades da comunidade de ciganos e as motivações relacionadas com segredos, traições e, principalmente, a prática de adultério, considerada pela Inquisição do século XVIII como um crime passível de punição com a morte, assim como o "pecado nefando" como era conhecida na época a sodomia, outro elemento da trama.

"Começo pela testemunha: mulher, relativamente branca, perto dos seus trinta anos. Posso afiançar que é bela, como a concebo hoje; e que tem uma audácia extraordinária, como se constatará. (...) Não comete o crime de andar sozinha à noite — porque tal comportamento tinha deixado de ser ilegal, para as mulheres, desde quando foi bispo frei Francisco de São Jerônimo. No instante em que a surpreendemos, metida num burel surrado e cinzento dos franciscanos, caminha por entre as covas rasas do cemitério de pretos, que ficava dentro dos limites do convento de Santo Antônio, propriedade daquela ordem, no Largo da Carioca. (...) É uma noite quente da primavera tropical: sexta-feira, 13 de novembro de 1733. O céu está praticamente sem nuvens; e a lua, em Aquário, na casa da Morte, declina sobre o horizonte equívoco do Rio de Janeiro. Além dela, apenas Saturno é visível, muito alto, no ponto do meio-dia." - Capítulo 1 - O crime da Rua do Egito (Pág. 17)

O adultério é considerado pela sociedade da época como uma prova e consequência da culpa eterna da mulher. Alberto Mussa comenta em uma entrevista como, desde a narrativa bíblica, a mulher instiga o homem a cometer o Pecado Original e ainda, em muitas partes do mundo, as mulheres são consideradas responsáveis "pelo afastamento da divindade da comunidade humana, pela origem da morte etc. E são culpadas por serem curiosas, não guardarem segredos, terem desejos sexuais excessivos ou adúlteros. A mulher é, na perspectiva desses mitos, um agente elementar do Mal." Essa questão é uma chave importante no desfecho do romance e propicia uma reflexão interessante sobre a possibilidade dessa visão sobre a mulher ainda prevalecer em algumas sociedades da nossa época.

"Não surpreenderei tantas leitoras se disser que quase dois terços das mulheres presas pela Inquisição, no Brasil, residiam no Rio de Janeiro. (...) O dado é tão mais significativo quando comparado aos números masculinos: só um quarto dos detentos era carioca. A maioria deles (um terço) morava, naturalmente, na populosa cidade da Bahia, então capital. De uma perspectiva meramente estatística, há veemente distorção, para mais na tabela feminina, já que o número de presas, no Rio de Janeiro, é desproporcional ao de habitantes. Para que se tenha uma noção, as baianas não alcançavam um quinto do total de mulheres detidas na colônia. (...) Num romance, análises importam muito pouco. A verdade está no símbolo. E essas cifras históricas definem e sintetizam o espírito do Rio de Janeiro, cidade de mulheres infratoras: cidade de amazonas." - Capítulo 8 - As vergonhas de Páscoa Muniz (Pág. 85)

Se existe algo como uma "literatura carioca" e acredito que sim, porque há algumas obras se identificam com a história e a cultura do Rio de Janeiro, Alberto Mussa é um expoente dessa vertente. Um livro muito bem construído que pode ser considerado tanto um romance histórico quanto policial e, certamente, agradará aos leitores de ambas as categorias. Recomendado não somente para os cariocas, mas também para todos os brasileiros que desejarem conhecer a história do Brasil Colônia setecentista e saber como alguns mitos dessa época formaram a nossa identidade atual como nação.
Márcio_MX 01/09/2018minha estante
Bom saber que existe uma pentalogia.
Li " A Primeira História do Mundo" e adorei.
Ótima resenha!


Alexandre Kovacs / Mundo de K 02/09/2018minha estante
Os cinco livros são independentes e podem ser lidos em qualquer ordem.




Gabalis 17/01/2020

Personagens se acotovelam desesperados na esperança de receber um pouco de atenção e ser foco de um causo.
Cerca de 40 personagens (menos de cinco páginas por personagem) se acotovelam nesse fininho volume pela chance de ter sua história revelada para o leitor. O narrador vai nos empurrando os causos. Uma testemunhou um assassinato, outro foi vítima, um terceiro o assassino. Voltamos alguns dias no tempo pra ficarmos sabendo de uma tal Maria e o que aconteceu numa noite em sua rede com uma outra mulher, Carangueja, que mora com outras duas e pratica necromancia. Sabemos desse episódio pela confissão que ela faz ao frei Zezinho, porém falávamos de um assassinato, falemos um pouco de Leonor que fora a testemunha, mas não sem antes mencionar en passant uma porção de ciganos e a corrida do ouro que desfez algumas famílias e criou algumas questões para quem ficou no Rio, sem esquecer também um ou dois casamentos e de algumas tradições de pureza, mas pulemos disso para falar de Ramiro, casado seis ou sete vezes e as esposas, todas mortas, coitadas, mas isso fica pra depois, falemos de Silvério que acaba de se mudar para a rua e vem muito elegante e todos gostam dele exceto Piolho, este também mora por ali, temos também uma biblioteca com livros raríssimos e alguns secretos, temos na verdade várias bibliotecas, mas do que estávamos falando mesmo? Ah sim, todos esses causos são muito importantes pois lidam com questões fundamentais da condição humana, são causos matéria prima das grandes histórias das mitologias dos povos, exceto que tudo sempre lida com questões fundamentais da condição humana de alguma maneira.

Uma explosão de nomes ocupa cada página e fui tropeçando por cima e por baixo de todo esse povo cheio de problemas e incidentes e segredos da rua do Egito, enquanto eles se acotovelam por todos os lados, o narrador vai me puxando pelo braço sem que eu, leitor, tenha a chance de olhar bem para a cara de nenhum deles, me puxa e sempre sorridente vai me falando de uma porção de coisas, coisas fundamentais da condição humana, coisas da cidade, de fantasmas e mortos e encantados. Tudo sem termos tempo de parar um único segundo. E a coisa começa, anda e termina assim. Uma barafunda de coisas que até que parecem ser bem importantes e que com certeza abordam temas importantes, temas importantíssimos, me garante o narrador. Já eu mesmo tive bem pouca chance de concluir qualquer coisa, o narrador sorri mas sua missão é a de impor. Nunca temos um único momento a sós com nenhuma das situações ou com os personagens, não dá tempo de sentirmos coisa alguma por ninguém, o narrador que já sabe de tudo e já se apossou de todas as coisas, vem arrastando todos os moradores da rua do Egito por coleiras e nos dita aquilo que devemos saber.

O sentimento que fica é daquele quando somos convidados por um colega para um evento onde ele conhece todo mundo e você ninguém. Ele vai te puxando, apresentando todo mundo em grande velocidade, contando as faltas e virtudes de todos os presentes, mas você mesmo nunca tem a chance de falar com nenhum deles. O jeito é acatar o que seu colega está dizendo.

Boas histórias mas há de se ter a paciência necessária para contá-las e deixar que as próprias figuras nos revelem sem tanta pressa o que elas possam significar, se é que significam alguma coisa. Um escritor que vale a pena acompanhar de perto.
Claudio 21/01/2020minha estante
Melhor resenha impossível! Senti o mesmo, atropelado pelo número de personagens.


volnei 28/10/2022minha estante
Perfeito




Poesia na Alma 27/10/2018

Uma teia elementar
A Biblioteca Elementar foi meu primeiro contato com o autor, Alberto Mussa, Grupo Editorial Record, e não será o último. O livro faz parte do Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, série de cinco livros policiais que se passam em séculos distintos e podem ser lidos aleatoriamente.

“Antes de entrar no assunto principal deste capítulo, convém satisfazer a curiosidade de quem lê, particularmente dos que conhecem algo da geografia do Rio de Janeiro e não saberão apontar num mapa a rua que se chama (ou se chamou) do Egito.”

Um romance policial ambientado no século XVIII, no Rio de Janeiro, um crime e uma mulher como testemunha que reconhece o assassino, o assassinado, além disso, um autor que a todo momento dialoga com o leitor. O segredo do livro não é, no entanto, necessariamente o crime, mas o julgamento. A culpa não é do culpado, mas de quem socialmente sempre foi culpada por ser mulher, tornando a obra de certo modo atemporal dentro de um recorte do Rio de Janeiro que não existe mais.

Entre inocentes e culpados, o assassinado da Rua do Egito, povoada por ciganos, desvela uma teia entre os personagens e o momento histórico no Brasil e mundo de 1733. Período de inquisição. Logo no início, o leitor se depara com o crime e algumas figuras clichês do estilo narrativo são dispensadas em detrimento da relação e história dos personagens e da comunidade cigana da rua.

O mistério do título e o labirinto no entorno das pessoas que compõe a obra, faz com que o autor, na introdução, deixe uma pista “Se as mitologias variam, e divergem entre si, condicionadas que são pela cultura e pela história, os problemas míticos, os problemas humanos são essencialmente os mesmos, independentes do tempo e do espaço”


http://www.poesianaalma.com.br/
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@retratodaleitora 10/09/2018

Romance policial que se passa no Rio de Janeiro do século 18? Sim, por favor. A Biblioteca Elementar é o quinto livro do "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro", iniciado com O Trono da Rainha Jinga. Autor premiado e um dos nomes mais proeminentes na nossa literatura atual, Alberto Mussa, escritor carioca, escreveu cinco tramas de mistério que se passam no Rio em cinco séculos diferentes, sendo A Biblioteca Elementar o último deles.

Neste livro somos apresentados ao Largo da Carioca, mais precisamente a Rua do Egito, que tem exatamente 19 casas e poucos habitantes. A quantidade pouca de gente não torna, de forma alguma, a rua menos movimentada. Quando um morador é atingido por uma bala e não resiste ao ferimento, muita podridão vem a tona naquela rua lamacenta.


"Amor, paixão são sentimentos abstratos, muito mais teóricos do que se costuma admitir. Poucos amam, na verdade, livremente; poucos amam além de si mesmos, ou dos limites constrangedores de suas circunstâncias."


Gostei também dos elementos míticos, astrológicos que o autor introduziu aqui; da interferência e influência da religião na vida dos habitantes da Rua do Egito (e no Brasil do século 18 como um todo), a Inquisição e a arte de propagar boatos. E Mussa não economiza nos detalhes, na aula de História, dando tantas voltas na trama que foi impossível adivinhar como aquilo terminaria de fato.

Fiquei bem impressionada ao iniciar a leitura e me deparar com uma narrativa bem intimista, com o autor conversando diretamente com o leitor, seduzindo e desvendando os mistérios que fazem a trama, abordando os muitos personagens com destreza e sagacidade. Demorei um pouquinho a acostumar, mas acabei gostando.


"Devo insistir num ponto: se as mitologias variam, e divergem entre si, condicionadas que são pela cultura e pela história, os problemas míticos, os problemas humanos são essencialmente os mesmos, independentes do tempo e do espaço."


Ciganos, índios e a Igreja de olho em tudo. A Biblioteca Elementar é um livro cheio de detalhes, é inteligente e inovador. Se você gosta do gênero policial e está atrás de uma narrativa diferente, envolvente e mitológica, recomendo a leitura desse aqui. Foi o meu primeiro contato com a escrita do Alberto Mussa (mais uma vez começando pelo final), mas já quero conhecer outras obras do autor.

P.s: Os livros são independentes e podem ser lidos fora de ordem :)

site: https://umaleitoravoraz.blogspot.com/2018/09/resenha-biblioteca-elementar-de-alberto.html#more
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Cheiro de Livro 19/09/2018

A Biblioteca Elementar
Alberto Mussa é desses autores que descobri meio por acaso e por quem me apaixonei imediatamente. “A Biblioteca Elementar” é o último livro do Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, série de cinco livros policiais cada um passado em um século e eles podem ser lidos em qualquer ordem. Aqui vemos um assassinato na Rua do Egito onde vivem, majoritariamente, ciganos.

Toda a história se passa no que hoje é o em torno do Largo da Carioca. Começamos com uma mulher disfarçada de frade franciscano testemunhando um assassinato onde ela reconhece o assassino, o assassinado e o motivo. Pode parecer estranho que logo no primeiro capítulo já se saiba tanto sobre um crime que norteará o livro, mas isso não é importante. Nas tramas de Mussa o crime funciona para abrir as portas do mítico que construiu o Rio de Janeiro, para falar de sua gente e da cidade.

Um dos elementos que mais de seduz na narrativa de Mussa é a forma com que ele conversa com o leitor e vai guiando a história como se ela fosse um conversa, algo contado oralmente e não gravada em páginas. Como em todos os livros desse compêndio o as lendas, o mítico, as crenças são fatores primordiais para entender e desvendar o crime. O assassinato ocorre no século 18, é verdade, mas há uma atualidade no desenrolar dos fatos, são as mulheres que conduzem a história e são elas as perseguidas pelo Santo Ofício que é quem julga o crime. Os homens, de alguma forma, conseguem se safar, mesmo sendo culpados, enquanto as mulheres são julgadas e condenadas mesmo sendo inocentes. Há coisas que continuam imutáveis mesmo depois de séculos, infelizmente.

Mussa merece ser lido sempre. Aproveite que não há ordem de leitura no Compêndio Mítico do Rio de Janeiro e pegue “A Biblioteca Elementar” e descubra e mergulhe na ótima obra de Alberto Mussa.

site: http://cheirodelivro.com/a-biblioteca-elementar/
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Mariana Dal Chico 16/10/2018

“A biblioteca Elementar” de Alberto Mussa fecha o Compêndio mítico do Rio de Janeiro, composto por 5 livros, todos de leituras independentes.

Esse foi meu primeiro contato com o autor, fiquei surpresa com sua narrativa envolvente, intimista, que conversa diretamente com o leitor.

O fio condutor da trama é um crime, ocorrido na calada da noite e testemunhado por uma mulher que não pode revelar sua presença por também estar praticando um ato criminoso.

O leitor é transportado para Rua Egito, conhece um pouco sobre o passado dos moradores e qual envolvimento com o assassinato. A história do Rio de Janeiro é relatada de forma leve, inserida aos poucos com fatos importantes para o desenvolvimento do enredo, trazendo para o leitor uma ambientação precisa e singular.

O autor mostra para o leitor como as vidas desses personagens estão entrelaçadas, insere elementos místicos e astrológicos relacionados aos ciganos e índios, fala sobre a inquisição e política, sobre a arte da sedução e como boatos pode definir o destino de alguns.

O livro é muito bem construído, recomendo para quem gosta de romance policial, com uma narrativa que foge ao tradicional do gênero, que tem uma pegada histórica e mística.

Instagram @maridalchico

site: https://www.instagram.com/p/Bn1TMynnZwC/
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Fernanda.Dalavale 16/03/2019

Sensacional!
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Leila de Carvalho e Gonçalves 09/06/2019

Último Da Série
Para o escritor Alberto Mussa, o que define uma cidade é a história de seus crimes. Esta ideia norteia o Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, uma pentalogia iniciada em 1999 com ?O Trono da Rainha Jinga? e que só foi concluída nove anos depois com ?A Biblioteca Elementar?.

Em cada um de seus volumes, o escritor aborda um século diferente da história do Rio de Janeiro a partir de um crime cuja investigação pretende esmiuçar os mitos de formação da sociedade carioca e por conseguinte da sociedade brasileira, sendo que muitas das características presentes no passado ainda permanecem nos dias hoje.

O século XVIII ficou para o final e a maior parte da ação do respectivo romance ocorre na Rua do Egito, atual Rua da Carioca, cujos moradores em sua maioria são ciganos, uma ralé envolvida com ferraria, comércio de cavalos, cartomancia e até contrabando.

Aliás, são essas pessoas que acordam numa noite de 1733 com o disparo de um projétil. Um crime acabara de ocorrer e a vítima caída no meio da rua logo é identificada, pois não se trata de um desconhecido. O leitor não só acompanha com detalhes da cena, como também está a par do entrevero que a antecedeu, inclusive, sabe quem matou e que havia uma testemunha oculta pela escuridão que tem motivos para não revelar o que viu.

Em suma, ?A Biblioteca? não se enquadra no modelo de um clássico romance policial. Seu mistério é a motivação de um crime que não é investigado por um detetive, mas paulatinamente apresentado pelo narrador que, ousado, dirige-se constantemente ao leitor, interrompendo a narrativa para relatar costumes e curiosidades, dando um tempero especial a uma história sem protagonistas, heróis, mocinhas ou vilões.

Concomitantemente, são inúmeras as traições, atividades ilegais, boatos, intrigas e difamações que se desdobram pela narrativa e como Mussa afirma no prólogo: ?Dentre todos os crimes que perpassam o livro, apenas um é relevante; apenas um resume e simboliza ?A Biblioteca Elementar?. Contraditoriamente, esse crime é o único que não acontece.?

Ele ainda afirma que seu intuito foi ?pressupor uma causa primitiva, ou um agente elementar, do Mal?. Numa entrevista para à Editora Record, o escritor esclarece melhor este aspecto: ?Seja por cor, sexo ou origem, todos os personagens, na trama do romance, começam em desvantagem e sofrem diariamente maledicências ou agressões, tem seus direitos tomados simplesmente por não se encaixarem nas ideias da Inquisição sobre o que faz de um cidadão uma pessoa dita de Bem.? Todavia, são as mulheres que mais sofrem com esta ideia, já que estão relacionadas ao Mal desde o início dos tempos pois, conforme o mito da criação abraâmica, foi Eva que almadiçoou a humanidade, ao ceder à lábia da serpente.

Enfim, o Compêndio Mítico do Rio de Janeiro pode ser lido na ordem que melhor lhe convier, pois as historias são independentes e essa leitura é uma boa forma para entender porque Alberto Mussa está inserido entre os maiores escritores brasileiros em atividade.

Entretanto, antes de concluir, gostaria de sugerir um modo para não se atrapalhar como grande número de personagens, boa parte aparentados, de ?A Biblioteca Elementar?. Faça árvores genealógicas das famílias da Rua Egito de maior relevância, conforme vai recolhendo informações no texto.

Nota:Optei pelo e-book e recomendo.
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Sil 02/07/2019

Indico.
Olá,
Tudo bem com vocês? Eu aqui novamente atacando com resenha de livro brasileiro! E nem posso reclamar, ando com sorte nesse tipo de leitura.
Esse é um livro no mínimo bem estranho, mas com certeza muito bom. É o quinto e último volume da quintologia chamada “Compêndio mítico do Rio de Janeiro”, onde o autor Alberto Mussa aborda temas clássicos da literatura e os ambienta em cinco diferentes séculos da história do Rio de Janeiro.
Certa noite, em uma rua do Rio de Janeiro do ano de 1.700, um homem saca uma pistola e entra em combate com outro homem. Ouve-se um tiro. O que sacou a pistola está morto. Existe uma testemunha, uma mulher. Esta, porém não pode testemunhar, pois não deveria estar saindo do cemitério àquela hora, carregando um pacote nas mãos.
Assim começa o livro, e então parece que você está sentado em uma mesa de bar conversando com o autor sobre essa história, no mínimo peculiar. Ele nos apresenta então, os moradores da rua do Egito, batizada assim por ter sido essencialmente fundada por ciganos egípcios.
O mais engraçado é que você consegue imaginar inicialmente quem é o tal assassino, pois o foco não é descobrir quem matou, mas sim por que matou. Afinal, como o próprio autor destaca no livro: “Não é a geografia, não é a arquitetura, não são os heróis nem as batalhas, muito menos a crônica de costumes ou as imagens criadas pela fantasia dos poetas: o que define uma cidade é a história dos seus crimes”; a história dos envolvidos, o motivo de cada ação e decisão tomada, que culmina no ato final da morte de alguém.
Não vou falar de cada personagem, pois são cerca de vinte casas existentes na Rua do Egito na época do assassinato, e todas elas estavam habitadas, sendo assim, seria muita gente para citar e dar o seu devido valor nesta resenha. Ao invés de citar nomes, vamos falar de personalidades e situações.
Como já falei na resenha de Carta à rainha louca (inserir link da resenha), o Brasil de 1.700 era um tanto quanto bizarro. Fazer sexo anal, por exemplo, era considerado crime, conhecido como Pecado Nefando (lembrando que a igreja comandava a vida das pessoas naquela época). E neste livro, temos um pessoal que adora esse tipo de pecado!
Existia uma certa família que não gostava muito de seguir algumas regras, e com isso muitas coisas perigosas aconteciam na Rua do Egito. Coisas essas que nem sempre eram resolvidas, no geral eram acobertadas, ou acabavam esquecidas. Pode-se dizer que algumas pessoas faziam sua própria lei, de acordo com sua vontade.
Saber ler era um privilégio para poucos, ter uma biblioteca então era coisa só para pessoas muito especiais, e existem bibliotecas que são conquistadas ou adquiridas de formas muito incomuns.
No Brasil de 1.700, mais especificamente na Rua do Egito (hoje conhecido como Largo da Carioca), existiam três cegos que possuíam o dom de criar rimas ou poemas que falavam da vida alheia. Você poderia por exemplo, pagá-los para criar um poema ou uma rima e assim mandar um recado anônimo para alguma pessoa. Os assuntos abordados poderiam ser de conhecimento geral, ou poderia ser algum segredo obscuro. Este poema obviamente era lido em voz alta, assim todos ficavam sabendo de algo que você fez. Para evitar que o poema fosse lido, você poderia pagar uma quantia aos cegos, assim sua vida continuava privada. Isso se ninguém resolvesse entrar na disputa e pagar mais para ter o direito sobre o poema.
Ainda hoje as pessoas possuem crenças e costumes que podem parecer muito estranhos aos olhos de outros. No nosso Brasil de 1.700 não era diferente. As pessoas eram muito supersticiosas e faziam coisas estranhas e muitas vezes até proibidas. E tem gente nessa história de gosta de mexer com algumas coisas estranhas.
Dado o rumo da história, podemos ver que apesar de séculos terem passado, o ser humano continua cometendo erros muito parecidos, batendo nas mesmas teclas, se lamentando pelas mesmas coisas, e resolvendo os mesmos problemas que tornarão a surgir tempos depois. E então preciso citar uma frase do autor na introdução do livro: “Se as mitologias variam, e divergem entre si, condicionadas que são pela cultura e pela história, os problemas míticos, os problemas humanos são essencialmente os mesmos, independentes do tempo e do espaço”. E isso nos leva a uma pergunta: somos assim tão evoluídos como costumamos dizer? “Os tempos mudaram”, “as coisas são diferentes agora do que na minha época”... muitas coisas mudaram sim, de fato, mas no geral são coisas materiais e as pessoas se comportam mais livremente. Mas me desculpem, o cerne do ser humano para mim continua parecendo o mesmo. Somos todos seres com as mesmas questões existenciais sem explicação, habitando esse mundo e ajudando a melhorar ou piorar ele, dependendo do ponto de vista.
Indico a leitura com certeza!
Abraços.


site: www.revelandosentimentos.com.br
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Joao.Marcelo 14/10/2019

Aprecio a obra de Alberto Mussa mais pelo relato histórico popular do Rio de Janeiro, do que pelo enredo policial ou os aspectos místicos da trama.
Com este fecho o "Compêndio Mítico do RJ", uma série de 5 romances.
"Bibliotecas são como miragens no deserto: quem conduz a elas seu destino ... não encontra meio de matar a sede. E aquele homem que nunca mencionou um livro, que sequer conversa sobre eles - não podia ter visto a miragem."
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Tatiana.Junger 13/05/2021

Mistério e magia no Rio antigo
Um dos livros que compõem a quintologia do autor “Compêndio Mítico do Rio de Janeiro”.

Como não tenho hábito de ler policiais, entrei em espaço pouco explorado com essa leitura - e tive boa surpresa. A narrativa ágil, de frases curtas, claras e objetivas, com poucos floreios, ajuda à experiência ser imersiva.
A progressão da história, no que diz respeito ao processo de “entrega” das informações ao leitor, é instigante porque pendula entre o núcleo principal, onde o crime aconteceu (região da Carioca no centro do Rio), e um núcleo acessório, a princípio nebuloso como um mito, depois esclarecido com a revelação da relevância de um cenário para o outro.

A despeito da divertida história policial, para mim o ponto alto do livro foi a ilustração do Rio com a utilização do panteão cultural carioca.
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@darlanjs 22/03/2024

A Rua do Egito é ali.
Um Rio de Janeiro místico e brutalmente real esse ambientado no século XVI de Alberto Mussa. A Biblioteca Elementar, em um livro rápido e complexo, fecha muito bem o ciclo do "Compêndio mítico do Rio de Janeiro".
Lembrando que não existe uma sequência de leitura dos 05 livros, mas um entendimento do que é a cidade do Rio de Janeiro, muito além das mídias.
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